Penny Dreadful foi uma das minhas séries favoritas dos últimos anos. Os motivos não são muitos, mas são importantes. Primeiramente, é uma série de Terror que investe em atmosfera e desenvolvimento de personagens ao invés de jogar coisas na sua cara e inundar a tela em sangue (embora o gore componha boa parte da série, a violência não é a estrela do programa). Os personagens principais são uma mistura de criações novas e fantásticas com personagens clássicos da Literatura como Dr. Frankenstein e sua Criatura, Doutor Jekyll e Dorian Gray.
O mesmo vale para a trama, misturando velhas histórias conhecidas com toques novos, novas abordagens e misturando esta miscelânia de personagens. Cada temporada tinha um foco diferente, o que já ajudava a focar a história: na primeira, vampiros, na segunda, bruxas.
E então chegamos à terceira, que foi um caos.
Não foi uma temporada ruim, mas logo após o episódio final ser revelado que aquele era o final da série, foi difícil não sentir uma decepção. Não exatamente por ser ruim, mas por esperar não apenas algo diferente, mas mais episódios. Há o sentimento de que a série terminou antes de ficar ruim, perder a mão, mas há também o de que muito foi desperdiçado já que ainda havia muito mais a ser explorado.
Como resultado direto, a terceira e última temporada foi a pior das três, o que é uma pena. Quase todos os seus nove episódios foram focados no resgate de Ethan Chandler no oeste dos EUA e em uma inimente revolta misândrica por parte de Lily. No final, nenhum dos enredos parece ter importância quando Drácula rouba a cena só para ser terrivelmente desperdiçado no series finale.
Ao contrário das duas primeiras temporadas muito bem amarradas, estes últimos nove episódios parecem soltos, desconexos e seu final é abrupto em todos os sentidos. Há um breve crescendo para Drácula que não leva a um clímax: este nunca realmente chega.
E quando os créditos rolam, pontas ficam incomodamente soltas: o que será da Criatura agora? E de Lily? e de Victor? Todo o núcleo frankensteiniano, na verdade, parece deixado ao léu, sem respostas por um roteiro furado. A série infelizmente também desperdiça dois novos personagens desta temporada: doutor Jekyll, que tem uma nova origem e poderia ter tido um arco só seu, e a criação original Catriona Hartgeden, uma caçadora de vampiros durona que poderia muito bem ter estrelado a série desde o início.
Para compensar os deslizes do roteiro, a direção de arte continua perfeita, e a mudança de ares para o faroeste dos EUA é interessante, embora limitada. As atuações continuam no ponto certo, com raros deslizes. Timothy Dalton às vezes ultrapassa uma linha imaginária do over-performing e se torna canastrão demais, ao mesmo tempo exagerado e sem acreditar nas próprias falas, mas isso não chega a comprometê-lo.
O maior destaque fica, novamente, para Eva Green, sempre incrível em papéis sinistros e peculiares, e para o intérprete da Criatura, Rory Kinnear, que emociana ao revelar, verdadeiramente, tudo o que seu lado humano tem a oferecer. Seu arco é, inclusive, o mais envolvente da temporada final, botando no chinelo todo o fim do mundo iminente na vida dos demais personagens.
Enfim, Penny Dreadful se despede de nós como uma das séries mais promissoras dos últimos tempos que nunca chegou realmente ao seu ápice. Não com uma explosão, mas com um gemido. Mesmo com um enredo confuso e mal desenvolvido em seus episódios finais, a série ainda ganha pontos por sua originalidade, seu elenco brilhante e sua direção de arte impecável em um mar de mesmice. Vale a pena ver e rever cada segundo.