MST

600 famílias lideradas por mulheres reocupam Fazenda São Lukas, em Hidrolândia

Local foi palco de violência contra várias mulheres, incluindo adolescentes

Após a conclusão da destinação da Fazenda São Lukas, localizada em Hidrolândia, para a reforma agrária, 600 famílias lideradas por mulheres sem terra vão reocupar a área nesta segunda-feira (24). A intenção é implantar um projeto agroecológico de produção de alimentos livres de agrotóxicos. A ação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, iniciada em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com o lema “Pela Vida das Mulheres Contra Fome e Violência: Mulheres Sem Terra em Resistência“.

A ocupação possui um significado simbólico para as mulheres sem terra, uma vez que, atualmente, a propriedade não cumpre qualquer função social e foi palco de violência contra várias mulheres, incluindo adolescentes, que foram vítimas de aprisionamento e tráfico sexual para a Suíça. O esquema criminoso perdurou por três anos e afetou principalmente mulheres de origem humilde das cidades de Anápolis, Goiânia e Trindade, em Goiás.

O Acampamento instalado na área é denominado “Dona Neura“, em homenagem a Neurice Torres, vítima de feminicídio em setembro de 2022. Dona Neura era uma assentada da reforma agrária, conhecida por ser uma guardiã do Cerrado e defensora da Agroecologia.

O processo de destinação da propriedade foi transferido pela União, representada pela Superintendência do Patrimônio da União em Goiás (SPU-GO), para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), representado pela Superintendência Regional do INCRA em Goiás.

Fazenda ligada à exploração sexual de mulheres

A primeira ocupação, realizada em 25 de março de 2023, teve como objetivo acelerar o processo de retomada da política de reforma agrária em Goiás. Após ampla visibilidade proporcionada à situação da Fazenda São Lukas, diversas autoridades reuniram-se no Ministério do Desenvolvimento Agrário em Brasília (DF) em 27 de março de 2023 para tratar da destinação da área que havia sido alvo de uma operação que prendeu uma quadrilha de traficantes de mulheres em 2016.

Além de denunciar a violência contra as mulheres, a ocupação tem como objetivo principal recolocar o tema da reforma agrária na pauta de discussão da sociedade e do Estado brasileiro como uma alternativa para combater a fome, o desemprego e a desigualdade social.

Assentamentos em Goiás

Atualmente, em Goiás, aproximadamente 3 mil famílias vinculadas ao MST aguardam pela criação de novos assentamentos. A maioria delas é liderada por mulheres camponesas. Muitos desses territórios são produtivos e organizados com base na autodeterminação das trabalhadoras, após terem sido abandonados devido ao desmonte da política de reforma agrária, que também interrompeu todos os acordos de intenção firmados pelo INCRA para implementar assentamentos em áreas já adquiridas.