ESTADOS UNIDOS

Trump se recusa a participar de debate virtual com Biden

Minutos após a Comissão para Debates Presidenciais anunciar que o segundo debate entre Donald Trump…

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai ser hospitalizado. Após testar positivo para covid-19 (Foto: Ken Cedeno/Reuters)
Presidente e candidato à reeleição Donald Trump (Foto: Ken Cedeno/Reuters)

Minutos após a Comissão para Debates Presidenciais anunciar que o segundo debate entre Donald Trump e Joe Biden seria realizado remotamente, o presidente dos Estados Unidos disse que não irá “perder seu tempo” com um enfrentamento por vídeo e sua campanha anunciou que fará um comício no lugar. A mudança de formato havia sido anunciada justamente para “proteger a saúde e a segurança de todos os envolvidos” após o surto de coronavírus que infectou não só o presidente, mas também ao menos 34 pessoas que trabalham na Casa Branca e seus contatos.

— Eu não vou perder meu tempo com um debate virtual — disse Trump ao canal Fox Business, acusando a comissão de “tentar proteger Biden”. — Os debates não são isso, sentar em frente a um computador e debater é ridículo. E eles ainda podem te cortar quando bem entenderem.

Em sua primeira entrevista desde que teve alta do hospital, na segunda, Trump deixou evidente sua avidez para retomar os eventos presenciais, apesar de ter sido diagnosticado há apenas uma semana. Ao chamar Kamala Harris, candidata à vice de Biden, de “monstra” e  criticar integrantes de seu próprio governo, o presidente fez o possível para desviar o foco da crise sanitária que já matou mais de 212 mil americanos:

— Eu estou de volta porque sou um espécime físico perfeito e sou extremamente jovem — disse Trump, que tem 74 anos e está obeso. — Acho que eu não estou nem um pouco contagioso — completou, com a voz ainda rouca.

Em um comunicado nesta manhã, a Comissão para Debates Presidenciais havia anunciado que ambos candidatos entrariam ao vivo por vídeo, assim como os eleitores indecisos que teriam a oportunidade de fazer perguntas. Apenas o moderador estaria presente em Miami. A mudança foi divulgada horas depois do debate entre os candidatos à vice, onde foram tomadas uma série de precauções adicionais para evitar possíveis contágios, como divisórias de acrílico e uma distância maior entre os pódios.

Comentando a decisão, os democratas disseram que Biden estaria disposto a participar de um debate remoto e que, frente à objeção de Trump, “irá encontrar um lugar apropriado para responder perguntas de eleitores”. A campanha sugeriu ainda que o debate fosse adiado por uma semana, para o dia 22 de outubro.

Decisão patética

O chefe da campanha de Trump, Bill Stepien, se mostrou aberto à ideia, defendendo que o terceiro debate, que deveria ocorrer em 22 de outubro, seja transferido para o dia 29. Horas antes, Stepien havia soltado uma nota crítica ao “patético” debate virtual, anunciando que os republicanos farão um comício para coincidir com o evento.

“O presidente ganhou o primeiro debate”, disse Stepien, referindo-se ao caótico enfrentamento no qual Trump interrompeu praticamente todas as falas de seu adversário. “É patético que as criaturas pantanosas da Comissão para Debates Presidenciais agora corram para a defesa de Joe Biden e cancelem unilateralmente o debate presencial.”

Em sua entrevista à Fox News, Trump foi igualmente agressivo para falar sobre Harris que, segundo pesquisas instantâneas, se saiu melhor que o vice-presidente Mike Pence no embate de quarta-feira. Trump chamou a senadora californiana — a primeira mulher negra e com ascendência asiática a fazer parte de uma chapa presidencial — de “monstra” em duas ocasiões e fez ataques macarthistas:

— Ela é comunista. Ela não é socialista, ela está muito além de socialista — afirmou. — Ela abrirá as fronteiras para permitir a entrada de assassinos e estupradores para lotar este país.

Líder da força-tarefa da Casa Branca para o combate ao vírus, Pence defendeu posições iguais às do chefe durante o debate, apesar de adotar uma postura mais civilizada e cordial. Sua performance, visando acalmar eleitores conservadores assustados com a agressividade de Trump, esbarra, porém, na negligência do governo e do próprio presidente em relação à pandemia.

34 contaminado

Ao menos “34 funcionários da Casa Branca e outros contatos” já testaram positivo para a Covid-19 nos últimos dias, segundo um memorando interno da Agência para a Administração de Emergências Federais obtido pelo canal ABC News. Entre eles, há ao menos 18 pessoas próximas ao presidente e à primeira-dama, Melania, como a ex-assessora Kellyanne Conway e a secretária de Imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany.

A maior parte dos infectados esteve presente durante na cerimônia para formalizar a indicação da juíza Amy Coney Barrett à Suprema Corte, no último sábado. O presidente, no entanto, sugeriu que foi contaminado no dia seguinte, durante uma cerimônia para famílias de militares na Casa Branca.:

— Eles querem me abraçar e me beijar — disse. — E eles fazem isso. E, francamente, não estou dizendo para que recuem.

Trump aproveitou ainda a entrevista para fazer críticas a integrantes da alta cúpula de seu governo: disse “não estar feliz” com seu secretário de Estado, Mike Pompeo, por não encontrar e divulgar os emails de sua adversária nas eleições de 2016, Hillary Clinton, que usou um servidor privado enquanto era secretária de Estado. Outro alvo foi o diretor do FBI, Christopher Wray, que está na mira presidencial há semanas por contrariar as alegações sem fundamento da Casa Branca de que há fraudes no voto pelo correio.

Os comentários mais duros, no entanto, foram direcionados ao secretário de Justiça, William Barr, que será visto pela História como um “caso muito triste” se não fizer nada sobre seus adversários políticos no âmbito da investigação conduzida pelo Departamento de Justiça sobre as alegações de interferência russa na eleição de 2016:

— Ele tem toda a informação que precisa (…). Eu disse que não iria, mas vou precisar me envolver — ameaçou o presidente, pondo em xeque a separação dos três poderes.