autoestima contra o preconceito

Consciência Negra: cabelo afro como expressão da identidade, história e liberdade

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro é um convite para refletir sobre resistência, pertencimento e reconstrução de autoestima.

No Brasil, o cabelo sempre esteve além da estética. Para muitas pessoas, especialmente mulheres e homens negros, ele é parte da identidade, da ancestralidade e, muitas vezes, de uma luta silenciosa contra padrões que tentam definir, por meio do preconceito, o que é ou não aceitável. É nesse contexto que espaços especializados em cabelos crespos e cacheados ganham importância. Não surgem apenas como salões, mas como territórios de resgate, acolhimento e reconstrução de autoestima.

Em Goiânia, o cabeleireiro Édito Pereira tem feito desse propósito um compromisso diário. No salão onde trabalha, cada cacho é tratado como história viva. Ali, o volume não é problema, é celebração. “A sociedade sempre tenta nos definir, e a gente passa uma vida inteira tentando não caber nessas definições,” afirma.

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O especialista em cortes afros reforça que a construção da autoestima de uma pessoa também depende das referências as quais ela é exposta.

“Quando a gente fala de autoestima, ela também se constrói pelas referências que temos. E quando vivemos em uma sociedade onde a primeira princesa negra surge em 2009 e a primeira princesa com cabelo volumoso e curvatura aparece apenas em 2012, entendemos o quanto precisamos olhar para o passado e mexer no presente para construir um futuro com mais possibilidades de escolha e identidade”, pondera.

Mas o caminho até o amor próprio nem sempre é simples. Durante anos, muitas dessas pessoas acreditaram que era necessário esconder aquilo que o espelho mostrava. Foi assim com Francili Carvalho, que passou a infância e parte da adolescência tentando se adequar a um padrão que não a representava.

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Édito Pereira (Foto: Ageu Rosa)

“Aos nove anos eu comecei a fazer química no cabelo, porque eu não conseguia me pentear e já estava grande,” lembra. “Comecei a alisar e era um alívio até certo ponto. Meu cabelo pinicava, eu chorava, mas isso era melhor do que escutar que meu cabelo era ruim, um bombril.”

Francili faz parte de uma geração que cresceu ouvindo que seus fios precisavam ser corrigidos. Hoje, representa o movimento inverso: o de reencontro com a própria imagem. Uma escolha que, mais do que estética, rompe com décadas de imposições e devolve a liberdade de ser quem se é.

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Francili Carvalho (Foto: Ageu Rosa)

O cabelo, afinal, fala antes mesmo da voz. Comunica pertencimento, revela trajetória e, muitas vezes, carrega resistências silenciosas que atravessam famílias e gerações. Neste dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, histórias como as de Édito e Francili lembram que aceitar o próprio cabelo também pode ser reconhecer a própria história. É resgatar memórias. É afirmar identidade. E, principalmente, é reivindicar o direito de existir sem pedir permissão.

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