‘Deixei meu filho em tratamento e agora ele está preso’, diz mãe de interno que teria sido coagido a atuar em sequestro em Goiânia
"Não vou buscar meu filho na prisão, deixei ele na clínica”, diz mãe de interno

Conversas gravadas obtidas com exclusividade pelo Mais Goiás indicam que um dos internos da clínica envolvida no sequestro de uma mulher de 43 anos, em Goiânia, pode ter sido coagido a participar da ação por um ex-coordenador do Espaço Terapêutico Dom da Vida, localizado em Trindade. O caso, ocorrido no último domingo (2/11), teria sido orquestrado pelo pai da vítima, que buscava interná-la à força após desentendimentos familiares relacionados à herança deixada pela avó.
À reportagem, a mãe do jovem contou que, após saber da prisão do filho, conversou com o atual coordenador do espaço, cobrando providências. O rapaz é suspeito de participar de um crime investigado pela Polícia Civil como tentativa de sequestro. Ele havia sido internado na clínica há cerca de 30 dias, com previsão de tratamento por três meses. Possui laudo psiquiátrico, faz uso de medicamentos controlados e não tinha autorização para sair da instituição.
Durante a conversa que foi gravada pela mulher, um funcionário da clínica confirmou que o jovem e outros dois presos foram recrutados pelo ex-coordenador, que estava de folga, mas comandou a operação à distância, enviando áudio com instrução sobre como conduzir a mulher até a instituição coercitivamente. Apesar disso, o atual gestor tentou isentar a clínica, alegando que o trio teria pego o carro escondido.
A mulher rebateu o colaborador, que entrou em contradição: “Então ele não saiu escondido, saiu com autorização do Renan. O senhor acabou de dizer isso”, afirmou. O funcionário admitiu que o trio tinha acesso às chaves do carro, usado com frequência em outras remoções, mas tentou minimizar o caso ao dizer que o episódio “não foi autorizado oficialmente”. Em seguida, reconheceu: “Sim, eu confirmo que ele teve a autorização do Renan.”
Leia mais
- Pai é suspeito de mandar sequestrar filha para interná-la à força por disputa de herança, em Goiânia
- “Não tem conversa, bota ela no carro”: Representante de clínica orientou internação forçada em Goiânia; áudio
A mãe do suspeito afirmou que o filho está em tratamento psiquiátrico e foi internado para receber cuidados médicos devido à depressão profunda e ao alcoolismo. Segundo ela, o jovem buscou ajuda por vontade própria, após apresentar pensamentos suicidas, e não possui antecedentes criminais e tem trabalho formal. Em desespero, cobrou providências da clínica para garantir a segurança e o bem-estar do filho. “Meu filho tem laudo psiquiátrico. Eu o deixei sob cuidado da clínica e, agora, ele está preso. Quero que tirem ele da cadeia”, disse, chorando.
Ela contou ter entregue o laudo psiquiátrico no momento da admissão e mostrou o contrato firmado com a instituição. “Ele foi usado para um crime. Paguei acreditando que ele estaria em tratamento, e não que seria envolvido nisso”, declarou. Segundo a mãe, foram pagos R$ 1.400, valor correspondente a uma entrada e três parcelas antecipadas.
Durante a conversa, a mãe afirmou ter deixado o filho sob os cuidados da clínica e disse que era responsabilidade da instituição retirá-lo da Casa de Prisão Provisória, afirmando que só o buscaria onde o deixou. O coordenador informou que a clínica tentava pagar a fiança para liberar o jovem e estava em contato com o delegado, mas o rapaz foi autuado em flagrante e não teve direito ao benefício. Ele e os outros dois detidos aguardam audiência de custódia. O caso é investigado com base na Lei Maria da Penha, por envolver violência contra uma mulher, e o jovem responde por lesão corporal e cárcere privado, crimes previstos no Código Penal.
O Mais Goiás entrou em contato com o Espaço Terapêutico Dom da Vida, que não quis se pronunciar sobre o caso até o momento. O espaço, no entanto, permanece aberto para futuras manifestações.
A mulher que havia sido sequestrada e levada à força foi resgatada pela Polícia Militar e, segundo os agentes, apresentava lesões compatíveis com contenção física.
A reportagem tentou contato com o delegado responsável pelo caso, mas ainda não obteve retorno até a última atualização desta matéria.
Leia também