‘Alegre, sonhava estudar matemática e se mudar para Bélgica’, diz irmã de jovem trans morta em Goiás
"Não tinha muitos amigos, mas tinha o suficiente. Em casa, nunca sofreu preconceito"

A servidora de laboratório Jordana Cardoso Ferreira, 27 anos, diz que a irmã, Morgana Clemente Ferreira, uma mulher trans de 19 anos morta no último domingo (12), na Cidade de Goiás, era “alegre e sonhava em estudar matemática”. Além disso, ela pretendia se mudar para a Bélgica após concluir os estudos para morar com os primos.
Na terça-feira (14), a Polícia Civil de Goiás prendeu um jovem de 18 anos suspeito da morte de Morgana. No mesmo dia, eles encontraram o corpo da vítima com uma perfuração no abdômen. Segundo Jordana, não houve velório, pois a irmã já estava em estado avançado de decomposição.
“Esse rapaz não era amigo dela. Fazia parte do núcleo de amigos, mas não gostava dela. Ela era muito inocente, não via maldade, e ele chamou ela para beber”, relatou a irmã de Morgana ao Mais Goiás. Segundo ela, contudo, eles nunca tinham brigado. Questionada sobre o que espera, ela diz “justiça”. “Que não saia tão cedo da cadeia e pague pelo que fez.”
Dia a dia
Morgana vivia com a irmã e a mãe, separada do pai. Jordana lembra que a irmã era muito tranquila e gostava de jogar no celular, principalmente o game League of Legends. “Não tinha muitos amigos, mas tinha o suficiente. Em casa, nunca sofreu preconceito”, garante. “Às vezes dizia que o mundo era muito homofóbico, mas não era específica.”
Ela, que se assumiu trans há cerca de três anos e meio, tomava hormônio e pretendia fazer um procedimento cirúrgico. Como mencionado, Morgana tinha o sonho de fazer matemática e havia concluído o ensino médio no meio deste ano.
Morgana teve dois namorados nos últimos anos, que ainda são queridos pela família, e, atualmente, estava solteira. “Ela queria ir embora do país, pois temos primos em Bruxelas, na Bélgica. Queria ir para lá após terminar os estudos”, disse sobre a irmã que teve os sonhos interrompidos.
Crime
Morgana desapareceu em 12 de outubro, após sair de uma lanchonete, na Cidade de Goiás, e foi encontrada dois dias depois. O suspeito do feminicídio, um rapaz de 18 anos, foi preso em flagrante após indicar o local do crime. Conforme o delegado Gustavo Barreto, a motivação seria um desentendimento, que não foi detalhado.
Ao Mais Goiás, ele afirmou que, após a informação do desaparecimento, em 13 de outubro, policiais civis realizaram diligências e descobriram que o suspeito teria sido a última pessoa a ver Morgana com vida. O investigado disse que eles foram a um local conhecido como “Poço da Sota” e ingeriram bebida alcoólica.
Ele, então, levou os agentes ao lugar e eles encontraram o corpo da vítima com um corte na região do abdômen. Conforme a perícia, a mulher teria sofrido um golpe com instrumento perfuro-cortante. “Ao ver a vítima, o suspeito não demonstrou qualquer emoção”, afirmou o delegado. Detido em flagrante, ele teve a prisão convertida em preventiva durante audiência de custódia.
A Polícia Civil continua as investigações do caso por meio da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) da Cidade de Goiás. Ele não teve a identidade divulgada.