Testemunhas dizem que atos obscenos feitos por alunos de Medicina da Unisa são corriqueiros
Estudantes são investigados e devem ser indiciados. À reportagem, delegado à frente do caso afirma que reitoria será ouvida nos próximos dias

A Polícia Civil de São Paulo já investiga e tenta identificar e ouvir os alunos de Medicina que ficaram nus e fizeram atos obscenos em quadra durante uma partida de vôlei feminino válida por uma competição universitária na cidade de São Carlos. Até agora, testemunhas ouvidas informalmente por policiais da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) disseram que a atitude — uma espécie de simulação de masturbação coletiva — é corriqueira por parte dos estudantes deste curso da Universidade de Santo Amaro (Unisa). A reitoria da instituição é esperada para depor.
— A investigação ainda está muito no início e estamos esperando a manifestação das universidades envolvidas, com o objetivo de identificar todos os autores — conta o delegado João Fernando Baptista, titular da DIG de São Carlos. — Já conversamos com a autora da postagem e também com alguns alunos. Nos próximos dias, vamos conversar com a direção da universidade.
As cenas que viralizaram e geraram revolta nas redes sociais aconteceram entre abril e o início de maio. Só vieram à tona esta semana, quando uma das alunas presentes na competição resolveu publicá-la, mas para exaltar a conquista da Atlética de Medicina da Unisa. O efeito acabou sendo contrário. O vídeo acabou circulando até chegar ao influenciador digital Felipe Neto, que usou o alcance de suas redes, com milhões de seguidores, para cobrar medidas contra os envolvidos. Além da reação de vários coletivos feministas, parlamentares e figuras ligadas aos Direitos Humanos, até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), direto da Assembleia Geral da ONU, ligou para o ministro da Educação, Camilo Santana, e cobrou aplicação de medidas cabíveis aos responsáveis.
— A história só veio à tona em virtude desta postagem de uma estudante, que não tinha objetivo de denunciar nada. Aí uma pessoa que conhecia essa moça repostou e foi quando o Felipe Neto viu e também postou na página dele. Viralizou e nós tomamos conhecimento do caso — acrescenta o delegado.
A princípio, os homens que forem identificados no vídeo nus e simulando masturbação em direção às meninas em quadra devem ser indiciados pelo crime de ato obsceno, com pena prevista de 3 meses a 1 ano, por ser considerado de baixo potencial ofensivo. Caso alguma das alunas tenha se sentido importunada, ou mesmo tenha sido tocada de alguma forma por estes alunos pelados, e resolva fazer uma denúncia, a polícia poderá investigar, inclusive, a possibilidade de crime de importunação sexual; este, de maior potencial ofensivo e com pena prevista de 1 a 5 anos de cadeia.
— A princípio, há o crime de ato obsceno. É um crime praticado contra o público, que não depende de uma vítima específica: basta que um indivíduo pratique um ato sexual ou atentatório ao pudor público num ambiente em que várias pessoas assistam ele, como foi o caso — explica o delegado.
Alunos foram expulsos, diz Unisa
Nas imagens que repercutiram, cerca de 20 homens aparecem correndo na quadra com as calças abaixadas. Eles simulam uma “Volta Olímpica” enquanto tocam suas partes íntimas. Já em outro vídeo, é possível ver a presença dos estudantes em uma plateia assistindo ao jogo feminino e simulando a masturbação.
“Assim que tomou conhecimento de tais fatos, mesmo tendo esses ocorrido fora de dependências da Unisa e sem responsabilidade da mesma sobre tais competições, a Instituição aplicou sua sanção mais severa prevista em regimento, ainda nesta mesma segunda-feira (18/09), com a expulsão dos alunos identificados até o momento”, diz trecho da nota, não informando o número exato de alunos que devem deixar a universidade. A instituição ainda reforçou outras medidas:
“Considerando ainda a gravidade dos fatos, a Unisa já levou o caso às autoridades públicas, contribuindo prontamente com as demais investigações e providências cabíveis”.
MASTURBAÇÃO COLETIVA DE ESTUDANTES:
- Estudantes de Medicina da Unisa causaram revolta nas redes sociais no último domingo (17) após terem sido flagrados fazendo uma “masturbação coletiva” durante uma partida de vôlei feminino.
- Políticos e influenciadores repudiaram o acontecimento. Em nota, o MEC afirmou ter notificado a instituição de ensino sobre a ocorrência
- A Universidade Santo Amaro (Unisa) identificou e expulsou alunos do curso de medicina. No entanto, a instituição não informou o número exato de estudantes que devem deixar a universidade.
A Atlética de Medicina da Unisa também se manifestou. Segundo os estudantes, as imagens “não representam os princípios e valores” pregados pelo grupo.
“As filmagens circuladas pela mídia não são contemporâneas e não representam os princípios e valores pregados pela A.A.A.J.D.D”, diz. “Não toleramos ou compactuamos com qualquer ato de abuso ou discriminatório. Assim, atletas, torcedores, equipe técnica e todos os envolvidos em nossas competições e eventos são, por nós, incentivados sempre a terem comportamentos pautados em princípios éticos e sociais em que prevaleçam o respeito, a inclusão e igualdade”.
“Reiteramos o compromisso exclusivo com o esporte e seu incentivo dentro do ambiente acadêmico, por acreditar que o mesmo é fundamental para a saúde e o desenvolvimento do atleta”, conclui.