Cidades

Os números de nossa tragédia

Desde pequeno ouço que os números são frios, que as estatísticas não dão conta de…

Desde pequeno ouço que os números são frios, que as estatísticas não dão conta de transmitir emoção. Sempre concordei com a tese. Afinal, quando leio que em um acidente morreram tantas pessoas e ficaram tantas feridas, sendo que algumas em estado grave, não consigo de imediato enxergar que ali estão inclusos pais, mães, filhos, amores, sonhos, projetos, esperanças e pedidos de desculpa que nunca mais poderão ser pedidos. Erro meu, é claro. Mas que muitos mais cometem. E na tragédia brasileira que vivemos atualmente, os números são tão absurdamente colossais que ficamos entorpecidos com unidades, dezenas, centenas, milhares, milhões, bilhões e sei lá quantos mais zeros para dimensionar o buraco em que estamos.

Vejam as unidades de medida. Podemos usar metros, reais, quilômetros, mortos, percentual, internados, dólares, vacinas e mais um monte de possibilidades que dão cara ao problema.

No momento, são mais de 257 mil mortos de covid-19 no Brasil para mais de 10,5 milhões de contaminados. Se seguirmos nessa toada, quando todos os cerca de 210 milhões de brasileiros estivermos contaminados, seremos mais de 5 milhões de mortos. Isso é mais do que a população do Acre. Ou de Alagoas. Ou do Amapá, Amazonas, Espírito Santo, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins. Sim, todos esses estados têm menos de 5 milhões de habitantes.

Mas esse nível de números de mortos não vai acontecer. Aleluia! Afinal, já temos mais de 7 milhões de vacinados. Isso representa pouco mais de 3% do total da população brasileira. Chegamos a esse número em 45 dias desde o início da vacinação. Nesse ritmo, serão necessários 1.350 dias para vacinarmos todos brasileiros. Ou 45 meses. Ou quase quatro anos.

Eu poderia também falar de outros números. Tipo mansão de R$ 6 milhões para quem recebe salário líquido de R$ 25 mil. Ou de 4,1% de queda do PIB. Ou ainda de R$ 89 mil que aparecem na conta da esposa de alguém. Mas acho que a enxurrada de números já está ficando muito longa.

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Jucimar de Sousa/Mais Goiás