É preciso aproveitarmos essas oportunidades para sermos humanos, deixar de lado só por algumas horas a necessidade matemática de sermos eficientes para por alguns instantes vibramos por algo que não faça tanto sentido mas que pode ser absolutamente sentido por todos.

O que o meu avô e a copa do mundo me ensinaram!?

Meu avô amava futebol, era um torcedor engajado. Foi um homem tranquilo e que viveu…

Meu avô amava futebol, era um torcedor engajado. Foi um homem tranquilo e que viveu no interior de Pernambuco em uma realidade distante do palcos do futebol e talvez ai que esteja a mágica desse esporte que no Brasil, faz com que por algumas horas ou dias, as pessoas parem e se reúnam para assistir a um jogo quem nem sempre é tão familiar a todos.

Os que entendem e os que não entendem na mesma sala, os que se importam e os que não se importam também, os que querem a vitória a qualquer custo e aqueles que até torcem pra que a seleção não vença “só de pirraça”, todos lá no mesmo espaço dividindo minutos de ansiedade, gritos e alguns palavrões.

As justificativas pra não se importar são muitas, o setor produtivo para, estamos em crise, é um prejuízo e por outro lado existem também os setores que são movimentados por esse momento, camisas a venda, bares enfeitados, a TV nova adquirida para ver os jogos e por ai vai…

Acima das justificativas racionais, estão aquelas que só podem ser sentidas. As semanas pesadas de trabalho que seguem o curso inevitável de no mínimo cinco dias seguidos de trabalho são interrompidas por intervalos para os jogos e isso traz um sentimento diferente para os dias que amanhecem mais coloridos tanto pelo verde e amarelo, quanto pelas inúmeras cores dos mais variados países que participam da copa do mundo. O colorido vem também de um novo mundo que se abre ao passarmos a ter em nossa rotina, ainda que por um período curto, a presença de um país tão diferente do nosso, como a Rússia.

E ai retorno ao meu avô que infelizmente nos deixou depois de anos de luta contra uma doença degenerativa que aos poucos foi levando seus movimentos e a capacidade de interação com o mundo. No início da copa um aplicativo do celular me trouxe a memória de uma foto em que há quatro anos, quando o Sr. Antônio já não estava conseguindo mais ficar de pé sozinho, os amigos e familiares o colocaram de pé e lhe deram apoio pra uma foto em que ele estava com uma camisa verde e amarela. A foto foi compartilhada e a família toda ficou feliz por aquele momento. Naquela copa torcemos a cada jogo para que o Brasil ganhasse pois isso daria alegria ao Sr. Antônio, meu avô. Eu devo essa lembrança a Copa do Mundo. Isso não tem preço.

Confesso que não estava muito animada com os jogos que viriam mas depois daquela lembrança meu sentimento mudou e relembrei de todos os momentos que essas oportunidades de comemoração coletiva deixaram em minha vida, desde a infância até a última copa em que meu avô ainda estava presente e torcendo.

É preciso aproveitarmos essas oportunidades para sermos humanos, deixar de lado só por algumas horas a necessidade matemática de sermos eficientes para por alguns instantes vibramos por algo que não faça tanto sentido mas que pode ser absolutamente sentido por todos.

A seleção de futebol ganhando ou não os problemas do Brasil não serão resolvidos, já que isso depende muito mais do que fazemos em todos os demais dias em que não acontecem jogos da copa do mundo de futebol e por isso hoje é dia de torcer, como o meu avô faria e me sentir mais junto dele e mais junto daqueles que gostamos e que ainda podemos disfrutar da companhia. Por isso digo obrigada Avô, obrigada copa.