Sexualidade saudável

Sexólogo revela por que o prazer anda tão difícil

Entre frustrações, pornografia e tabus, Rodrigo Mansil mostra por que o sexo é muito mais emocional do que físico

“Onde o sexo dói em você?” Essa é uma das perguntas que o sexólogo Rodrigo Mansil escuta com mais frequência e também a que mais faz em seus atendimentos. A partir dela, ele mergulha nos abismos da sexualidade de quem o procura: dores emocionais, traumas de infância, relações frustrantes, repressões religiosas, expectativas sociais. Tudo isso está ali, entre os lençóis, bem antes do toque.

Rodrigo é psicólogo e acredita que o sexo é menos sobre técnica e mais sobre afeto, saúde mental, corpo presente e alma desarmada. Neste Dia do Sexo, convidamos os leitores da coluna Descomplicando a ir além das risadinhas nervosas e da imaginação fértil, para mergulhar em algumas reflexões sobre sua sexualidade.

LEIA TAMBÉM:

Dia do Sexo: da vergonha à liberdade

“Sexo sem presença, sem afeto, sem troca verdadeira vira mais uma performance que adoece. Muita gente me procura querendo aprender como dar mais prazer ao outro, mas sequer se pergunta se sente prazer de verdade”, pondera Mansil. 

Sexólogo Rodrigo Mansil ajuda homens e mulheres a entenderem que a saúde sexual por meio do autoconhecimento e a psicoterapia. (Foto: Arquivo Pessoal)

O corpo como espelho da mente

Segundo Rodrigo, o sexo funciona como um espelho emocional, refletindo muito mais do que o desejo físico. “Quando uma pessoa entra numa relação sexual, ela leva consigo medos, fantasmas, frustrações. A disfunção erétil ou a ausência de orgasmo muitas vezes não são problemas do corpo, mas da psique”, explica.

Ele defende que a sexualidade é um terreno de descobertas — e muitas vezes, de enfrentamentos. A masturbação, por exemplo, ganha um papel fundamental nesse processo de autoconhecimento e autonomia. “A mulher que se masturba não é menos feminina, é mais livre. O homem que entende seus limites também se torna mais íntegro”, afirma, desafiando padrões ainda carregados de culpa e repressão.

Pornografia, desempenho e ilusão

A influência da pornografia no comportamento sexual é outro ponto de alerta. Para o sexólogo, o conteúdo pornográfico cria uma ideia de sexo mecânico, rápido, visualmente perfeito e centrado no prazer masculino. “Isso afasta a gente da realidade do toque, do cheiro, da conexão.”

Ele observa que, além de moldar expectativas irreais, a pornografia pode contribuir para uma desconexão emocional e corporal significativa. “Quando o parâmetro de intimidade é o filme, a pessoa passa a exigir de si e do outro uma performance impossível. Isso compromete a entrega, o afeto, o desejo real.”

Rodrigo também aponta o risco da compulsão sexual alimentada por pornografia. “É um vício químico e emocional. A pessoa usa o sexo ou a masturbação como válvula de escape, mas aquilo que alivia também aprisiona.” Segundo ele, a solução não está na repressão, mas na consciência: “Consumir menos e refletir mais sobre o porquê daquele consumo é um primeiro passo”.

Amor, vínculos e o que (não) aprendemos

Rodrigo é crítico da educação sexual limitada ao risco — gravidez, ISTs — e defende um aprendizado que inclua prazer, afeto, limite e empatia. “A pornografia tem ocupado esse espaço que deveria ser da escola e da família, mas sem qualquer filtro. Isso gera adultos ansiosos, inseguros e frustrados”, analisa. Para ele, quando a educação ignora o prazer e foca apenas no medo, perpetua a vergonha e a desinformação, especialmente entre adolescentes.

Ele explica que o sexo, hoje, é atravessado por múltiplas pressões: redes sociais, aplicativos, padrões estéticos, cultura da performance e histórias pessoais não resolvidas. “Muitos homens chegam no consultório porque não conseguem manter uma ereção. Mas o que dói mesmo é não se sentirem homens quando isso acontece.” Segundo Rodrigo, o sofrimento não está só no corpo que falha, mas na identidade que se sente ameaçada.

Outro ponto que ele considera urgente é rever quem tem direito ao prazer. Pessoas idosas, com deficiência, neurodivergentes ou que vivem fora do padrão heteronormativo continuam sendo ignoradas nos discursos sobre sexualidade. “São corpos esquecidos, mas com desejo pulsando. Precisamos falar também sobre o direito dessas pessoas ao toque, ao carinho, à excitação.” Rodrigo reforça que o prazer é um direito humano e deve ser tratado com a mesma seriedade que se trata a saúde física ou mental.

Prazer é processo, não produto

Rodrigo finaliza com uma frase que serve como mantra para quem deseja uma vida sexual mais saudável: “O prazer não é um fim, é um caminho. É preciso coragem para se despir de si mesmo antes de tirar a roupa na frente do outro.”

Participe da coluna Descomplicando! Envie sua sugestão de pauta para descomplicando@maisgoias.com.br

LEIA MAIS

Os fetiches ligados à rotina mais procurados em sites adultos

Veja com que tipo de homem as mulheres relatam sentir mais prazer sexual, segundo pesquisa