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Morador de rua espancado por personal relembra vida nas ruas: “Tinha nojo de mim”

Em entrevista, Givaldo Alves, o morador de rua que ficou conhecido nacionalmente após ser espancado…

Em entrevista, Givaldo Alves, o morador de rua que ficou conhecido nacionalmente após ser espancado por um personal trainer que o encontrou com sua mulher, se emocionou ao relembrar como foi parar nas ruas, as situações de violência que já viveu para ter o que comer e se diz arrependido de ter dado tantos detalhes da noite em que foi flagrado num carro com a mulher do personal.

Givaldo, de 48 anos, nasceu no interior da Bahia, e está vivendo nas ruas há 1 ano e três meses, após ter perdido o emprego em novembro de 2020.”Eu penso que a vida só vai. Eu fiquei conhecendo em Luis Eduardo Magalhães (cidade baiana, última em que ele morou antes de ir para o Distrito Federal) um lugar chamado Rio Grande do Sul. Mas não queria ir pra lá porque era longe demais. Tenho uma irmã em Goiânia, e falávamos muito quando eu estava morando em Tocantins. E ela me dizia que o clima era mais ameno e tinha oportunidades em empresas, e o custo de vida era mais em conta. Eu pedi passagem para lá. Mas em toda porta que batia, não encontrava nada. Eu pedia um trabalho qualquer. ‘Posso lavar banheiro'”, conta.

Questionado sobre o uso de entorpecentes, Givaldo Alves diz que sua “droga social” é o cigarro e o álcool. “Estou num programa e bebendo cada vez menos. Mas quando me separei daquela que era a dona do meu mundo, eu bebi demais. Peço perdão pra ela”, recorda, em meio a lembranças e falas desconexas sobre sua vida pré-mendicância: “Fiz um curso sobre DSTA, drogas e cidadania. E ali falava sobre drogas e eu nem bebia na época, isso na escola. Aconteceu que conversando com as pessoas que usam, muitos tipos não as satisfazem. O álcool me contém. Mas os excessos são o pecado”.

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O agora ex-morador de rua relatou que em Goiás conseguiu ajuda de um empresário, que perdera a filha e prometeu a ela cuidar de gente como Givaldo Alves. “Ele me botou no carro dele, eu todo sujo, fedendo. Eu tinha nojo de mim. Quando as pessoas passavam, eu me desvencilhava só pra não ficar com muita vergonha. Ele me levou na rodoviária, pediu meus documentos, comprou uma passagem e eu disse que não ia abraçá-lo porque estava fedendo. Chorei, beijei a mão dele e daqui a pouco ele chegou com uma marmita. Fui para Formosa de Goiás e procurei um albergue para pessoas como eu. Eu queria voltar a Goiânia. Dormi dois dias na rodoviária. Eu tinha umas bermudas, prefiro calças, encontrei pessoas muito fedidas e sujas, e ofereci e elas aceitaram. Mas desconfiaram que eu quisesse matá-las. Ao mesmo tempo que me emocionei, tive medo. Porque minha cabeça foi rachada lá atrás por pessoas iguais a mim”, narra.

Givaldo conseguiu de um motorista uma carona, desde que ele se sentasse no último banco e ficasse quietinho. Assim parou em Brasília. “Fiquei sabendo que lá é o melhor lugar para quem está em situação de rua, com muito apoio do governo. Existem múltiplas casas de apoio. Tem gente que quer ficar na rua. Estão há 30 anos, 17 anos. Quando cheguei no Distrito Federal, fui direto a uma viatura onde estavam cinco policiais. Me apresentei, ele pegou meu documento. Eu pedi a eles que me ajudassem a encontrar um lugar”, relembra.

Givaldo Alves também falou sobre os episódios de violência pelos quais passou. “Estava numa fila em Taguatinga, umas 500 pessoas para comer. E do nada levei uma paulada na cabeça. As pessoas segurando o cara e eu sem entender”, relata: “Aí, aconteceu uma coisa hilária. Eu não vi esse homem durante três dias. E numa noite, quando saí, encontrei ele e mais dois dormindo num colchão, roncando. Acendi um cigarro e dei para eles. Depois outros moradores como eu me disseram que eu não podia ficar sozinho. Olha como é a situação da rua: se um vai no banheiro, fica um para olhar a bolsa. Não tem como deixar, pode sumir coisas”. A entrevista foi dada ao podcast “Flow“.

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Givaldo tem uma ex-mulher, da qual está divorciado há 15 anos, e uma filha deste casamento. Depois de um tempo, conheceu uma mulher chamada Vera Lúcia, que mora em Peruíbe, litoral paulista. “Uma moça muito boa, um coração muito bom. Eu pedi ajuda para conseguir falar com ela, e assim devo conseguir contato com a minha filha, que ia muito para lá nos fins de semana, quando estávamos vivendo juntos”, imagina.

Com Vera Lúcia, Givaldo Alves não teve filhos. “Perdemos aquela beleza do relacionamento. devo ter um cara muito difícil em lidar com mulheres”, faz o mea-culpa.