Cidades

Vizinhos tretando foram a atração do bairro

Vizinhos discutiam por conta de latidos de cachorro enquanto o restante do bairro acompanhava a confusão que rolava na calçada

Vizinhos em conflito é mais antigo que andar pra frente, sei disso. Imagino que as tretas entre pessoas que moram lado a lado devem ter começado ainda quando estávamos em cima das árvores, tendo galhos como endereço.

– Ei, essa ramagem do seu galho está impedindo minha vista, pode cortá-la.

– Corto coisa nenhuma e você encostar no meu galho, quebro o seu.

E assim nossos ancestrais peludos deram início à mais longeva instituição humana: a treta entre vizinhos. 

A vida se divide entre pessoas que a gente escolhe conviver e as outras não, mas mesmo assim somos obrigados. Os vizinhos são da segunda categoria. Se até mesmo entre os eleitos, relacionamentos de amizade ou amorosos, tretas rolam com frequência, a coisa só piora na convivência que se inicia por uma travessura do acaso.

Deus brinca de jogar nossos destinos para o alto e ver onde cairemos para enfiar as raízes domiciliares. José caiu na Rua das Abóboras, Quadra 12, Lote 9. Marta caiu na Rua das Abóboras, Quadra 12, Lote 10. Qual a razão? Não há, só acontece.

Morar lado a lado, divididos por um muro ou uma parede, é um exercício de fé no ser humano. Aguentar os ruídos gerados, odores que emanam e encontros mais que frequentes é coisa pra quem tem esperança em algo transcendental. 

Semana passada, estava fazendo minha caminhada pelo bairro quando vi ao longe uma confusão. Eu poderia ter virado a esquina e jamais saberia o que estava rolando. Mas segui meu trajeto e muitos metros de distância do rolo já ouvi os gritos. Um senhor reclamava gritos dos latidos do cachorro do vizinho, o dono do animal respondia em tom mais sereno que nada podia fazer com o bicho. Enquanto isso, a rua estava cheia de outros vizinhos urubuzando a treta. Gente nas janelas, calçadas e somente uma terceira vizinha tentando acalmar os ânimos.

– Calma, gente. Vamos entrar e conversar sobre isso lá em casa. Calma, gente…

Uma santa, não tenho dúvidas. O céu tem um camarote reservado para quem se dispõe a pacificar treta de vizinhos.

Parecia que era algo recorrente, já que não aparentava tensão no ar. Até acho que o senhor exaltado era daquele tipo que reclama de tudo e, de tanto que se lamuria, ninguém dá muita ideia.Não sei. 

O que sei é o que o bairro estava tendo um entretenimento gratuito ali na rua, para todos se distraírem por um tempinho. De graça até injeção na testa, desde que não seja botox que aí já custa uma fortuna, não é o que dizem? As pessoas ali tinham seu show totalmente 0800.

E, pra terminar, deixo um pedido de desculpas aos meus vizinhos de hoje e do passado: foi mal por tudo. Não é moleza ser meu vizinho, sei disso. Sorry.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução