paralisação

Funcionários da Petrobras entram em greve por tempo indeterminado

Paralisação foi aprovada após impasse nas negociações do acordo coletivo

Os trabalhadores da Petrobras estão em greve desde a 0h desta segunda-feira (15), por tempo indeterminado. A paralisação, que atinge todo o país, foi aprovada na última sexta-feira (12), após a contraproposta apresentada pela companhia nas negociações do acordo coletivo de trabalho (ACT) ter sido rejeita.

Segundo Sérgio Borges, coordenador-geral do Sindipetro-NF, estão mobilizados os 14 sindicatos da FUP (Federação Única dos Petroleiros), que representa em torno de 25 mil empregados e opera 61% das unidades da Petrobras, e os da FNP (Federação Nacional dos Petroleiros), que representa mais de 50 mil trabalhadores e maneja 80% da extração de petróleo do país.

Procurada, a Petrobras não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Na prática, as operações da Petrobras não chegam a ser totalmente interrompidas durante a greve. As unidades continuam funcionando com equipes mínimas, responsáveis por manter a segurança e a produção essencial, de acordo com os sindicalistas.

O que deixa de ocorrer são as trocas de turno e a atuação das chamadas equipes de redundância —formadas para substituir trabalhadores em folga ou reforçar operações—, o que reduz a flexibilidade do sistema e pode pressionar a rotina das unidades, sobretudo se a paralisação se estender por vários dias.

A greve ocorre após mais de três meses de negociações sem acordo. Para a FUP, a proposta da estatal não contempla os principais pontos aprovados pela categoria: a retomada de direitos retirados em gestões anteriores, uma distribuição considerada mais justa dos resultados da empresa e o fim dos planos de equacionamento de déficit da Petros, o fundo de pensão dos funcionários.

No campo salarial, os sindicatos criticam o reajuste oferecido: reposição da inflação do período mais ganho real de 0,5%, somando 5,66%. Os trabalhadores reivindicam 9,8%, como forma de recompor perdas acumuladas em anos sem aumento real.

Também pesa para os sindicalistas a situação de aposentados e pensionistas, que organizaram vigílias em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, em protesto contra os descontos relacionados ao equacionamento do fundo de pensão da companhia.

A FNP diz que a postura da empresa alinhada ao discurso de “aperto dos cintos” contrasta com a divulgação recente de lucros recordes de R$ 32,7 bilhões destinados aos acionistas. “Para a categoria, a Petrobras apresenta um ACT [Acordo Coletivo de Trabalho] rebaixado. Para os acionistas, privilégios e lucros recordes”, afirma o sindicato, em nota.

Entre os principais pontos de rejeição está a manobra da empresa ao propor alterações em cláusulas que atualmente estão sob análise judicial e que podem resultar em ganhos para os trabalhadores. A tentativa de modificar esses itens durante a negociação do ACT é vista como uma estratégia para minar direitos já consolidados e impedir avanços.

A greve afeta unidades administrativas, plataformas e refinarias, a depender de sua duração.

O QUE OS TRABALHADORES REIVINDICAM

  • ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) de um ano (2025-2026) e ultratividade
  • Solução para a pauta do offshore e o fim do ataque inacreditável na questão dos ‘desimplantes’
  • Reajuste na tabela da Hora Extra Troca de Turno (HETT) e a criação de uma tabela salarial única para toda a categoria, holding, subsidiárias, ativos e aposentados
  • Avanço na pauta do teletrabalho, aumento dos ‘dias coringas’ e inclusão de setores excluídos.
  • Pagamento das dívidas da Petrobras com a Petros
  • Retorno do Programa Jovem Universitário (PJU), com reembolso de 80% do valor da mensalidade, bem como benefício educacional superior extensivo aos empregados
  • O fim dos problemas constantes referentes aos embarques e a implementação do 14×21 para todos os embarcados (próprios e terceirizados)
  • Destravamento da discussão sobre o novo Plano de Cargos, Carreiras e Salários, congelada desde o início do ano
  • Reversão da mudança na área de SMS que levará a uma escala de 6×1 de médicos e dentistas, contrariando inclusive a retórica do governo federal
  • Combate ao avanço da terceirização, fim da contratação de empresas caloteiras
  • Fim do processo de privatização da PBIO
  • Isonomia alimentar, já! Concessão de vale alimentação para as unidades que têm alimentação e natura (industrial e offshore) nos termos da lei 5811/72

Segundo a FUP, 100% da operação das plataformas do Espírito Santo e do norte Fluminense aderiu à greve e entregou às equipes de contingência da empresa, assim como do Terminal Aquaviário de Coari, no Amazonas.

O sindicato afirma que os trabalhadores de seis refinarias das bases da FUP também aderiram e não realizaram o revezamento de turno nesta manhã. Até o momento, estão sem troca nos grupos de turno as refinarias Regap (Betim – MG), Reduc (Duque de Caxias – RJ), Replan (Paulínia – SP), Recap (Mauá – SP), Revap (São José dos Campos – SP) e Repar (Araucária – PR).

A FUP diz ainda que, em Duque de Caxias (RJ), a Petrobrás chamou a Polícia Militar para tentar coibir a greve, com diretores do Sindipetro Caxias sendo detidos pelos policiais.

A FNP afirma que estão previstos protestos em plataformas, no Aeroporto de Maricá, nos Terminais Aquaviários da Baía de Guanabara, no Terminal de Angra dos Reis, no Complexo de Energias Boaventura e em unidades administrativas, como o Edisen.

A última paralisação da categoria ocorreu em março deste ano, com duração de 24 horas. Os trabalhadores criticavam a redução dos dias em home office e diminuição da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e cobravam a contratação de funcionários, criação de plano integrado de carreiras e melhores condições para prestadores de serviços.

Antes, em 26 de fevereiro deste ano, os petroleiros administrativos fizeram uma paralisação de 24 horas contra a proposta de reduzir o trabalho remoto. A greve envolveu funcionários filiados à FUP e à FNP e teve adesão de escritórios do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.

Em 2020, a categoria ficou parada 20 dias em protestos contra demissões. Os sindicatos reclamaram que o fechamento da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná, poderia resultar em cerca de mil demissões. A greve envolveu refinarias e plataformas e durou 20 dias.

Na época, a estatal era comandada pelo economista Roberto Castello Branco. Atualmente, a presidente é Magda Chambriard.

*Via Folha de São Paulo