DESDOBRAMENTO

Justiça decreta prisão de suspeito de abusar de coordenadora em escola de Goiânia

Defesa diz que não foi notificada; sobre as denúncias, o advogado diz que se manifestará sobre os autos

A justiça decretou a prisão de um vigilante de escola suspeito de dopar e abusar de uma coordenadora do Centro de Ensino em Tempo Integral (CEPI) Severiano de Araújo, na região Noroeste de Goiânia. O crime teria ocorrido dentro da unidade escolar. A decisão foi emitida pelo juiz Vitor Umbelion Soares Júnior, na segunda (4), após a requerente alegar descumprimento de medida protetiva e novas ameaças, dentre elas o envio da foto de uma arma de fogo via WhatsApp. O pedido de prisão é do Ministério Público.

“Aqui, pelo que se depreende dos autos do processo, tenho que as medidas protetivas de urgência decretadas não se revelaram suficientes para preservar a integridade física e psicológica da vítima, haja vista que as declarações prestadas junto à Defensoria Pública do Estado de Goiás (…) apontam para a possível prática de novas condutas violadoras das medidas de proteção, incluindo o emprego de grave ameaça à pessoa”, justificou o magistrado.

Ainda segundo ele, a palavra da ofendida tem “especial relevância, devendo ser levada em consideração pelo juízo para aferição do grau de risco a que ela encontra-se submetida, consubstanciando substrato suficiente para a decretação da prisão preventiva, consoante requerido pelo órgão ministerial”.

O advogado do vigilante, Hélio José de Sousa Júnior, informou que não foi notificado do decreto de prisão. “Ele também não está sabendo”, declarou o defensor sobre o cliente. “Em relação as denúncias, falaremos em cima dos autos. Até, então, o que ela alega não tem procedência, filmagem, nada que comprove. O que ela disse nunca conseguiu provar.”

Caso

Vale lembrar, a coordenadora denunciou ao portal que os supostos crimes foram cometidos em janeiro pela diretora e pelo vigilante do colégio (que teve a prisão decretada), respectivamente. A Polícia Civil investiga o caso. Todos os envolvidos foram afastados da função temporariamente. A direção negou os delitos, à época.

Ao Mais Goiás, a vítima, que não terá o nome divulgado, disse que os crimes ocorreram fora do horário do expediente, quando a equipe realizava obras na escola aos finais de semana. De acordo com ela, tais serviços ocorriam sob som alto e consumo de bebida alcóolica por boa parte dos servidores.

A mulher conta que, em um final de semana, foi dopada pela diretora da unidade. “Ela mesmo me confessou que tinha me dado bala. Eu apaguei, perdi os sentidos. Até então, não sabia do abuso. Fui descobrir mais tarde, depois de ser ameaçada pelo autor e ver vídeos do crime”, disse.

Perseguição

Dias depois, sem saber da existência dos vídeos, a coordenadora teve, por cerca de 15 dias, um relacionamento amoroso com o vigilante da escola, que também teve relação com a diretora da unidade. A coordenadora relata que, por notar comportamento agressivo do homem, decidiu colocar fim ao relacionamento.

De acordo com ela, após o término, o suposto autor passou a persegui-la e ameaçá-la. “Dizia que se eu não desse dinheiro, divulgaria fotos e vídeos íntimos. Eu estava tranquila, pois não tinha conhecimento do que ele tinha feito, do abuso que eu tinha sofrido”.

À reportagem, a mulher disse que além do vigilante, a diretora e outra coordenadora da escola passaram a praticar assédio moral. “Elas divulgaram os vídeos para outros professores e até mesmo para os alunos. Foi aí que descobri o que tinha acontecido. Um dos vídeos mostra que estou desacordada e que o vigilante está com o órgão sexual no meu rosto. A gravação foi feita pela própria diretora”, afirmou.

Depois da situação, a profissional decidiu levar o caso à Polícia e solicitar medida protetiva contra os autores. “Tenho três filhas e não tenho mais paz. Estou sendo perseguida e ameaçada. Estão querendo me destruir. Me difamaram para toda a escola, inclusive para os alunos. Só quero justiça”, pediu.

Supostas ameaças à coordenadora

O Mais Goiás teve acesso a prints de mensagens atribuídas ao suspeito. Em uma delas, ele cita que a vítima tem filhas e que pode colocar tudo que tem dela nas redes sociais. “De repente, os vídeos saem em alguns sites. Um Instagram… Fotos reveladas e coladas na porta da sua escola… Não, não… Na escola da sua filha? Você vai ficar de bico fechado. Você vai apagar essas mensagens”, diz em um trecho da conversa.

Ele escreve, depois, que existem muitas histórias “feias” da coordenadora na escola. “Os mesmos que batem em seu ombro te metem a faca nas costas. Esse portão marrom seu é muito exposto. Aberto. Perigoso demais”, insinua conhecer a residência da vítima.

O caso foi registrado na 2ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), na região Noroeste de Goiânia. Em nota, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informou que todos os envolvidos foram afastados das funções “para que não houvesse prejuízo à comunidade escolar”.

O portal não conseguiu contato com a defesa da diretora – à época, a direção negou os delitos. O espaço permanece aberto.

(Foto: Reprodução)