SAÚDE

Casos de ‘doença da urina preta’ avançam e cinco estados investigam suspeitas

Ao menos cinco estados do Brasil investigam possíveis casos da síndrome de Haff, conhecida popularmente como…

Ao menos cinco estados do Brasil investigam possíveis casos da síndrome de Haff, conhecida popularmente como “doença da urina preta”, devido a um dos sintomas da enfermidade: Amazonas, Pará, Pernambuco, Bahia e Ceará.

O problema é causado por uma toxina que pode ser encontrada em peixes e crustáceos —os cientistas não sabem se a substância é produzida devido à maneira como a carne é armazenada ou se ela vem de algas consumidas pelos animais.

A urina escura é um dos sintomas causados por um quadro chamado rabdomiólise, marcado pela destruição das fibras que compõem os músculos do corpo.

O maior número de notificações do problema no Brasil é do Amazonas, onde uma força-tarefa foi criada para analisar amostras de sangue e soro de pacientes com suspeita da doença. Também estão sendo observados os rios que banham os municípios em que há casos e seus peixes possivelmente contaminados, além dos frutos que servem de alimento para os animais. As análises ainda não foram concluídas.

No total, há 61 casos suspeitos de rabdomiólise em dez municípios do estado. Até 22 de agosto, eram 44 notificações, principalmente de Itacoatiara, a 176 quilômetros de Manaus.

Seis registros de internação em quatro cidades foram incluídos na lista em 9 de setembro. “Todos os pacientes estão estáveis. Estamos monitorando todos os casos. De qualquer forma, estamos investigando para confirmar as possíveis causas desse surto”, afirmou a diretora-técnica da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Tatyana Amorim.

Segundo ela, um representante do Ministério da Saúde dá suporte às ações.

Em nota, a pasta não confirmou a informação, disse que a rabdomiólise não é de notificação compulsória e explicou que ela pode ter diversas causas.

No Pará, seis casos suspeitos da síndrome de Haff estão sendo investigados —um em Belém, um em Trairão e quatro em Santarém, segundo a secretaria de Saúde.

O órgão não informou o estado de saúde dos pacientes, apenas que encaminhou amostras de urina e sangue dos doentes para um laboratório de referência. A pasta também emitiu nota de alerta com orientações para identificação e notificação de casos suspeitos pelos municípios.

“A secretaria orienta os municípios a aumentar a atenção à inspeção sanitária dos locais de venda e sobre a importância do acondicionamento correto do pescado”, afirmou na nota.

No Ceará, até 21 de agosto, foram notificados nove casos suspeitos da doença —quatro homens e cinco mulheres com média de idade de 51 anos, segundo a secretaria de Saúde. Amostras dos peixes foram enviadas para confirmação em laboratório, mas o resultado ainda não foi divulgado.

A pasta informou ainda que todos os pacientes apresentaram a urina escura (vermelha a marrom) como sintoma. Parte dos doentes teve dores de início súbito na região cervical (pescoço, trapézio e dorso) ou de membros inferiores e superiores. Um deles também apresentou febre.

Também na Bahia, após dois anos sem registros, as notificações da sídrome têm reaparecido desde agosto do ano passado, quando 40 casos foram confirmados, sem ocorrência de mortes. Em 2021, já são 18 notificações —13 confirmadas e cinco sob investigação. Os casos são das cidades de Salvador, Alagoinhas, Maraú, Mata de São João, Camaçari e Simões Filho.

A secretaria de Saúde do estado esclareceu que a doença não possui tratamento específico e que o uso de anti-inflamatórios não é indicado. A recomendação é procurar atendimento imediato em caso de escurecimento da urina e desenvolvimento de rabdomiólise, que exige que o paciente seja rapidamente hidratado durante 48 ou 72 horas.

Para evitar a doença, a pasta orienta que a população consuma pescados ou crustáceos de locais que ofereçam segurança e procure não ingerir o alimento na forma crua.

Em Pernambuco, após a morte de uma paciente com a doença em março, o Ministério Público abriu uma investigação e realizou audiência pública com autoridades sanitárias locais e representantes do setor de alimentação e pesca, além de membros da comunidade acadêmica.

De acordo com a secretaria de Saúde do estado, a análise das amostras de pescado apontou que não foi possível afirmar a causa da infecção alimentar que resultou na síndrome de Haff na paciente que morreu.

Ainda segundo a secretaria, desde então, não houve novos registros de casos da doença no estado. A pasta afirmou ainda que realiza o monitoramento dos registros, que são notificados ao Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs-PE).

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informou que todos os casos estão sendo acompanhados pelas equipes de epidemiologia do Ministério da Saúde em cooperação com os Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA/RS) e o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).

Segundo o Mapa, a toxina foi registrada em diversos biomas (rios, lagos, mares) e espécies. Por isso, até o momento, não é possível determinar os ambientes e animais envolvidos. A pasta afirmou que as equipes laboratoriais estão realizando uma ampla pesquisa de amostras em busca de moléculas suspeitas, que podem ser produzidas por microalgas tóxicas.

Consultada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sugeriu que a reportagem buscasse mais informações com o Ministério da Saúde.