‘Perícia será determinante para avaliar condição psíquica’, diz defesa de ‘Dexter’ goiano
Advogados afirmam que Gustavo "é portador de doença mental diagnosticada, encontrando-se em acompanhamento psiquiátrico regular desde a infância, anterior aos fatos"

Glauber Roger Oliveira Nunes e Reny de Matos Quaresma, advogados de Gustavo André, de 18 anos, chamado de ‘Dexter’ goiano por supostamente matar um homem de 69 anos que ele teria acusado – sem provas – de cometer abuso a uma criança, afirmam que a “perícia técnica será determinante para avaliar sua condição psíquica no momento do ocorrido”. O suspeito foi preso na segunda-feira (17), suspeito de atacar e matar o idoso com um cutelo e ferir a filha dele, de 17 anos, na Vila União, em Goiânia. Na quarta-feira (19), o juiz Jesseir Coelho converteu a prisão em preventiva.
Em nota exclusiva ao Mais Goiás, a defesa de Gustavo afirma que ele “é portador de doença mental diagnosticada, encontrando-se em acompanhamento psiquiátrico regular desde a infância, anterior aos fatos”. Ainda conforme os advogados, todas as medidas legais estão sendo adotadas, “com integral cooperação junto às autoridades responsáveis pela apuração”.
Na audiência, durante o depoimento, Gustavo disse que foi agredido pelos policiais e negou o crime. Ele também afirmou que as autoridades criaram esse apelido de “Dexter” e que ele não se inspirou na série. “Isso não é verdade. Imputaram a mim para me prejudicar de alguma forma, mesmo não sendo eu.”
“Queriam quebrar o meu dedo para que eu colocasse a senha do celular”, continuou. Ainda segundo ele, abriram a porta do quarto dele à força e bateram nele. “Um policial colocou a arma na minha boca e disse que se eu não contasse nada, ele iria me matar”, declarou. “Me forçaram a fazer uma coisa que eu não queria.” Ele também relatou que nunca utilizou o cutelo, que seria a arma do crime. A defesa, por sua vez, pediu a internação provisória devido a um suposto transtorno de bipolaridade.
Acerca da suposta agressão policial, a promotoria solicitou que a cópia dos autos seja enviada à corregedoria da Polícia Militar (PM), o que foi deferido pelo magistrado. O promotor Luis Guilherme Gimenes também disse não haver comprovação, neste momento, de que ele seria incapaz ou relativamente incapaz, por isso reforçou o pedido de conversão em prisão preventiva e que o homem seja colocado em cela separada até a realização de exames.
O magistrado entendeu não haver irregularidades no auto de prisão em flagrante. Ele também afirmou que é preciso uma análise de saúde mental no investigado. “Eu vou converter o flagrante em prisão preventiva, sendo o presídio oficializado que ele fique em cela separada. Não podemos determinar a internação neste momento sem ouvir a junta médica do tribunal.”
Caso
Segundo informações colhidas pela Polícia Militar (PM) de Goiás, o rapaz se inspirou em ‘Dexter’, serial killer de série ficcional que, na trama, age contra outros assassinos. O suspeito afirmou acreditar – sem indícios ou provas – que o idoso teria cometido um crime contra uma criança e resolveu agir por conta própria. Ao portal, as fontes, que pediram para não serem identificadas, classificaram a acusação como uma invenção completa de uma mente doente para justificar a barbárie.
Elas reforçaram que o idoso era um bom homem e pai, e que nunca mexeu com nenhuma criança. Uma das fontes declarou, ainda, que o suspeito é “totalmente psicopata e está inventando essas coisas horríveis para manchar a memória de um homem inocente”. Para essas pessoas, a tentativa do assassino de imputar crimes de pedofilia à vítima é uma estratégia para desviar o foco da brutalidade do ato.
A Polícia Militar corroborou a versão da família, informando que não há qualquer registro ou denúncia de crimes sexuais contra o idoso. A investigação trata o caso como um homicídio motivado por delírios do agressor, que afirmou ter esquizofrenia.
Apuração
A investigação começou ainda na madrugada de domingo para segunda, quando vizinhos ouviram pedidos de socorro e chamaram a polícia. A adolescente, mesmo ferida, conseguiu relatar que o agressor entrou de forma repentina, atacou o pai com um cutelo e depois voltou-se contra ela. O socorro foi acionado e ela foi encaminhada a um hospital, onde recebeu atendimento de emergência.
Durante as buscas, equipes foram distribuídas em diferentes regiões e, aos poucos, relatos de moradores começaram a chegar. Alguns mencionaram ter visto o jovem caminhando sozinho, aparentemente agitado, repetindo frases desconexas. Esse tipo de informação, comum em operações desse tipo, ajudou a reduzir o perímetro de localização.
Ao ser encontrado, o rapaz revelou que tinha comprado o cutelo pela internet dias antes e que queimou as roupas usadas no ataque em uma fornalha improvisada no quintal onde mora. Ele levou as equipes ao lote baldio onde descartou a arma.
‘Dexter’ na vida real
Os policiais relataram que, enquanto prestava depoimento inicial, o jovem falava do ataque como se estivesse descrevendo cenas de um roteiro, misturando elementos da vida real com fragmentos da série que acompanhava. Em outro momento, mencionou que faz uso de medicamentos controlados e que possui diagnóstico de esquizofrenia, no entanto, essa informação ainda será confirmada.
Segundo a PM, não há qualquer indício ou registro de que o idoso tivesse cometido o crime citado pelo suspeito. A corporação reforçou que a tentativa de “fazer justiça” por conta própria, além de ilegal, coloca em risco pessoas inocentes e expõe famílias inteiras à violência.
O caso segue agora para investigação da Polícia Civil, que deve apurar tanto a motivação quanto as condições psicológicas do rapaz no momento do ataque.
Serial killer na ficção
A série de ficção Dexter acompanha a rotina de um perito forense que, longe do trabalho, leva uma vida dupla como serial killer. O personagem central elimina outros assassinos que, segundo a trama, escapam do sistema de justiça.
Nota da defesa de Gustavo André:
“A defesa de Gustavo André informa que a prisão preventiva foi decretada pelas autoridades competentes dentro do rito legal aplicável ao suposto fato criminoso atualmente investigado. Ressalta-se que Gustavo é portador de doença mental diagnosticada, encontrando-se em acompanhamento psiquiátrico regular desde a infância, anterior aos fatos. A perícia técnica será determinante para avaliar sua condição psíquica no momento do ocorrido. Registra-se, por fim, que todas as medidas legais estão sendo adotadas, com integral cooperação junto às autoridades responsáveis pela apuração.”