Ser pai, ser coragem: jornalista conta sua jornada de paternidade como homem LGBT+
Em entrevista ao Mais Goiás, Johny Cândido conta como é criar os filhos ao lado do marido Pedro e enfrentar desafios sendo um homem LGBT+

Neste Dia dos Pais, o jornalista Johny Cândido celebra a realização de um sonho que nasceu ainda na juventude. Desde muito cedo, ele sabia que queria ser pai, mas, na adolescência, ao compreender que sua orientação sexual era diferente da maioria, chegou a imaginar que esse desejo poderia ficar para trás. Não desistiu. Casado com o parceiro Pedro, Johny buscou alternativas para formar sua família e, após algumas tentativas que não deram certo, encontrou no processo de barriga solidária o caminho para transformar o sonho em realidade.
O plano envolveu uma amiga próxima, que aceitou gerar os filhos, e o apoio de um banco de doadoras anônimas de óvulos. Dois embriões foram fecundados — um com o sêmen de Johny e outro com o do marido — e implantados no útero da amiga. “Nossos filhos são irmãos por parte de mãe e, biologicamente, cada um é filho de um de nós. Mas, no registro, somos igualmente pais”, explica. O desejo era claro: até os 35 anos ele queria ter filhos. O objetivo se concretizou aos 34.
Um início marcado pela superação
O nascimento dos gêmeos, no entanto, trouxe grandes desafios. Mariana e Gael vieram ao mundo com apenas 25 semanas de gestação — pouco mais de cinco meses e meio — e pesavam 585 e 835 gramas, respectivamente. Foram meses de internação na UTI neonatal. Mariana, embora tenha enfrentado várias intercorrências, não sofreu sequelas graves e hoje, aos quatro anos, vive como qualquer criança da idade. Gael, por outro lado, teve uma parada cardíaca que resultou em paralisia cerebral. Hoje, é cadeirante e não fala, mas mantém um cotidiano alegre e afetuoso.

As personalidades dos dois são opostas e complementares. “A Mariana é independente, altruísta e não é muito de abraços e beijos. Já o Gael é calmo, muito carinhoso e ama receber carinho. Ele acorda sorrindo; ela precisa de um tempinho para ‘fazer o download’ e começar o dia”, conta Johny, com bom humor.
Ser pai e ser resistência
Criar dois filhos sendo um homem gay é também um ato de coragem diária. Johny lembra que, embora não tenha sofrido preconceitos abertos no convívio social, já enfrentou situações constrangedoras em instituições e formulários que exigiam “o nome da mãe”. “Meus filhos não têm mãe. É filiação, e somos dois pais. As pessoas precisam se adaptar a essa realidade”, afirma.
O casal já foi alvo de comentários ofensivos nas redes sociais, especialmente quando os filhos ainda estavam internados. Mas a postura diante disso é clara: não deixar que o preconceito enfraqueça a alegria de viver a paternidade. “Não precisa aceitar a minha família, mas respeitar. Porque amor entre pais e filhos é universal”, ressalta.
Para Johny, o maior aprendizado dessa jornada é ter deixado de pensar apenas em si. “Aprendi que sempre serei o SOS dessas vidas. Não tem tempo para reclamar ou adiar, a gente simplesmente segue, firme. E cada sorriso, abraço ou um simples ‘te amo, papai’ faz tudo valer a pena.”
O momento mais marcante? Ele não hesita: segurar os filhos pela primeira vez na UTI. “Eles eram tão pequenos que parecia que iam grudar no meu peito, como se fossem parte de mim.” Hoje, cada gesto de afeto é combustível para seguir. E, neste Dia dos Pais, Johny comemora não só a família que construiu, mas a coragem que o move todos os dias.
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