saúde

Dar 10 mil passos por dia pode evitar câncer e doenças cardíacas, mostra estudo

Um estudo publicado nesta segunda-feira (12) no Jama (The Journal of the American Medical Association), uma revista…

Um estudo publicado nesta segunda-feira (12) no Jama (The Journal of the American Medical Association), uma revista científica da Associação Médica dos Estados Unidos, indicou que dar 10 mil passos por dia diminui a incidência de morte precoce, bem como o desenvolvimento de câncer e doenças cardiovasculares.

Entre fevereiro de 2013 a dezembro de 2015, 78.500 pessoas no Biobank UK, banco de dados ligado ao sistema nacional de saúde britânico, usaram uma pulseira para acompanhar seus passos por 7 dias.

A equipe analisou dados apenas daqueles indivíduos que usaram a pulseira por três ou mais dias, incluindo períodos de sono e pelo menos um fim de semana. Os participantes eram, em sua maioria, mulheres saudáveis com um nível socioeconômico mais elevado.

Depois de contar o número total de passos dos participantes a cada dia, os pesquisadores os classificaram em duas categorias: menos de 40 passos por minuto, mais de 40 passos por minuto, ou a chamada caminhada “intencional”. Uma terceira categoria foi criada para aqueles que deram mais passos por minuto em meia hora ao longo de um dia.

+Leia mais: Dez maneiras de diminuir o risco de câncer ao comer churrasco

Cerca de sete anos depois, os pesquisadores compararam esses dados com registros médicos e descobriram que as pessoas que deram mais passos por minuto mostraram maior redução no risco de câncer, doenças cardíacas e morte precoce por qualquer causa. Esses participantes também apresentaram IMC (índice de massa corporal) mais baixo, dormiram melhor – mas também não tinham hábitos como fumas ou consumir bebidas alcóolicas.

Ao longo do acompanhamento, houve 10.245 eventos de doença cardiovascular e 2.813 de câncer incidentes. O grupo registrou 1.325 mortes por câncer e 664 por doenças cardiovasculares.

De acordo com o trabalho, “esses achados são relevantes para a saúde pública”, pois “embora este seja um conselho popular, as evidências para apoiar a meta de 10 mil passos por dia para melhorar a saúde são escassas”. Até então, os estudos disponíveis contavam com um menor número de participantes, “o que pode dificultar a avaliação de associações, principalmente para eventos menos comuns”.

O oncologista clínico e diretor médico geral do Centro de Oncologia da BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo), Antônio Carlos Buzaid, destacou que o estudo “é muito grande, o maior de todos”.

“[Para nós,] não é nada novo que a atividade física reduza o risco de morrer por câncer e por doenças cardiovasculares, mas esse estudo é muito robusto”. Buzaid lembra que trabalhos anteriores já haviam mostrado resultados parecidos, no entanto, foram feitos com menor número de pessoas.

Para o cardiologista da BP, Alexandre Soeiro, ainda que não traga nenhuma novidade para a associação entre caminhada e combate a doenças cardiovasculares, a pesquisa vai contra o imaginário popular de que é preciso horas de academia ou grandes esforços para manter a saúde em dia.

“Ele contempla não aquela atividade física de ir necessariamente na academia ou fazer um esforço intenso como correr ou andar de bicicleta. O que é relacionado neste estudo é a quantidade de passos que a pessoa dá no dia e a frequência com que ela faz isso”, afirma o médico.

“Se você andar para o trabalho de modo mais rápido é melhor do que andar olhando as vitrines no shopping”, exemplifica o oncologista Antônio Carlos Buzaid. O estudo mostra que a maior intensidade da caminhada oferece ganho adicional de qualidade de vida.

O cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Leandro Costa, afirma que ter uma medida prática para a prática de exercícios como 10 mil passos é um dos grandes ganhos do estudo, além de reforçar que “a atividade física é benéfica em todos os cenários”.

“Existe uma grande dificuldade de quantificar a atividade física ideal, ou seja, o quanto o indivíduo precisa fazer para ter benefícios de fato”, diz.

A contagem de passos é uma forma mais efetiva de fazer isso, de acordo com o médico. O cardiologista destaca que a maioria dos smartphones ou smartwatches possuem acompanhamento de passos em seus sistemas, o que pode viabilizar a contagem.

Ele ainda relembra que, em termos de tempo, é indicado, no mínimo, 150 minutos semanais de atividade física para obter melhor proteção cardiovascular e reforça que, segundo o trabalho, quanto maior a intensidade da caminhada maior é o ganho de qualidade de vida para o indivíduo.

Para perceber o quão intensa está a atividade física, Leandro orienta que o indivíduo preste atenção à fala.

“Se ele consegue falar uma frase inteira sem nenhum tipo de interrupção na sua respiração, esse exercício é leve. No entanto, quando a atividade é moderada, a interrupção na fala acontece para que ocorra a ventilação”. De acordo com o médico, esta última intensidade é a melhor para reforçar a proteção cardiovascular.