Afetados pelo tarifaço, setores ligados a Bolsonaro procuram o governo Lula
Uma das principais vozes desse movimento é a Taurus, gigante da indústria de armas e munições

Afetados pelo tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos, empresários e entidades ligados a Bolsonaro têm buscado uma reaproximação com o governo Lula. O movimento envolve segmentos como o de armas, supermercados e até o agronegócio, que antes celebravam a vitória de Donald Trump e hoje tentam negociar soluções com a gestão petista diante de prejuízos milionários e risco de perda de mercado.
Uma das principais vozes desse movimento é a Taurus, gigante da indústria de armas e munições. O CEO global da companhia, Salesio Nuhs — declarado apoiador de Bolsonaro e entusiasta da volta de Trump — chegou a prever um crescimento de 25% no setor após a troca de presidente nos EUA. Mas com o tarifaço, a realidade mudou: as ações da Taurus caíram 7% em um único dia, o que representou perda de mais de R$ 33 milhões em valor de mercado.
Diante da crise, representantes da empresa recorreram ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, em busca de apoio. Em teleconferência com investidores, Nuhs afirmou que a autonomia do Brasil estaria em risco e que a negociação contou até com a presença do ministro da Defesa. Nos bastidores, a Taurus também cogita transferir parte da produção para território americano, já que 90% da fabricação é exportada para lá.
A pressão, no entanto, não vem apenas do setor de armas. O varejo também entrou em campo. Representantes de supermercados, que mantinham proximidade com Bolsonaro, entregaram ao Planalto um “plano emergencial” pedindo facilitação de crédito. O pedido foi parcialmente atendido pelo pacote de socorro econômico anunciado pelo governo Lula.
Outro setor que sente o impacto é o agronegócio. A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), que no passado recebeu Bolsonaro em eventos e atacou o então candidato Lula, estima agora perdas de até US$ 5,8 bilhões em exportações. Em nota recente, a entidade criticou a polarização política e alertou para a necessidade de soluções imediatas para mitigar os efeitos das tarifas.
Assim, o tarifaço imposto pelos EUA mudou o tom de setores antes alinhados a Bolsonaro e abriu espaço para diálogos que até pouco tempo atrás pareciam improváveis com o governo Lula.