Crítica

Kong: A Ilha da Caveira é pipocão de primeira qualidade

Novo filme do monstrengo conserta os erros do último Godzilla e prepara o terreno para mais monstros gigantes

Em 2014, a Warner tentou ressuscitar o cinema de monstros gigantes nos EUA com Godzilla. Apesar de um bom roteiro, da direção experiente de Gareth Edwards e do elenco estelar com Elizabeth Olsen, Aaron Taylor-Johnson e Bryan Cranston, o filme não foi um sucesso. O novo Godzilla tinha um erro fatal: ele é um filme chato.

Três anos depois, a Warner traz Kong: A Ilha da Caveira como uma sequência espiritual de Godzilla. O filme vem com a árdua missão de vencer a desconfiança do grande público, redimir o filme de 2014 e preparar o terreno para duas sequências: Godzilla 2Kong vs. Godzilla. A surpresa é que ele realmente consegue fazer tudo isso.

Kong é cinemão no aumentativo, espetacular e espetaculoso, com nenhuma pretensão a mais além de divertir e excitar sua audiência ao longo de 1h58 de duração. Ele cumpre sua missão com louvor e maestria.

O que falta em enredo é compensado com uma fotografia belíssima, efeitos especiais de ponta e cenas de ação tão bem dirigidas que deixariam Michael Bay e seus supercortes em prantos.

Isso já seria o suficiente para assistir o novo filme do macacão, mas o longa emplaca acerto atrás de acerto em áreas inesperadas, colocando este azarão nas cabeças da corrida por melhor filme de ação do ano.

O filme conta a história de uma expedição científica secreta enviada à Ilha da Caveira em busca de provas da existência de criaturas gigantes. A missão é liderada por Bill Randa (John Goodman) e escoltada por soldados comandados pelo coronel Packard (Samuel L. Jackson). E ah, tudo isso se passa em 1973 durante a saída dos americanos do Vietnã.

Além dos soldados e cientistas, a equipe ainda possui o guia e ex-agente secreto Conrad (Tom Hiddleston), em uma homenagem nada discreta ao escritor de O Coração das Trevas, e a jornalista e fotógrafa de guerra Mason (a atriz vencedora do Oscar Brie Larson).

Elenco de estrelas: Samuel L. Jackson, John C. Reilly e Tom Hiddleston

Rapidamente, as coisas vão mal e o grupo é dividido e começa a lutar para sobreviver na ilha infestada por monstros. A premissa é tão simples quanto imaginável, mas como dito anteriormente, tudo é tão bem executado que isso acaba não importando tanto.

O primeiro destaque precisa ir para o elenco. Como visto pelos nomes acima, assim como em Godzilla, a Warner investiu pesado em star power para atrair o público. Além dos mencionados, o filme ainda traz John C. Reilly como o excêntrico piloto sobrevivente da Segunda Guerra Hank Marlow e as estrelas em ascensão Corey Hawkins (Straight Outta Compton – A História do NWA), Tin Jiang (A Grande Muralha) e Toby Kebbel (Warcraft), este no papel do soldado Chapman e do King Kong em pessoa.

Embora os personagens sejam, de modo geral, monocromáticos, este elenco dourado traz muita vida a eles. Especialmente se aliando ao roteiro afiadíssimo de Dan Gilroy e Max Borenstein que consegue equilibrar muito bem humor com ação e com passagens de calmaria.

O filme possui a dose certa de John C. Reilly para ser engraçado como Marlow sem ser chato ou intrusivo. Reilly brilha como o velho piloto e é facilmente o personagem mais simpático do filme.

Já Mason é interessante por si só. Em uma espécie de homenagem, a produção decidiu manter a “Loira do Kong”, mas esta aqui é bem diferente. A jornalista é durona e está na linha de frente de todas as sequências de ação. Não tem nada de donzela indefesa aqui. Graças a ela, o filme passa na classificação F, mas não no teste Bechdel: embora exista outra personagem mulher no elenco principal (San, vivida por Tin Jiang), ela mal troca uma ou outra palavra com Mason durante o filme inteiro.

Brie Larson como Mason

Agora, tecnicamente, o filme é impecável. Com trilha sonora e efeitos especiais da Lucasfilm (Skywalker Music e Industrial Light and Magic), o CGI se mistura com naturalidade às cenas em locação. Duas grandes surpresas são a fotografia e canções do filme.

Black Sabbath, Credence Clearwater Revival, David Bowie e muito mais compõem o som. A eles são aliados diversos takes perfeitos e escolhas de enquadramento que dão vida à fotografia e prestam homenagem à diversos filmes, de Apocalypse NowJurassic Park.

Tudo isso junto faz a escolha de cenário de 1973 parecer perfeita para o filme. Toda a estética de Guerra do Vietnã cai como uma luva na coisa toda e graças à fotografia e à direção, é tudo muito bonito de se ver. As cenas coordenadas de helicópteros são quase pornográficas.

Enfim, Kong: A Ilha da Caveira é o melhor filme de aventura em 2017 até agora e duvido que mesmo Thor: Ragnork consiga tomar seu pódio (talvez Star Wars, porque né). Ele é cinema pipocão de primeira com tudo dentro e consegue o mérito de se diferenciar e sair da mesmice graças a uma direção impecável de Jordan Vogt-Roberts, roteiro dinâmico e afiado e ótimas escolhas estéticas e cenográficas.

Kong aceita ser o que é e não tenta se levar a sério demais (outro erro do Godzilla de 2014). O filme redime os filmes de monstro e abre um novo caminho de possibilidades para eles.