Goiana de 20 anos atua no socorro a pacientes com suspeita de coronavírus nos EUA
Natércia Bicalho, 20 anos, é assistente de paramédico. Ela afirma que o pai já pediu para se afastar do serviço

Domiciliada nos Estados Unidos desde 2014, a goiana Natércia Bicalho, de 20 anos, trabalha como assistente de paramédico na ambulância de uma empresa privada no estado de Massachusetts. Na última segunda-feira, ela foi acionada para prestar auxílio a um paciente que testou positivo para coronavírus na cidade de Springfield. O episódio reforçou a preocupação dos pais, também goianos, que vivem com ela. Os dois estão pressionando-a para se afastar do serviço, mas ela diz que continuará em sua missão.
“Eu gosto muito do meu trabalho. Meu pai e minha mãe até disseram que eu poderia parar se eu quisesse, mas não é agora, no momento em que o povo mais precisa, que eu vou me afastar”, diz Natércia – cujo sonho é graduar-se em medicina. No momento, ela está no segundo ano do curso de Biologia, que nos Estados Unidos é um estágio obrigatório para alunos que almejam o mesmo diploma que ela.
”Na segunda-feira, eu fui chamada para este endereço e me avisaram no rádio que a paciente tinha sido testada positivo para o coronavírus. Paramédicos ja estavam lá. Não precisei ter contato direto. O que eles queriam era equipamento, como luva, avental e mascara. Me chamou a atenção que a paciente estava com muita falta de ar e tossindo muito. Ela disse também que andava muito de önibus”, conta Natércia.
A garota mora com os pais, o irmão e uma prima. Pai e irmão estão no grupo de risco. “Não estou expondo-os ao perigo, porque no meu trabalho usamos enorme proteção”, explica. A prima também está sofrendo com as consequências do coronavírus, já que é garçonete e uma parte significativa do seu provento vem das gorjetas que recebe em um restaurante que praticamente parou.
Natércia diz que muitos dos seus amigos não se resguardam com a seriedade que o momento exige, o que a deixa irritada. “Eu tenho amigos que estão viajando, saindo e se aglomerando como se nada estivesse acontecendo. Dizem que não vão morrer com o vírus. Mas e se o transmitirem para pessoas idosas ou doentes? Vejo muita falta de amor ao próximo”, afirma.
Muitos dos seus parentes ainda vivem em Goiânia. Estão todos bem e em frequente comunicação com os pais da garota.
Papel higiênico
Natércia e os pais decidiram que não vão estocar mantimentos, em que pese haver uma corrida aos supermercados que ameaça acabar com itens de alimentação e higiene. “Estocagem é uma coisa muito errada. Tem pessoa que acha que está sozinha no mundo. Quando você estoca, você tira comida de outras famílias. É desumano”, afirma.
Nos supermercados, estão em falta álcool em gel, papel higiênico, água sanitária e todo tipo de comida enlatada.
A garota conta que um amigo – também brasileiro – do pai foi vítima desse comportamento. Ele ficou sem papel higiênico em casa e precisou recorrer à solidariedade da comunidade brasileira em Boston para se abastecer.