Investigação

Abin tentou ligar Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes ao PCC, afirma PF

Investigação contra Abin também mostra monitoramento dos então deputados Rodrigo Maia e Joice Hasselmann

(Folhapress) A Polícia Federal investiga se a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) utilizou o software espião FirstMile e produziu relatórios sobre ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e políticos adversários do ex-presidente da República.

Em um dos casos, segundo a PF, a chamada “Abin Paralela” criada na gestão de Alexandre Ramagem tentou atrelar os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes à facção criminosa PCC.

Ramagem é um dos alvos da operação Vigilância Aproximada, deflagrada pela PF nesta quinta (25) sob autorização de Moraes e que investiga uma “organização criminosa que se instalou na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial”.

Segundo a PF, as informações sobre a tentativa de ligar os ministros ao PCC foram encontradas em documentos apreendidos na Abin.

“O arquivo Prévia Nini.docx mostra a distorção, para fins políticos, da providência, indicando a pretensão última de relacionar a advogada Nicole Fabre e os Ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC, alimentando a difusão de fake news contra os magistrados da Suprema Corte”, disse a PGR sobre os documentos achados pela PF.

A PF afirma que a Abin sob Ramagem também se valeu do software FirstMile para monitorar o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e a ex-deputada Joice Hasselmann.

O monitoramento, diz a PF, foi feito pelo agente federal Felipe Arlota, um dos alvos da operação e afastado do cargo por decisão de Moraes. O policial é próximo do senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho de Bolsonaro.

A ação desta quinta-feira é um desdobramento da operação Última Milha, deflagrada em outubro de 2023 para investigar o uso do FirstMile. Nessa nova fase, o foco principal são policiais que atuavam na Abin, em especial no CIN (Centro de Inteligência Nacional), estrutura ligada ao gabinete de Ramagem na agência durante o governo Bolsonaro.

Ao todo, sete policiais federais são alvos da ação e foram afastados dos cargos públicos.

Foram colocados em cargos de chefia no CIN servidores da agência e policiais federais próximos a Ramagem e da família Bolsonaro, o que fez com que ele fosse apelidado de “Abin paralela”.

Além de Ramagem, ao menos dois agentes da PF, Marcelo Araújo Bormevet e Felipe Arlotta Freitas, são alvos das medidas desta quinta-feira. O delegado fedral Carlos Afonso Gonçalves, ex- chefe do CIN, também foi afastado do cargo.

O ex-diretor da Abin teria sido corrompido por dois oficiais da Abin que ameaçaram divulgar o uso do software espião após a agência cogitar demiti-los em um processo administrativo interno por participação em uma fraude licitatória do Exército.

Segundo a PF, as provas coletadas na primeira fase da operação mostram que “o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal”.

Como mostrou a Folha, documentos em posse da Polícia Federal indicam que funcionários da Abin lotados no CIN utilizaram o software espião FirstMile durante o governo Bolsonaro —a ferramenta invadia a rede de telefonia nacional e apontava a localização dos alvos da agência de inteligência.

O CIN tem origem em um decreto de Bolsonaro, assinado em julho de 2020, que criou novas estruturas dentro do organograma da Abin, à época chefiada por Ramagem.

A justificativa para criação do CIN foi planejar e executar “atividades de inteligência” destinadas “ao enfrentamento de ameaças à segurança e à estabilidade do Estado” e assessorar órgãos competentes sobre “atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças decorrentes de atividades criminosa”.

O centro foi desmontado pela reestruturação promovida pela atual direção da Abin, já no governo Lula (PT), após a operação da PF que mirou o software espião.