Mais de um ano após ser baleada em salão de Goiatuba, Dyullya faz faculdade, fisioterapia e sonha com o futuro
Crime deixou jovem sem o movimento das pernas

A estudante Dyullya Rodrigues Nunes, de 20 anos, não deixou a violência que sofreu mudar o seu humor e seu coração. Era só simpatia, enquanto conversava com o Mais Goiás sobre seus dias e futuro. Contudo, ela espera justiça nesta quinta-feira (23), no júri do ex-namorado Gleniton Lopes Ribeiro, acusado de tentativa de feminicídio em maio do ano passado contra ela, quando atirou nas costas da jovem, em um salão de Goiatuba, e a deixou sem o movimento das pernas.
A violência que Gyullya sofreu trouxe muitas mudanças na vida dela. A situação não só tirou parte dos movimentos dela, como também fez com que ela parasse de trabalhar. “Não tinha controle de tronco, que precisava para trabalhar no salão.” Ela revela que a mãe também precisou deixar o trabalho. “A rotina de casa mudou.”
A jovem lembra que ficou 40 dias internada após o crime, em maio do ano passado. Durante oito dias, ela não conseguia se mexer e dependia de sua mãe para tudo. Contudo, ela conseguiu recuperar o movimento do pescoço e dos braços. “Faço fisioterapia todos os dias e duas vezes por semana, hidroterapia.” Dyullya revela que tudo é particular, pois não podia esperar o serviço ofertado pela prefeitura. “Hoje me alimento de forma independente e também estudo”, revela. Ainda existem outras dificuldades, mas ela se orgulha da recuperação e espera mais normalidade no futuro.
Em janeiro do ano passado, ela começou a faculdade de Biomedicina, seguindo o exemplo da mãe, em Itumbiara. Ainda hoje, ela segue com os estudos. Segundo a jovem, só foi preciso dar uma pausa durante o tempo que esteve no hospital. Ao voltar para casa, ela transferiu o curso para Goiatuba e segue na modalidade semipresencial. Seu sonho é ter sua clínica e ser uma profissional reconhecida. Inclusive, ela garante que o que mais gosta é estudar. “Meu hobby é estudar”, brinca. “Quando o pessoal me visita, ficam horrorizados de nem TV eu ter no quarto.”
Ela também revela que tem muitos amigos que vão até ela. Dyullya diz que gostava de sair, mas afirma que hoje prefere ficar em casa. “Não sou muito de sair. A questão da independência ainda é um pouco difícil. Antes gostava muito de viajar, mas atualmente fico mais em casa”, diz a estudante, que mora com a mãe, o padrasto e dois irmãos.
Julgamento
O júri do empresário Gleniton Lopes Ribeiro, acusado de tentativa de feminicídio em maio do ano passado contra a ex-namorada Dyullya Rodrigues Nunes, então com 19 anos, acontece nesta quinta-feira. O julgamento será no Plenário Hermes Bernardes dos Santos, na Câmara Municipal de Goiatuba. Ao Mais Goiás, o Ministério Público de Goiás (MPGO) confirmou a sessão às 8h30 e informou que o promotor de Justiça Luan Vitor de Almeida Santana, que atua na 2ª Promotoria de Justiça do município, representará o órgão.
Dyullya revela que, inicialmente, o júri estava previsto para 1º de outubro, mas foi adiado após a ausência dos advogados de defesa do réu. Eles alegaram, em petição, falta de segurança no local. A família dele também não compareceu. Segundo a jovem, a juíza considerou má-fé e determinou aos juristas arcarem com as despesas devidas pelo adiamento. “Ela disse que, caso faltem novamente, um advogado do Estado estará lá para assumir.”
Ela revela que, antes, tinha muita proximidade com a família do ex. Hoje, não tem nenhuma notícia deles ou do réu. Sabe apenas que está preso. “Espero que a justiça seja feita. Não só por mim, mas por todas as pessoas que passaram por essa situação junto comigo e todas que já passaram por isso.”
Caso
Sobre o caso, a jovem Dyullya Rodrigues Nunes aguardava atendimento em um salão de beleza de Goiatuba, quando Gleniton Lopes teria atirado nela pelas costas dela. Segundo a Polícia Civil, eles eram namorados e teriam rompido um relacionamento de dois anos.
Câmeras de videomonitoramento registraram o momento em que o homem tentou matar a ex-namorada. Ainda conforme a corporação, o suspeito entrou no estabelecimento e, após breve conversa, sacou um revólver e efetuou dois disparos que atingiram a vítima na região dorsal. Logo em seguida, ele fugiu em seu veículo e o abandonou.
Ainda sobre a ocorrência, o fim do relacionamento se deu uma semana antes do crime. Além do rompimento, a vítima teria denunciado o ex-companheiro por agressão. A jovem ficou sem os movimentos das pernas em decorrência do atentado. O homem foi preso um dia após o atentado.
Denúncia
O Ministério Público de Goiás (MPGO) ofereceu denúncia no começo de junho do ano passado. Em 22 de agosto de 2024, a Justiça decidiu pela pronúncia do réu (mandar para o júri) em razão da tentativa de homicídio triplamente qualificado. Segundo o MPGO, o crime foi praticado por motivo torpe, mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, contra mulher, por razões da condição de sexo feminino (feminicídio).
Investigação
A Polícia Civil concluiu o inquérito do caso em 5 de junho e o suspeito foi indiciado por tentativa de feminicídio com a agravante de descumprimento de medidas protetivas e posse irregular de arma de fogo. Na denúncia, o MP disse que o acusado somente não cumpriu seu desejo de matar, porque a vítima foi imediatamente socorrida e transferida para Goiânia em UTI aérea.