Cidades

Quem nunca lanchou na J Pereira não conhece Goiânia

“Tô com uma vontade comer um pão de queijo da J Pereira…”. Quem nunca acordou…

Pão de queijo da J Pereira - Reprodução/Instagram
Pão de queijo da J Pereira - Reprodução/Instagram

“Tô com uma vontade comer um pão de queijo da J Pereira…”. Quem nunca acordou com esse pensamento martelando a cabeça não é goianiense. Ou não viveu a cidade com a intensidade que ela proporciona. O que não é menos lamentável.

Lanches J Pereira ou Biscoitos J Pereira. Diferença geracional que não interfere em nada no resultado: estamos falando do pão de queijo mais famoso da cidade.

No início do século, trabalhei alguns anos no jornal Diário da Manhã. A redação discutia qual deveria ser a origem do lanche (ah, os lanches do DM eram algo digno de uma crônica só para eles…) servido nas tardes de trabalho. Batista Custódio, lendário editor e fundador do jornal, fez uma eleição. Ganhou o J Pereira.

Antes disso, nos anos 1990, fiz meu ensino médio na Escola Técnica Federal de Goiás. Passava diariamente pela Rua 55 para ir e voltar das aulas. Adolescente quebrado, duas palavras que nasceram uma para outra, contava as moedas para tudo que precisava gastar. Mas sempre sobravam alguns reaizinhos para um lanche na J Pereira. Várias vezes fui servido pelo José Carlos Pereira que pegava no batente da lanchonete de verdade. Servindo a clientela no balcão, recebendo e dando troco no caixa, recolhendo a louça suja.

Sempre fui conservador. No J Pereira, pedia toda vez um pão de queijo com café. Aos poucos, tentei ousar outros sabores. Um biscoito de queijo, uma rosquinha molhada, uma esfiha, um suco de laranja… Tudo era gostoso, por óbvio. Mas sempre me arrependia. O J Pereira tinha uma dupla imbatível. Tal qual Romário e Bebeto, Antônio Carlos e Jocafi, Beavis e Butt-Head… Nada se compara à dupla dinâmica pão de queijo com café.

A J Pereira cresceu. Abriu filiais, virou rede, abandonou o J e virou só Biscoitos Pereira. Perdeu magia? Sim, é claro. Quem não perde quando parte para a produção em série? Mas dá um quentinho no peito saber que sempre teremos a loja da 55 pra salvar o sentimento nostálgico.

Nesse 12 de agosto de 2022, Goiânia amanheceu esquisita. Friorenta e triste. A baixa temperatura da cidade combina com a dor da perda de José Carlos Pereira aos 96 anos de idade. Esse mineiro que adotou Goiânia como casa viverá para sempre no coração de todo goianiense que já teve a sorte de matar a fome com um pão de queijo com café em sua lanchonete.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução – Instagram