CASO QUE CHOCOU

O que se sabe sobre a saúde mental do homem que matou o ex-sogro na farmácia em Goiânia

João do Rosário Leão foi morto na farmácia da qual ele era dono por tiros disparados pelo ex-genro, em Goiânia

Um dos capítulos mais arrastados do julgamento de Felipe Gabriel Jardim, o homem que matou o ex-sogro João do Rosário Leão em junho de 2022 dentro de uma farmácia no setor Bueno, em Goiânia, foi a discussão sobre a saúde mental do réu. Esse debate aconteceu antes da decisão de pronúncia, que concluiu por levar o réu ao tribunal do júri. O Mais Goiás teve acesso ao laudo produzido pela junta médica do poder Judiciário, a pedido do juiz Antônio Fernandes de Oliveira. O laudo diz que Felipe é portador de perturbação mental, mas que a patologia não tirava dele a consciência sobre o que ele estava fazendo.

“Felipe Gabriel Jardim Gonçalves é portador de perturbação de saúde mental. Porém, quanto ao crime de que é acusado, a sua capacidade de entendimento era plena, assim como sua capacidade de determinar-se segundo o seu entendimento. Não há nexo de causalidade do tal ato criminoso e de sua condição mental à época do crime em tela”, diz o laudo.

“A motivação para o acontecimento não decorre de forma alguma diretamente da condição mental que possui; a dinâmica do crime descarta a dificuldade para controlar impulsos, nota-se que há planejamento para chegar a um fim, portanto tinha entendimento e determinação preservados quanto ao crime do qual é acusado”, continua o documento.

O julgamento de Felipe Gabriel começou na última quarta-feira (15), três anos e quatro meses depois do crime. No entanto, foi interrompido no momento em que Kennia Yanka, filha de vítima e ex-namorada do réu, era interrogada pela defesa. O advogado que representa os interesses da família de João do Rosário, Emanuel Rodrigues, relata uma das juradas passou mal no momento em que Yanka ouvia perguntas duras como se ela era usuária de drogas, se havia conhecido Felipe no motel e se ela tinha consciência de que, se não existisse na vida do réu, o pai dela ainda estaria vivo.

Incidente de insanidade mental

O incidente de insanidade mental foi aberto pelo juiz a pedido da defesa de Felipe, logo após o poder Judiciário recepcionar a denúncia do Ministério Público. A junta analisou o acusado e concluiu, textualmente, que o réu tem “propensão à desorganização psíquica, tanto na sensopercepção quanto no juízo de realidade, o que aponta para maior probabilidade de episódios depressivos com sintomas psicóticos”, embora, vale frisar mais uma vez, esse quadro não fosse determinante para o crime.

A estratégia da defesa era convencer o juiz de que Felipe era inimputável em razão de transtornos mentais e, dessa forma, livrá-lo da cadeia. Emanuel diz que os advogados discordaram do laudo e abriram uma nova frente no âmbito do processo, questionando a idoneidade da perícia responsável pelo exame.

“Foram dois anos e seis meses dedicados a questões como essa, e só então é que conseguimos que a decisão de pronúncia (que levou Felipe ao tribunal do júri) transitasse em julgado”, lembra Emanuel. Depois disso, o juiz Antônio Fernandes marcou o júri para esse dia 15 de outubro de 2025, data em que a família esperava que o desfecho fosse acontecer.

O crime

João foi morto dentro da família da qual ele era dono, na avenida T-4, no alto do setor Bueno. No fim de semana anterior, ele havia demonstrado comportamento agressivo na frente da namorada, Kennia Yanka (hoje com 29 anos), e do pai dela, João do Rosário, a quem ele viria a matar.

Kennia terminou o namoro e, na segunda-feira, voltou a falar com Felipe para tratar de dívidas que ele teria feito no cartão de crédito dela. Teria sido aí que Felipe, segundo a acusação, soube que João havia registrado boletim de ocorrência contra ele e avisado que iria matar o ex-sogro. Pouco depois, ele cumpriu a promessa.

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