‘Foi Deus que me tocou’: o apelo do ambulante que se ajoelhou diante de Mabel
O vendedor ambulante Wesley Borges da Silva garante não ter planejado. Tampouco ensaiou ou armou…

O vendedor ambulante Wesley Borges da Silva garante não ter planejado. Tampouco ensaiou ou armou a cena que de domingo para cá rodaria às redes sociais e o transformaria, mesmo que sem qualquer identificação num simbolo da informalidade da capital. Foi ele quem se ajoelhou diante do prefeito Sandro Mabel (União Brasil), à porta do Zoológico, e implorou para que sua mercadoria não fosse apreendida. A motivação, conta ele, veio do desespero e também da fé.
“Foi Deus que colocou no meu coração. Era a única forma que eu tinha de tentar chegar ao prefeito. Não é qualquer um que consegue falar com ele. Me ajoelhei para pedir ajuda, não foi para prejudicar ninguém. Só queria continuar trabalhando”, desabafou numa entrevista exclusiva ao Mais Goiás, concedida na manhã desta quarta-feira (23), quatro dias após o episódio. “Aquilo foi uma humilhação, mas fazer o quê?”, indagou.
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A decisão de ajoelhar veio no impulso de quem sente que está sendo encurralado. “Não foi encenação, não pedi pra ninguém gravar. Mas se foi divulgado e pode ajudar a gente, agradeço. O que a gente quer é apoio. Seja do prefeito, do governador, dos deputados, de empresários. Eu tenho um sonho. Quero crescer, quero virar um microempreendedor, dar uma vida melhor pros meus filhos”, desabafa.
Aos 45 anos, Wesley diz que teme não conseguir se reinserir no mercado formal. “Quem vai me contratar agora? Se a gente perde isso aqui, falta o arroz, o feijão, a energia. A gente só quer continuar lutando honestamente”, salientou. A cena que correu a cidade no domingo, segundo ele, não foi teatral. Foi súplica, garante. “Ajoelhei pedindo que Deus tocasse o coração do prefeito. Porque se tirarem a gente daqui, como vamos viver?”
Trabalho com instabilidade
Há mais de uma década, Wesley vende brinquedos e outros itens curiosos, como esculturas em forma de fezes. “O povo compra para dar de presente para amigos em forma de zoeira. Tem gente que fala que vai presentear a sogra”, diz ele, entre risos tímidos. Desde que o Zoológico foi reaberto, em meados de 2012, ele se estabeleceu ali, com outros ambulantes, mesmo sem licenciamento formal.
A fiscalização, de acordo com ele, não é novidade. “Não foi só domingo passado. Teve outras vezes. Já vieram e levaram mercadoria de outras pessoas. A gente tenta conversar, correr atrás de licença, mas até hoje não deram. Mesmo assim, a gente precisa trabalhar. É o nosso ganha-pão”, afirma.
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Wesley afirma que não teve sua mercadoria apreendida dessa vez porque correu antes da chegada dos fiscais. Ainda assim, sofreu perdas. “Brinquedo caiu, estragou. Corri com medo. A gente fica suado, preocupado. Se pegam, a gente volta pra casa sem nada.”
De acordo com o ambulante, já houve tentativas frustradas de diálogo com a Prefeitura em gestões anteriores. E, hoje, a esperança se mantém na promessa de regularização. “A gente não quer ficar na ilegalidade. Ou deixa a gente trabalhar aqui fora, ou põe a gente lá pra dentro do Zoológico. Mas não pode tirar a gente do nada. Tem colega que teve a mercadoria apreendida e nem sabe como vai reaver.”
O que diz a Prefeitura
Procurada a comentar a respeito do assunto, a Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Eficiência (Sefic), enviou o seguinte posicionamento:
A Sefic realiza orientações a todos os vendedores ambulantes que atuam na capital, seguindo o que determina o Código de Posturas do município. No caso mencionado, o prefeito estava orientando o ambulante sobre a legislação e a necessidade de regularização.
A regularização de ambulantes acontece mediante a análise da documentação entregue no momento da solicitação de Requerimento de Atividade Ambulante. A Secretaria lembra que o comércio de produtos em logradouros públicos é proibido segundo o Código de Posturas do Município, e que atende também às recomendações do Ministério Público de Goiás (MP-GO).
Para estar regularizado, o ambulante deve comparecer a uma unidade do Atende Fácil, mediante agendamento. A documentação exigida pode ser consultada no site, clique no link:
https://www.goiania.go.gov.br/sing_servicos/requerimento-atividade-ambulante/.