Mulheres são mais tolerantes à dor do que homens? Estudo responde
Conexões cerebrais funcionam de forma distinta na experiência da dor

A questão sobre se as mulheres são mais tolerantes à dor do que homens sempre gerou debates, especialmente porque elas passam por experiências intensas, como cólicas menstruais e o parto. Esse cenário criou a ideia de que as mulheres suportam a dor de forma mais eficaz. No entanto, estudos científicos apontam para uma realidade bem diferente: em muitos casos, elas são mais sensíveis à dor do que os homens.
O mito da tolerância feminina à dor
Segundo pesquisadores, a ideia de que mulheres resistem mais à dor do que homens é um equívoco comum. Jeffrey Mogil, professor de estudos da dor na Universidade McGill, reforça: “Está completamente errado. Isso foi estudado centenas e centenas de vezes, e é como uma coisa zumbi que não morre. Na minha opinião, essa questão de ‘quem é mais sensível à dor’ foi respondida tão claramente quanto qualquer coisa na biologia.”
A crença equivocada tem consequências sérias. Muitas vezes, a dor feminina é ignorada ou subtratada em ambientes médicos, justamente porque se imagina que elas conseguem lidar melhor com o sofrimento.
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Diferenças entre homens e mulheres na dor
Um quarto dos adultos americanos sofre de dor crônica, e as mulheres apresentam mais chances de desenvolver esse tipo de condição do que os homens. Pesquisas sugerem que desde os circuitos cerebrais até as células imunológicas envolvidas no processamento da dor funcionam de maneira distinta entre os sexos.
Sean Mackey, chefe da divisão de medicina da dor na Universidade Stanford, destaca que as diferenças não se resumem a quem sente mais ou menos: “Esses estudos estão nos enviando uma mensagem clara de que as diferenças entre os sexos não são apenas mais fortes ou mais fracas — muitas vezes são diagramas de fiação completamente diferentes.”
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Hormônios e o impacto da puberdade
Pesquisas anteriores apontam para os hormônios sexuais como fatores importantes na experiência da dor. Durante a puberdade, surgem diferenças significativas entre homens e mulheres no desenvolvimento de condições clínicas dolorosas.
Por exemplo, antes da puberdade, meninos e meninas sofrem enxaqueca em proporções semelhantes. Depois dela, a prevalência entre mulheres mais que dobra. Além disso, a gravidade dos sintomas de dor crônica pode variar ao longo do ciclo menstrual.
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O cérebro e a dor
Não são apenas os hormônios que influenciam. Estudos mostram que até a forma como o cérebro é conectado difere. Uma região chamada córtex cingulado anterior subgenual (sgACC), parte do sistema natural de alívio da dor, apresenta comportamentos distintos em homens e mulheres.
A cientista Karen Davis, do Instituto Cerebral Krembil, explica que o sgACC aparece de forma recorrente nos estudos sobre dor, seja em atividade, em conexões com outras áreas ou em oscilações cerebrais. Em casos de espondilite anquilosante, por exemplo, mulheres apresentam maior conectividade entre essa região e áreas ligadas ao processamento sensorial, o que pode explicar a maior carga de doença e a menor resposta a tratamentos em comparação com os homens.
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Genes, células e nociceptores
O laboratório de Mogil já encontrou evidências, desde 1996, de genes específicos do sexo que influenciam a percepção da dor. Pesquisadores também descobriram diferenças nas células imunológicas que contribuem para esse processo.
Até mesmo os nociceptores — neurônios sensoriais que detectam estímulos dolorosos na pele, músculos, articulações e órgãos internos — funcionam de forma diferente em homens e mulheres, tanto em humanos quanto em animais.
Diferenças no tratamento
Cerca de metade das condições de dor crônica, como enxaqueca, fibromialgia, artrite reumatoide, osteoartrite e síndrome do intestino irritável, são mais comuns em mulheres. Apenas 20% são mais frequentes em homens, enquanto o restante afeta igualmente os dois sexos.
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Um estudo com mais de 42 mil adultos em 17 países mostrou que a prevalência da dor crônica era maior entre mulheres, independentemente do nível de desenvolvimento do país. Isso reforça a importância de estudos que considerem o sexo dos pacientes para garantir diagnósticos e tratamentos mais precisos.
O que especialistas defendem
Historicamente, os ensaios clínicos sobre dor utilizam predominantemente roedores machos e, em muitos casos, não relatam diferenças relacionadas ao sexo. Para os especialistas, isso gera lacunas no entendimento da dor e prejudica a eficácia dos tratamentos.
“Provavelmente existem diferenças sexuais importantes que precisamos não apenas encontrar por acaso, mas procurar ativamente”, explica Davis. “Se não fizermos isso, estamos prestando um desserviço aos pacientes.”
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*Com informações da Folha de São Paulo