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Onde estão os jacarés do Rio Araguaia?

Depois de 15 dias de férias, voltei hoje ao trabalho. Nos meus dias de folga…

Polícia investiga extinção de afluentes do rio Araguaia; 20 córregos podem ter secado
Extinção de afluentes do rio Araguaia virou objeto de investigação da Polícia Civil (Foto: Reprodução)

Depois de 15 dias de férias, voltei hoje ao trabalho. Nos meus dias de folga remunerada, dei um rolê pesado por Goiás. Rodei uns mil e quinhentos quilômetros dentro de nosso estado. Uns dias em Alto Paraíso, uns dias na fazenda nas imediações de Uruaçu, uns dias em Cocalinho no Rio Araguaia. Nesse ínterim, além de curtir o justo ócio, pintou vontade e publiquei um texto aqui no Mais Goiás sobre a Chapada dos Veadeiros que, se você é um cara esperto e eu sei que é, já leu. Mas hoje quero falar do que vi na última parada, na cidade mato-grossense banhada pelo rio amado pelos goianos. E o que vi é preocupante.

Ludgero Vieira, meu querido primo, professor de Ecologia da UnB e um dos maiores especialistas em Rio Araguaia do Brasil, foi quem me recebeu em sua casa e nos ofertou estadia. Com ele, rodei quilômetros e quilômetros no curso d’água. Visitamos lagoas que são alimentadas pelo rio, navegamos longe tanto a jusante como a montante de Cocalinho. O visual é impactante. O gigantismo do rio inebria o olhar. Mas quando observamos no detalhe, a coisa não é nada bonita.

A vazão do rio diminui de forma brutal ano após ano. O uso irresponsável das águas aliado à diminuição drástica do regime de chuvas faz Araguaia sofrer. Isso tem consequências na fauna. Os peixes estão diminuindo. Qualquer pescador sabe disso. Não se encontra mais a fartura de outrora. Além disso, o tamanho dos peixes também é cada vez menor.

A caça e pesca criminosa têm protagonismo na decadência do rio. Em todos esses quilômetros que circulamos pelo seu curso, não avistamos um único jacaré. Anos atrás, era mais que comum vê-los estendidos nas areias brancas ou com as cabeças de fora no nível da água. Agora não mais. Também não observamos nenhum mamífero. Da fauna, vimos poucos tracajás, aves, um boto aqui e outro acolá. E só.

Ainda é possível salvar o Araguaia, quero crer. Mas para isso é preciso ação. Lei para tanto já temos. O que falta é a presença do Estado. Com fiscalização, multa e punição para quem não faz o certo. Isso não é novidade para ninguém. O problema está em fazer aquilo que é mais que sabido.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução