“Efeito bariátrica”: Entenda o que é a Retatrutide, caneta emagrecedora experimental já comercializada ilegalmente em Goiás
O medicamento está em fase de testes clínicos nos EUA e não possui aprovação da FDA ou da Anvisa
Considerada a próxima fronteira da medicina para o tratamento da obesidade, a Retatrutide vem sendo chamada entre usuários de “caneta emagrecedora do efeito bariátrica”. Desenvolvida pela farmacêutica Eli Lilly, a substância é um “agonista triplo”: enquanto o Ozempic atua em um hormônio e o Mounjaro em dois, a Retatrutide age em três receptores (GLP-1, GIP e Glucagon). Nos estudos preliminares, o medicamento demonstrou capacidade de reduzir em até 30% ou mais do peso corporal dos pacientes em 68 semanas de tratamento, resultados que, até hoje, só eram alcançados através de cirurgias bariátricas invasivas.
No entanto, existe um detalhe importante: a Retatrutide ainda não existe oficialmente no mercado. O medicamento está em fase três de testes clínicos nos Estados Unidos e não possui aprovação da FDA (agência americana) ou da Anvisa para ser vendido. Mesmo assim, a alta demanda gerada pelo “milagre do emagrecimento” criou um mercado paralelo perigoso em Goiás. O estado já registra a circulação ilegal de versões falsificadas ou contrabandeadas da substância, vendidas sem qualquer controle sanitário para pessoas que buscam resultados rápidos a qualquer custo.
Em uma operação realizada em novembro, quando ainda estava na Central de Flagrantes, o delegado Humberto Teófilo efetuou a prisão de uma mulher que comercializava a substância ilegalmente. No vídeo gravado logo após a ação, o delegado exibe os itens apreendidos, entre eles uma caixa rotulada como Retatrutide com a caneta emagrecedora e uma máquina de cartão de crédito. “Quem está tomando isso são ‘cobaias’. Presta atenção: tudo que vier falar de Retatrutide é falsificado”, afirmou Teófilo, citando que, como o medicamento original não possui registro nem mesmo no exterior, a versão vendida em Goiás não tem qualquer garantia de procedência.
Sites que prometem facilitar a busca por mercadorias no Paraguai, indicando lojas e preços, já trazem a Retatrutide em seus bancos de dados. Nessas plataformas, os valores do medicamento variam entre 160 e 320 dólares. Conforme levantamento publicado pelo Mais Goiás, as canetas emagrecedoras já figuram entre os cinco produtos mais contrabandeados nas rodovias federais que cortam o estado.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um comunicado esclarecendo que resoluções recentes do órgão proíbem a importação, fabricação, distribuição, comercialização, propaganda e uso de medicamentos à base de agonistas do GLP-1 que não possuem registro no Brasil, como as chamadas canetas antiobesidade.
Segundo a agência, esses produtos não tiveram qualidade, eficácia e segurança avaliadas no país, o que motivou a apreensão de medicamentos importados e de origem desconhecida que vinham circulando irregularmente, inclusive pela internet. A Anvisa afirmou ainda que houve aumento nas evidências de comercialização ilegal dessas substâncias, o que levou à adoção das medidas para proteger a saúde da população.
No comunicado, a agência destacou que a importação de medicamentos sem registro só é permitida em situações excepcionais e exclusivamente para uso pessoal, mediante prescrição médica, o que não se aplica aos casos atingidos pelas resoluções. Com as proibições em vigor, todas as modalidades de importação desses produtos ficam suspensas.
Leia também: