China ameaça medidas ‘firmes e correspondentes’ caso os EUA não recuem nas novas tarifas
Ministério do Comércio afirma que as ações americanas prejudicam seriamente os direitos legítimos das empresas

PEQUIM (FOLHAPRESS) – O Ministério do Comércio afirmou neste domingo (12), no horário local, que a China não quer lutar com os Estados Unidos em relação à guerra comercial, mas não tem medo de aplicar “medidas firmes e correspondentes” caso os americanos não voltem atrás com as tarifas adicionais de 100% sobre os produtos chineses.
“A China exorta os EUA a corrigirem imediatamente suas ações equivocadas e, sob a orientação do consenso alcançado nas conversas entre os dois chefes de Estado, a preservarem os frutos das negociações arduamente conquistados”, disse o porta-voz da pasta em entrevista coletiva.
As declarações ocorreram após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar tarifas adicionais de 100% sobre produtos da China a partir do dia 1º de novembro.
O Ministério do Comércio afirma que as ações prejudicam seriamente os direitos legítimos das empresas, abalam a ordem do comércio internacional e comprometem a segurança e a estabilidade das cadeias globais de suprimentos.
As novas taxas determinadas pelos americanos ocorrem em resposta à ampliação do controle de exportação de terras raras imposta pelo país asiático, determinando que qualquer item produzido no exterior que contenha terras raras chinesas precisa de licença de exportação emitida pelas autoridades locais.
Na prática, a medida afeta toda quase a cadeia de produção que envolve terras raras, uma vez que o país realiza cerca de 90% do processamento de terras raras no mundo e é responsável por cerca de 60% da extração dos minérios, o que leva os EUA e a Europa a realizarem esforços para diminuir o domínio chinês.
As medidas, que tiveram início no momento em que foram publicadas, na sexta-feira (9), afetam diversas indústrias, como a automobilística, de defesa e de alta tecnologia, entre outras.
A sobretaxa contra a China, segundo Trump, é uma resposta à “posição extraordinariamente agressiva” do país de “impor controles de exportação para todos os tipos de produtos”.
“Ninguém jamais viu algo assim, mas, essencialmente, isso ‘paralisaria’ os mercados e tornaria a vida difícil para praticamente todos os países do mundo, especialmente para a China”, disse Trump em sua publicação nas redes sociais.
O presidente americano ameaçou ainda impor controle de exportação sobre os aviões da Boeing como forma de atingir a economia chinesa.
Segundo o Ministério do Comércio da China, a ação realizada pelos EUA é típica de “duplo padrão”, uma vez que a lista de controle de exportação do país tem mais de 3.000 itens, enquanto a chinesa tem 900, de acordo com a pasta.
“Há muito tempo, os EUA ampliam de forma abusiva o conceito de segurança nacional e usam indevidamente o controle de exportações, adotando medidas discriminatórias contra a China e impondo jurisdição unilateral extraterritorial sobre diversos produtos, como equipamentos e chips de semicondutores”, declarou.
O porta-voz afirmou que o controle de exportações não significa proibição e que, antes das medidas anunciadas, países e órgãos relevantes foram notificados por meio de mecanismos bilaterais. Disse ainda que, por meio de avaliações prévias, identificou que o impacto das medidas será “bastante limitado”.
“A China está disposta a fortalecer o diálogo e a comunicação com todos os países sobre controle de exportações, a fim de proteger melhor a segurança e a estabilidade das cadeias globais industriais e de suprimentos”, disse.
As medidas impostas pelo regime chinês e pelos americanos ocorrem às vésperas de um encontro entre o líder Xi Jinping e o presidente Donald Trump, que devem ter uma reunião neste mês na Coreia do Sul durante a cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico).
Trump chegou a considerar deixar de lado a conversa presencial com o mandatário chinês, mas voltou atrás.
A nova fase da guerra comercial ganha forma após uma série de encontros entre as autoridades chinesas e americanas para discutir as tarifas e outros assuntos relevantes. Na última rodada de negociações, que ocorreu em Madri há cerca de 20 dias, as potências entraram em consenso sobre a manutenção do TikTok nos EUA, que estava ameaçada pelo prazo de venda do aplicativo imposto por legislação aprovada pelo Congresso em 2024.
Também ocorre após uma conversa por telefone entre Trump e Xi, que foi divulgada como construtiva e positiva. Mas, segundo o Ministério do Comércio chinês, os americanos seguiram impondo medidas restritivas contra o país asiático mesmo após os avanços conquistados.
“Adicionaram diversas entidades chinesas às listas de controle de exportações e de ‘nacionais especialmente designados’, expandiram arbitrariamente o escopo das empresas controladas e insistiram em implementar as medidas da Seção 301 contra os setores marítimo, logístico e de construção naval da China”, declarou, referindo-se às taxas portuárias cobradas pelos EUA de embarcações chinesas a partir de 14 de outubro.
Os movimentos mais recentes reacendem o alerta de guerra comercial em grande escala, semelhante à do início do ano, quando Trump impôs tarifas de 145% sobre produtos chineses e Xi respondeu com 125% sobre mercadorias americanas.
Atualmente, a tarifa média efetiva dos EUA sobre importações chinesas, que leva em conta fatores como exceções setoriais, é de 58%, segundo o Instituto Peterson de Economia Internacional. A tarifa média praticada pela China, de acordo com os mesmos cálculos, é de aproximadamente 32%.