Mães mudam de profissão para conciliar trabalho e maternidade
Entre trocas de fralda e planilhas, mães refazem caminhos profissionais em busca de tempo, renda e presença na vida dos filhos

A maternidade muda a rotina, os planos, o corpo, as certezas e, muitas vezes, transforma também o rumo da carreira. Para boa parte das mães, especialmente as que têm filhos pequenos, chega um momento em que tudo parece um impasse: seguir trabalhando fora ou dar um tempo pra cuidar das crianças? Só que nem todo mundo pode escolher. Muitas, na verdade, não têm essa chance. São elas que seguram as contas da casa, que precisam dar conta do sustento e, ao mesmo tempo, estar presentes.
Uma pesquisa do IBGE de 2022 — “Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil” — mostra que só 56,6% das mulheres de 25 a 54 anos com filhos de até seis anos estavam empregadas. Já entre as que não têm filhos, esse número sobe: 66,2%. O que isso diz? Que ser mãe ainda pesa — e muito — na hora de conseguir ou manter um trabalho.
O Censo Demográfico mais recente reforça esse cenário. Quase metade dos lares no país — 49,1% — são chefiados por mulheres. Isso dá mais de 36 milhões de casas onde elas não só cuidam, mas também sustentam a família.
Diante de tudo isso, muitas acabam redesenhando a própria vida. Mudam de rumo. Trocam de área. Escolhem trabalhos com horários mais flexíveis ou que se encaixem na rotina maluca que é ser mãe.
Foi o que fez Raquel Vasconcelos, 37 anos, mãe de uma menina de sete. Ela trabalhava com carteira assinada, numa rotina engessada, e percebeu que não dava mais. “Eu precisava levar minha filha na escola, estar presente nas datas importantes, nas apresentações. Ao mesmo tempo, precisava pagar as contas”, conta. E foi aí que resolveu mudar. Começou do zero em outra profissão — uma que lhe desse mais autonomia sobre seus horários. Hoje, atua como corretora de imóveis.
Após a maternidade, ela repensou a carreira como analista em regime CLT e decidiu migrar para um ramo em que pudesse ter mais autonomia sobre os próprios horários. “Eu precisava de tempo para levar minha filha à escola, para acompanhá-la nas datas comemorativas, e também de uma remuneração que compensasse essa mudança. Encontrei isso em uma nova profissão”, afirma.
Ela conta que o início foi desafiador, mas que, com o tempo, se adaptou ao novo ofício e colheu resultados. “Hoje me sinto mais leve, feliz e isso impacta diretamente no meu relacionamento com minha filha. Estou menos estressada e consigo me dedicar mais a ela.”
A história de Gisele Francisca, de 47 anos, é parecida. Mãe de dois meninos, ela também mudou de profissão para ter um retorno financeiro maior e condições de cuidar melhor da família. “Na época, meu filho mais velho tinha cinco anos e minha renda era essencial. Depois que engravidei do segundo, fiz uma pausa para me dedicar à maternidade, mas precisei voltar ao trabalho quando ele estava com dois anos.”

Mães com rotina flexível
Após retornar ao mercado de trabalho, Gisele encontrou uma ocupação que lhe trouxe ganhos maiores e mais liberdade na rotina. Com formação em Ciências Contábeis e experiência como Administradora, ela passou a trabalhar como corretora de imóveis. “Hoje sou a principal responsável pelo sustento da casa. Tenho flexibilidade para acompanhar os meninos em consultas, na escola, em tudo o que precisam. Isso faz toda a diferença.”
Além da mudança de carreira, o acolhimento no ambiente de trabalho também é essencial para que as mães consigam exercer sua profissão sem abrir mão da presença na vida dos filhos. Iniciativas como horários ajustáveis, compreensão em relação às demandas da maternidade e espaços adequados para receber os pequenos quando necessário são cada vez mais valorizadas.
Yasmim Weber, de 25 anos, trabalha atualmente como analista financeira. Mãe de um menino de quatro anos, ela conta que a possibilidade de levar o filho ao trabalho em situações pontuais é um alívio. “Já aconteceu de a escola estar sem aula ou de ter consulta médica, e eu pude trazê-lo comigo. Ele fica tranquilo, assiste a um filme, desenha. Saber que posso contar com esse apoio me dá segurança.”
Polyanna Morato, de 37 anos, supervisora de departamento pessoal, também reforça a importância do acolhimento. Mãe de duas meninas, uma delas ainda bebê, ela pensou em desistir da carreira ao engravidar da segunda filha. “Achei que não conseguiria conciliar tudo, mas fui acolhida, inclusive promovida depois da licença. Hoje consigo acompanhar o crescimento das minhas filhas sem abrir mão da minha vida profissional.”