VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Cantora gospel fala da agressão sofrida pelo marido em casa: ‘Ele disse que me jogaria escada abaixo’

Tapas, empurrões, puxões de cabelo, ameaças de morte, agressões físicas e verbais. Assim descreve a…

Tapas, empurrões, puxões de cabelo, ameaças de morte, agressões físicas e verbais. Assim descreve a cantora gospel Quesia Freitas sobre a violência sofrida pelo marido, Bruno Feital, na semana passada, três dias antes de ele ser flagrado agredindo ela dentro de um shopping no Recreio, na Zona Oeste do Rio, no dia 20 de novembro. Em imagens obtidas com exclusividade pelo GLOBO, da câmera de segurança do condomínio onde o casal residia, a mulher, de 35 anos, aparece no corredor discutindo com Bruno, também de 35. A gravação foi feita na noite do dia 17 de novembro, logo após as 23h.

A cantora conta que tentava ir embora de casa após mais uma briga do casal, mas que o marido não queria deixá-la. Ao invés disso, eles discutiram no corredor do prédio onde viviam por mais de 30 minutos. Segundo Quesia, Bruno afirmou que “a jogaria escada abaixo” e que ela não deveria ter dúvidas de que ele a mataria.

— Nas imagens, é possível ver as discussões, eu correndo para fugir, mas ele vindo atrás, me puxando, me pegando no colo a força. Fora do ângulo das câmeras, ele me deu vários tapas, bateu no meu peito, mandou eu chegar no canto, puxou meus cabelos….. Quando falei que iria embora, ele disse: “Eu te jogo da escada abaixo”. Ainda perguntou: “Você tem dúvidas de que eu te mato? Eu te jogo da sacada”. Agora, imagina se me joga? Morri de medo de morrer ali — desabafa em entrevista ao GLOBO.

— Eu sempre tento negociar e falo com calma com ele. Naquele dia, eu pedi para ele me deixar ir embora, que não aguentava mais, que a minha vida estava travada. Mas ele não queria ouvir, me perguntava se “eu achava que ele era otário” e que “câmera não o intimidava”.

O caso de violência doméstica constante sofrida por Quesia Freitas só veio à tona depois que Bruno Feital a agrediu no Americas Shopping no Recreio, e foi filmado por uma mulher que estava no local. Ela divulgou as imagens em uma página do bairro, que foram obtidas pelo irmão da cantora, o também cantor Juninho Black. Foi ele que divulgou o vídeo no seu perfil no Instagram, com um texto de desabafo, e expôs toda a vivenciada pela irmã.

No dia do ocorrido, Quesia registrou uma queixa após o flagrante na 42ªDP (Recreio), mas omitiu detalhes da relação conturbada e até dispensou o exame de corpo de delito. Na tarde de quinta-feira, dia 26, a cantora gospel compareceu à Delegacia de Atendimento da Mulher (Deam), de Jacarepaguá, na Zona Oeste, para onde o caso foi transferido, e prestou depoimento de cerca de três horas.

‘Não sou santa. Mas nada justifica a violência. Ele foi cruel’

Acompanhada de uma de suas três advogadas, a cantora entregou as imagens da câmera de segurança do seu condomínio como mais uma prova contra o marido agressor. Ele foi enquadrado por lesão corporal na Lei Maria da Penha. Bruno Feital, que tirou a barba e raspou a cabeça após a repercussão, foi ouvido pela Deam na manhã de quarta-feira.

— Foi um depoimento bem demorado. Detalhei tudo porque agora perdi o medo. Só que, no depoimento dele, ele negou tudo, disse que nunca me bateu, nunca encostou em mim. Ele disse que no vídeo no shopping, eu apareço gritando. Mas eu nem abri a boca. A voz que aparece é da mulher que gravou as imagens. Mas as provas estão aí, os vídeos mostram. Já apareceram até testemunhas para me ajudar no caso. Não vou mais deixar assim. Que a justiça seja feita e eu possa seguir o meu caminho, e ele o dele — afirma.

Quesia Freitas se surpreendeu com toda repercussão do caso. Ela afirma que nunca quis pagar de santa e que sabe que também é uma mulher “de gênio difícil”. No entanto, a cantora diz que nenhum temperamento ou momento ruim justifica as agressões que sofreu por um ano e três meses, tempo que ela e Bruno permaneceram casados. Eles se conheceram em julho de 2019 e, um mês depois, já haviam oficializado a união. A violência doméstica começou no dia seguinte ao matrimônio, que resultou em uma primeira queixa na Lei Maria da Penha contra ele e uma primeira medida protetiva.

— Eu ficava engasgada. É um misto de frustração, um sentimento de justiça, mas com o coração dolorido. Como mulher, criei sonhos e castelos, não queria que desabasse. É difícil falar do homem que você ama, que te machuca, que quer te arrebentar. Eu quero que ele pague pela crueldade. Eu não sou santa, nunca disse isso. Tenho um gênio forte e sou uma mulher de personalidade. Mas nada justifica a violência. Ele foi cruel, um monstro. Preferi abrir mão e escolher o caminho que dói. Minha vida é mais importante — diz.