DESAFIOS

Pessoas com ‘deficiências invisíveis’ relatam dificuldades no dia a dia em Goiânia

O Mais Goiás entrevistou três PCDs que relatam os desafios de portar 'deficiências ocultas'

Pessoas com Deficiência (PCDs) em Goiânia enfrentam além da acessibilidade física, o preconceito e o desconhecimento da legislação. Quem convive com deficiências não aparentes, como fibromialgia ou mobilidade reduzida, relata episódios frequentes de constrangimento em espaços públicos, estabelecimentos privados e até em eventos esportivos. “Quando digo que sou PCD, respondem: ‘Mas você não é cadeirante’”, desabafa a estudante de fisioterapia Elisa Sousa. “É muito difícil ter uma deficiência oculta. Se as pessoas não veem nada ‘aparente’, acham que você não tem direito a nada”, explica.

A servidora pública Tatiana Rodrigues de Moraes de 47 anos convive com fibromialgia e contou ao Mais Goiás os desafios que enfrenta. Ela começou a participar de corridas de rua neste ano e já acumula episódios de desrespeito. Segundo Tatiana, mesmo quando os PCDs largam cinco minutos antes, o tempo de prova só começa a ser contado quando os demais corredores são liberados, o que gera tumulto na pista. “Quando eles saem, saem como loucos, quase nos derrubam, e falam para sairmos da frente”, relata. Além disso, ela destaca que muitas provas não oferecem camiseta no kit para PCDs e que, em alguns casos, há erros de percurso sem correção da organização.

Em uma corrida em Goiânia, por exemplo, Tatiana foi direcionada para um trajeto de 7 km, quando o previsto era 5 km, e mesmo assim não houve premiação. Os constrangimentos também se estendem a outros espaços. Em uma clínica próxima de sua casa, o segurança a impediu de estacionar em vaga de PCD, mesmo com a carteirinha e laudo médico. Situação semelhante ocorreu em um shopping: “Mostrei minha carteirinha visível no carro e expliquei que tenho fibromialgia e problemas na coluna. Ele insistiu, e tive que tirar o carro. Só quero meu direito respeitado”.

A assistente social Márcia Carvalho Soares, 56 anos, também enfrenta dificuldades. Ela passou por cirurgia de mastectomia total com reconstrução mamaria e faz uso de uma prótese – condição que a enquadra como pessoa com deficiência física pela lei. Márcia relata ter sido desclassificada de uma corrida no dia 15 de novembro, em Aparecida de Goiânia, após problemas na largada e falta de sinalização. Segundo ela, não houve explicação para o atraso, e a impressão era de que não queriam liberar os PCDs primeiro. No fim, outros atletas largaram à sua frente, e o erro no percurso a levou à eliminação.

“Fiquei me sentindo péssima, com um vazio e uma tristeza enorme, principalmente pela forma como gritaram comigo na frente de todos”, desabafa. Ela também questiona a falta de premiação nesta categoria. “Se abrem inscrições e pagamos como pessoa com deficiência, acho que deveríamos ter premiação, assim como os outros”, pontua Márcia.

Deficiências ocultas

Para Márcia, parte do problema está na visão ultrapassada sobre quem é considerado PCD. Muitas pessoas acreditam que apenas cadeirantes se enquadram na lei, ignorando deficiências ocultas. “Usamos o cordão girassol justamente para sermos respeitadas em filas de banco, estacionamentos. O símbolo universal de pessoa com deficiência mudou e agora abrange todas as deficiências. As pessoas não respeitam porque não sabem que a lei mudou”.

A estudante de fisioterapia Elisa Sousa Ferreira Silva, de 19 anos, também convive com o estigma da deficiência invisível. Com mobilidade física reduzida devido a escoliose, fibromialgia e sequelas de uma lesão medular, ela afirma que a falta de informação gera olhares de desconfiança.

“Já fui cadeirante por um tempo devido à lesão medular e sei como é difícil. Mas acho que, quando a deficiência não é visível, sofremos mais, pois as pessoas não respeitam nossa condição”, explicou a estudante.

3 de dezembro

O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência (PCDs), celebrado em 3 de dezembro, foi criado pela Organização das Nações Unidas em 1992. A data busca ampliar a compreensão sobre questões relacionadas à deficiência e reforçar a defesa da dignidade, dos direitos e do bem-estar das pessoas com deficiência.

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