Excesso de comida e álcool pode elevar em até 37% as hospitalizações por infarto no fim de ano
Combinação de excessos nas ceias de Natal e Ano Novo e calor cria condições para problemas cardíacos

O excesso de comida e álcool no fim de ano, comum nas ceias de Natal e Réveillon, pode elevar em até 37% as hospitalizações por infarto, segundo alertam especialistas. A combinação de refeições gordurosas, ingestão exagerada de bebidas alcoólicas e falhas no uso de medicamentos cria o cenário ideal para a chamada Síndrome do Coração de Feriado, que pode atingir inclusive pessoas sem histórico de doenças cardíacas.
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De acordo com médicos, além do infarto, a síndrome está associada ao surgimento de arritmias, especialmente a fibrilação atrial. A cardiologista Fabiana Hanna Rached, do Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da USP, explica que o problema costuma surgir após um consumo exagerado de curto prazo, típico das confraternizações.
Um estudo sueco publicado em 2018 reforça o alerta: o risco de infarto na véspera de Natal é 37% maior do que em outros dias do ano. A pesquisa analisou 283 mil casos de infarto do miocárdio registrados ao longo de 15 anos (1998 a 2013) e comparou os dados com períodos antes e depois do feriado.
O levantamento mostrou ainda que o horário mais crítico para ocorrência de infartos no dia 24 de dezembro é por volta das 22h. Os mais vulneráveis são pessoas acima de 75 anos e pacientes com diabetes ou doença coronariana prévia. Segundo os autores, o aumento não é aleatório e está ligado a fatores típicos da data, como estresse emocional, excesso de comida e álcool e altas temperaturas. Curiosamente, outras datas festivas, como a Páscoa ou grandes eventos esportivos, não apresentaram elevação semelhante no risco.
Para quem já tem doenças cardíacas diagnosticadas ou suspeita do problema, os cuidados precisam ser redobrados. “É essencial manter corretamente as medicações de uso contínuo, sem interrupções, organizando os horários para não esquecer”, orienta o cardiologista Firmino Haag, coordenador da Cardiologia do Hospital Albert Sabin.
Segundo Rached, a ingestão aguda de álcool altera o sistema elétrico do coração, ativa o sistema nervoso simpático e desregula eletrólitos, favorecendo batimentos rápidos e irregulares. Já refeições ricas em gorduras saturadas e sal contribuem para o aumento da pressão arterial e da inflamação.
As novas diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), atualizadas em setembro de 2025, tornaram mais rígidas as metas de colesterol LDL e pressão arterial, justamente para detectar de forma mais precoce a desestabilização de pacientes que já estão no limite dos parâmetros.
Para o médico Fabio Taniguchi, diretor do serviço de cirurgia cardiovascular do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, evitar excessos é a principal recomendação. Ele lembra ainda que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe nível seguro para o consumo de álcool. A American Heart Association (AHA) também reforçou, em 2025, os riscos cardiovasculares associados ao consumo excessivo em curto período.
Especialistas alertam que os problemas cardíacos no fim de ano vão desde arritmias, como a Síndrome do Coração de Feriado, até um aumento nos eventos isquêmicos, como infarto e AVC. O risco é ainda maior em pessoas com hipertensão, diabetes, dislipidemia e obesidade.
Entre as recomendações estão limitar o consumo de álcool, evitar bebidas alcoólicas com energéticos, moderar o uso de sal e gorduras e optar por refeições mais leves, como assados magros, peixes e vegetais. Também é indicado manter boa hidratação, dormir bem, evitar calor excessivo e, quando possível, monitorar a pressão arterial e a frequência cardíaca durante o período de festas.
*Com informações da Folha de São Paulo