Sindicato Rural de Rio Verde afastou funcionária que denunciou abuso, revela delegada
Quatro vítimas foram identificadas até o momento

Uma das funcionárias do Sindicato Rural de Rio Verde foi afastada do cargo assim que denúncias de abusos sexuais vieram à tona dentro da instituição. A informação foi confirmada pela delegada Fernanda Simão, responsável pela investigação na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). Com base nos relatos colhidos, nas provas reunidas e na gravidade dos fatos, o Ministério Público de Goiás denunciou o ex-presidente da entidade, Olávio Teles Fonseca, por crimes sexuais, violência psicológica e coação.
Ao Mais Goiás, a delegada informou que, até o momento, foram identificadas quatro vítimas: duas mulheres e duas adolescentes de 17 anos, sendo elas, duas funcionárias efetivas e duas menores aprendizes. Além da menor que foi afastada, duas vítimas já não faziam mais parte do quadro de funcionários quando a denúncia foi apresentada e outra estava afastada por motivos médicos na época em que o inquérito policial foi concluído.
A denúncia, divulgada nesta quarta-feira (10), pela TV Anhanguera, aponta que os abusos aconteciam dentro da sala da presidência, único ambiente sem câmeras de segurança. O local possuía isolamento acústico e uma trava eletrônica controlada exclusivamente por Olávio. Segundo os depoimentos, as vítimas eram chamadas ao espaço durante o expediente sob o pretexto de tratar de assuntos administrativos, mas relataram ter sido submetidas a comentários sobre seus corpos, toques sem consentimento e práticas de cunho sexual.

Com o aumento das suspeitas entre os servidores, Olávio teria negado as acusações e chorado, interrompendo os episódios. Ainda assim, relatos indicam que a perseguição às vítimas se intensificou. Funcionárias afirmaram que o ex-presidente se dizia influente, rico e que nunca seria preso. Ele também teria afirmado que poderia matar quem se voltasse contra ele.
O Ministério Público também denunciou o diretor de Tecnologia da Informação do sindicato, Miguel Mendonça Cardoso. A investigação aponta que ele procurou vítimas para convencê-las a negar os fatos e manter silêncio, o que configuraria tentativa de acobertamento dos crimes.
A delegada Fernanda Simão reforçou que, em investigações de violência sexual, é comum que novos relatos apareçam conforme o processo avança. Segundo ela, com duas das vítimas os abusos ocorreram por anos. Em relação às adolescentes, houve três episódios com uma e um episódio com a outra. Uma das vítimas recebeu medidas protetivas deferidas pelo Judiciário. As demais já realizam acompanhamento psicológico particular e foram informadas de que podem buscar apoio no setor de psicologia da delegacia, caso necessário.
As investigações começaram em setembro, após uma denúncia anônima, e resultaram na prisão de Olávio em 12 de novembro, na sede do sindicato. Em nota, a entidade informou que o ex-presidente pediu afastamento voluntário e reforçou que não compactua com práticas que violem princípios éticos ou institucionais.
A defesa de Olávio afirmou ter recebido a denúncia com “absoluta tranquilidade” e declarou que nenhuma acusação será comprovada ao longo do processo. Os advogados alegam que não há justificativa para a prisão preventiva e sustentam que o cliente possui residência fixa e atividade lícita. Em razão do segredo de justiça, disseram não poder comentar detalhes do caso.
A defesa de Miguel Mendonça Cardoso não foi localizada até o fechamento desta reportagem. O espaço permanece aberto para manifestação.