Médico acusado de racismo pode ter que construir “Memorial do Povo Negro” em Goiás
O caso ocorreu em fevereiro deste ano, quando o patrão gravou um vídeo em que a vítima aparecia com os pés e pulsos amarrados com uma corrente

O médico Márcio Antônio Souza Júnior, acusado de racismo contra um funcionário, pode ter que construir um ‘Memorial do Povo Negro’, em Goiás. O caso ocorreu em fevereiro deste ano, quando o patrão gravou um vídeo em que a vítima aparecia com os pés e pulsos amarrados com uma corrente, em que o trabalhador era apresentado como escravo em uma senzala. Na quinta-feira (1º), uma ação coletiva pediu que o médico pague pela obra como reparação dos danos causados.
O profissional passou a ser investigado por injúria racial após divulgar o vídeo nas redes sociais. Dias depois ele apareceu ao lado do funcionário dizendo que o caso não passou de “brincadeira”. As imagens foram gravadas em uma fazenda localizada na zona rural da cidade de Goiás. O médico foi denunciado pelo Ministério Público, mas não chegou a ser detido.
Nas imagens, o funcionário negro aparece com pés e pulsos amarrados por grilhões presos a uma corrente e uma gargalheira (espécie de coleira de ferro) em seu pescoço.
Ação coletiva contra médico acusado de racismo em Goiás
O pedido de construção do Memorial foi feito a partir de ação coletiva da Defensoria Pública, movimentos sociais antirracistas e do Núcleo de Práticas Jurídicas da Universidade Federal de Goiás (NPJ UFG).
Como forma de reparar os danos morais cometidos, os autores pedem que o empregador financie a construção de um Memorial do Povo Negro, na Cidade de Goiás, local onde ocorreram os fatos. Além disso, o homem deve custear formação profissional para a população negra do município, com disponibilização de cursos e bolsas de estudo, que serão administrados pelo Memorial do Povo Negro.
Também é requerido o bloqueio imediato de todos os bens do empregador para promover a reparação por danos morais. A causa tem o valor de R$ 2 milhões.
“Essa ação civil pública é necessária porque tem educação em direitos, e além disso uma uma educação antirracista, para mostrar que o ato feriu toda a comunidade”, destacou o o defensor público e coordenador do NUDH, Marco Túlio Félix Rosa.
De acordo com o coordenador do NPJ campus Goiás, Humberto Góes, a ação é protagonizada pelos movimentos sociais raciais do Estado. “Os movimentos sociais são os protagonistas dessa ação. E a responsabilização sobretudo pelos danos morais coletivos é fundamental para que a gente comece a dar um basta efetivamente no racismo no Brasil”, explica.
A ação tem como autores o Movimento Negro Unificado (MNU), o Centro de Referência Negra Lélia Gonzales, Grupo Mulheres Negras Dandara no Cerrado; Instituto Braços – Centro de Defesa de Direitos Humanos em Sergipe; Associação Anunciando a Consciência Negra com Meninos de Angola e a Associação Quilombola Alto Santana, que atuam com a Assessoria Jurídica do NPJ/UFG-Campus Goiás, e do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de Goiás.
O Mais Goiás tenta contato com o médico.