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Mulher que ajudou adolescente mantida em cárcere por trisal conta como encontrou a jovem: ‘estava muito debilitada’

Jovem contou sobre as agressões e pediu ajuda para encontrar o pai

Em entrevista ao Mais Goiás, Albanita Aires Marques Vilas Boas, a mulher que ajudou uma adolescente de 16 anos mantida em cárcere privado em Goiânia, contou que encontrou a menor em um ponto de ônibus próximo à pecuária. Segundo o relato, a menina estava muito debilitada. A vítima era mantida em cárcere por um trisal composto pela mãe, o padrasto e uma outra mulher.

Albanita relatou que o encontro com a adolescente aconteceu logo após ela chegar de viagem, na última sexta-feira (21). A dona de casa relatou que estava em um ponto de ônibus próximo a pecuária, onde iria solicitar um carro de aplicativo. Nesse momento, a jovem se aproximou e pediu ajuda.

“Veio uma adolescentezinha e me abordou. Perguntou se eu poderia fazer uma ligação para ela. Eu percebi que ela era muito jovem e questionei para quem. Ela disse que seria para o pai dela”, contou. Segundo a mulher, a adolescente revelou que havia fugido de casa porque “não aguentava mais apanhar”. Albanita afirmou ter percebido de imediato o estado de fragilidade da menina. “Ela estava muito debilitada, muito magra, bem desnutrida mesmo e com aparência assim de quem não tomava banho há dias.”

A mulher conseguiu ligar para o pai da jovem, que mora no Entorno do Distrito Federal. “Eu falei o nome dela e perguntei se ele conhecia. Ele disse que era a filha dele e que queria muito falar com ela.” A adolescente chorou ao falar com o pai e pediu que ele não avisasse a mãe. Segundo Albanita, a garota temia voltar para casa porque sofria constantes agressões. A mulher então decidiu acolhê-la. “Eu falei para ela que para onde eu fosse, a partir daquele momento ela iria comigo.”

Relatos de tortura

A jovem contou para Albanita que vivia na residência onde morava com a mãe, o padrasto, uma outra mulher e uma criança. Ela disse que vivia uma rotina marcada por violência e relatou que passava dias sem comer, sem tomar banho, era agredida, além de dormir na área de serviço da casa. Também trabalhava na confecção de bermudas mantida pelos três adultos que formavam o trisal responsável por ela. “Você percebia que era uma menina torturada física e psicologicamente. Era muito sofrida, inteligente, muito educadinha, mas muito sofrida”, relatou Albanita.

A adolescente explicou que as agressões eram cometidas pela mãe e pelo padrasto e aconteciam sempre que ela cometia qualquer erro, mesmo que mínimo, nas tarefas domésticas ou no trabalho. Segundo ela, a mãe e o padrasto a puniam por qualquer atitude que considerassem inadequada, como dobrar uma peça de roupa de forma diferente ou demorar para cumprir uma ordem. Nessas situações, era espancada, recebia queimaduras e ficava ainda mais privada de alimentação e higiene.

Criança agredida

Segundo Albanita, a adolescente contou que também presenciava agressões contra uma criança de 8 anos, filha da terceira mulher do trisal.

Com medo de que os responsáveis estivessem procurando a adolescente, Albanita a levou inicialmente ao Hospital Goiana Leste, para mantê-la em local público e seguro. Depois a levou para o apartamento da mãe, onde a jovem se alimentou e permaneceu até que o pai chegasse por volta das 14h. “Foi um encontro muito emocionante. O pai feliz por ver a filha, mas triste e revoltado pela situação que encontrou.”

A dona de casa afirmou que mantém contato com o pai e a madrasta da adolescente.

Versão do pai

O pai relatou que, desde que a ex-mulher se mudou para Goiânia, perdeu contato com a filha. Ele contou ainda que sempre que tentava falar com a adolescente, a mãe bloqueava o acesso e inventava mensagens para afastá-los.

A conselheira tutelar que acompanha o caso disse que a jovem era obrigada a passar noites ajoelhada e proibida de tomar banho. A fuga só foi possível porque uma escada foi deixada próxima ao local onde ela dormia, permitindo que pulasse o muro com concertina e caminhasse até o ponto de ônibus onde encontrou Albanita.

A menina foi encaminhada ao Hospital Estadual da Mulher (Hemu) e ao Instituto Médico-Legal (IML) para exames. A Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher (Deaem) investiga o caso.

O nome dos envolvidos não foi divulgado e a reportagem não conseguiu localizar as defesas. O espaço permanece aberto para manifestação.