Li Martins fala da reunião do Rouge pelos 20 anos do grupo: ‘Fomos felizes de verdade’
E lá se vão duas décadas desde que o grupo formado por Li (na época Patricia Lissah), Karin Hils, Aline Wirley, Lu Andrade e Fantine Thó explodiu e virou a sensação do pop brasileiro

Enquanto interpretava no palco a canção “Because you loved me” naquele domingo de Dia das Mães de 2019, Li Martins avistou Seu Geraldo se levantar da mesa na plateia, lhe dar um tchauzinho, jogar um beijo e dizer “eu te amo”.
— Foi a última vez em que eu vi o meu pai com vida, acordado. Depois disso, ele sofreu um acidente de carro, foi sedado e intubado, até falecer, um mês depois — relembra a cantora, de 38 anos, emocionada: — Desde então, sempre que eu vou cantar essa música, uma das preferidas dele, preciso pensar em outra coisa. Senão, a voz não sai.
O hit faz parte do espetáculo “Uma saudação a Celine Dion”, que terá única apresentação nesta quinta-feira, 8, às 20h, no Teatro Claro Rio, em Copacabana. Vestida com réplicas de figurinos da diva do pop, Li interpreta clássicos como “My heart will go on”, “The power of love”, “All by myself” e “A new day has come”.
— Quando assisti a “Titanic” no cinema, fiquei encantada com aquela voz e aguardei os créditos finais para saber o nome da cantora. Saí dali e fui direto pra loja de discos. Comprei um CD com a trilha sonora do filme e um DVD, “Divas live”, que tinha Celine, Mariah Carey, Shania Twain, Toni Braxton e Gloria Stefan. Foi aí que novos horizontes se abriram pra mim. Até então, meu objetivo de vida era cursar Medicina e meu hobby, participar de concursos de caraoquê cantando em japonês. Com as músicas delas, eu passei a ganhar um dinheirinho cantando em serenata, casamento, baile de formatura… Ou seja, Celine mudou minha vida, de alguma forma. Esse tributo é mais do que justo.
Mais transformador do que isso só quando a menina de Sertanópolis, no Paraná, se mudou com toda a família para o Rio em busca do sonho do reconhecimento na música e acabou sendo selecionada, no reality “Popstars”, do SBT, entre as cinco integrantes do Rouge. E lá se vão duas décadas desde que o grupo formado por Li (na época Patricia Lissah), Karin Hils, Aline Wirley, Lu Andrade e Fantine Thó explodiu e virou a sensação do pop brasileiro.
— Na época, o pop não tinha a mesma projeção que tem hoje. A gente era considerada cafona, brega. O auge era Capital Inicial, Jota Quest… Isso era legal. Já Rouge, KLB, Sandy e Junior, Wanessa Camargo… Éramos todos vistos de forma torta. Hoje em dia, olha onde o pop nacional chegou! Anitta conseguiu levar o nome do Brasil para o mundo! — observa Li, contando que já ouviu da todo-poderosa num programa de TV que ela era a sua Rouge favorita: — Eu fiquei toda boba… Com o Dani (Daniel Garcia, artista por trás da drag Gloria Groove), eu cantei numa banda de casamento, ele também sempre gostou do Rouge. Olha a grandiosidade que atingiu! Tanto eu quanto as meninas ficamos muito felizes de ver que marcamos uma geração, um momento na história da música brasileira.
No sábado, dia 10, o quinteto volta a se reencontrar no palco, num show comemorativo pelos 20 anos do Rouge e 14 anos da festa Chá da Alice, no Qualistage, na Barra. Por enquanto, não há previsão de que essa nova reunião emende em mais uma turnê, como aconteceu em 2017, na celebração pelos 15 anos.
— A gente percebeu que o mercado mudou muito. E pro ritmo que temos de vida, não dá para acompanhar — afirma a mãe de Antonella, de 5 anos, que foi amamentada nos bastidores desse primeiro reencontro e hoje é fã ardorosa do Rouge.
A respeito dos conflitos entre as integrantes, Li afirma que isso é coisa do passado:
— Nós não nos odiamos, gente! Somos cinco mulheres com opiniões fortes e diferentes. Trabalhando juntas, tivemos, sim, desentendimentos, porque éramos imaturas. Hoje, falar que somos melhores amigas seria mentira, mas nos damos muito bem. Existe uma fantasia na cabeça dos fãs de que somos perfeitas, não bebemos, somos seres assexuados… Acho hipocrisia das pessoas nos acusarem de falsas. Fomos felizes de verdade juntas.
Chá de emoções e lembranças que vêm à tona
Novos figurinos, 30 bailarinos, cenário grandioso e os sucessos que fizeram diferentes gerações repetirem as coreografias por anos e anos. As meninas, ops, mulheres do Rouge prometem uma madrugada eletrizante e inesquecível para seus ardorosos e saudosos fãs. O momento também traz para elas muitas emoções e lembranças especiais à tona.
— Agora que estamos na Copa, Aline nos lembrou que estávamos juntas na casa do programa “Popstars” quando o Brasil se tornou pentacampeão e Lula assumia a presidência. Impressionante como a história se repete! Torço para que no esporte também. Isso une uma nação que, infelizmente, foi muito polarizada nos últimos anos — observa Fantine, de 43 anos, que atualmente mora na Holanda e só veio ao Brasil para o show.
Aniversariante de 18 de dezembro, Aline reflete:
— Daqui a uma semana eu faço 41 anos. É impressionante pensar que se passaram 20! O Rouge tem impacto direto em tudo o que sou. Pensar no grupo é lembrar que os sonhos podem se tornar realidade.
Do repertório, Lu, de 44, entrega que “Beijo molhado”, faixa do primeiro CD, hoje é a sua preferida:
— Estou curtindo cantar essa pela energia e alegria da canção, mas gosto de quase todas.
Ao comparar passado e presente, Karin, de 43 anos, afirma:
— Uma coisa nunca mudou: sempre sonhei e fui muito dedicada em tudo o que faço. Mas a experiência me trouxe mais tranquilidade para saber o que quero, respeitar os meus limites e tomar as rédeas do meu lado profissional.