‘Não somos monstros’, diz mãe de acusado de causar acidente que matou policiais do COD
Júri foi dissolvido nesta semana após 19 horas de julgamento; Andrez diz que filho seria absolvido

“Não somos monstros.” Essa é a afirmação de Andreza Aparecida Paniagua, uma mãe que vê o filho no banco dos réus. Trata-se de Jhonatan Murilo Leite, motorista que conduzia o caminhão que colidiu com uma viatura do Comando de Operações de Divisas (COD) na BR-364, em Cachoeira Alta, no Sudoeste goiano, em abril de 2024, e causou a morte de quatro policiais. O júri dele foi dissolvido na quarta-feira (17) após uma jurada cometer um erro.
Andreza saiu de Bebedouro (SP) e viajou para Rio verde. Só então pegou um ônibus para Cachoeira Alta para poder acompanhar o júri do rapaz. Ao Mais Goiás, ela afirma que o filho tem sido alvo de uma narrativa desumanizadora pela acusação. O julgamento foi anulado após 19 horas. Nesse período, a mulher diz que Jhonatan foi reduzido, enquanto o Ministério Público utilizava argumentos “absurdos” durante o júri, inclusive interpretações sobre tatuagens e o comportamento dele, para rotulá-lo como um criminoso implacável.
“Tinha gente que me oprimia [no julgamento]. A todo momento gritando que meu filho ‘já era’ e que ia pegar mais de 40 anos de cadeia, e que ainda seria pouco”, desabafou.
Pelas acusações, a mulher diz parecer que o filho seria uma “máquina mortífera”, o que ela contesta. Ela afirma, inclusive, que Jhonatan passa por acompanhamento psicológico na prisão devido ao trauma do acidente. “Sinto muito por tudo que aconteceu, tive muita vontade de conversar com as famílias dos policiais e falar que a gente sente muito mesmo. Mas nós somos seres humanos, não somos monstros igual o promotor falou”, declarou.
Ainda segundo ela, a promotoria questionou a presença de seu neto de dois anos, que é autista, no plenário. Andreza afirmou que a criança estava lá por necessidade logística da família e não por estratégia de defesa.
Questionada sobre o que espera do julgamento, ela afirma que “Deus sabe de toda a verdade e ele conseguirá a absolvição”. Inclusive, Andreza afirma que o filho seguia para uma absolvição quando foi anulado o júri. “Perícias provaram que meu menino não invadiu a pista. Testemunhas também disseram.”
Ela reforça que o filho jamais teve problema com a polícia ou com a Justiça. “Não tem nem nunca teve passagem ou qualquer outro problema.”
Júri dissolvido
A decisão do juiz Filipe Luis Peruca ocorreu após ele perceber que uma jurada embaralhava as cédulas de votação para colocá-las na urna. Indagada, ela disse que era seu primeiro júri e que não expressou sua vontade, votando aleatoriamente. O representante do Ministério Público, então, requereu “a dissolução do Conselho de Sentença, ao argumento de violação à regularidade do procedimento de votação, por comprometimento da livre e consciente manifestação de vontade da jurada”.
Conforme o magistrado, “nos termos da legislação processual penal que rege o procedimento do Tribunal do Júri, o voto do jurado deve consistir na expressão direta, pessoal e consciente de sua convicção”. Desta forma, o magistrado determinou a dissolução do conselho de sentença.
Sobre o caso, o acidente aconteceu na noite de 24 de abril, quando o caminhão carregado com 70 toneladas de milho bateu de frente com a viatura dos militares. As vítimas foram o subtenente Gleidson Rosalen Abib, o 1º sargento Liziano José Ribeiro Junior, o 3º sargento Anderson Kimberly Dourado de Queiroz e o cabo Diego Silva de Freitas.
Inicialmente, outro homem assumiu a direção do veículo, mas testemunhas confirmaram que Jhonatan era o verdadeiro condutor. Ele dirigia sem a categoria adequada na CNH e teria contado com a ajuda de terceiros para encobrir sua participação no acidente.
A perícia apontou que o caminhão trafegava acima da velocidade permitida e invadiu a pista contrária. Marcas de frenagem de 30 metros reforçam essa versão. Para o promotor Geibson Cândido Martins Rezende, responsável pela denúncia do Ministério Público de Goiás (MPGO), o motorista tinha plena ciência dos riscos e ignorou as normas de trânsito, colocando em perigo a própria vida e a de terceiros. Além disso, o órgão descartou a hipótese de ultrapassagem irregular por parte da viatura.
Na ocasião, a defesa de Jhonatan sustentou que ele dirigia em velocidade compatível e que a colisão ocorreu porque a viatura tentou ultrapassar outro veículo. No entanto, um laudo técnico anexado ao processo contradiz essa versão.