O preço da fama? Pesquisa alemã revela que artistas vivem, em média, quatro anos a menos
Análise indica que o estresse dos holofotes pode elevar o risco de mortalidade

Uma análise da Universidade Witten Herdecke, publicada nesta terça-feira (25), reacende uma velha pergunta: por que tantos artistas que chegam ao topo têm trajetórias tão curtas? Um estudo recém-divulgado sugere que a resposta pode estar menos no acaso e mais no preço invisível de viver sob os holofotes.
Os pesquisadores da Alemanha avaliaram 648 cantores que estiveram em atividade entre 1950 e 1990, comparando metade deles — aqueles que alcançaram notoriedade internacional — com artistas menos conhecidos, mas de perfis semelhantes em nacionalidade, gênero musical, ano de nascimento e até posição na banda. A conclusão, publicada no Journal of Epidemiology and Community Health, é contundente: os famosos morreram, em média, quatro anos antes que seus equivalentes discretos. Segundo a equipe, o impacto à saúde chega a ser comparável ao risco associado ao tabagismo.
O peso dos holofotes
A pesquisadora Johanna Hepp, uma das autoras, afirmou ao Daily Mail que a fama impõe um “estresse psicossocial único”, marcado por escrutínio constante, perda de privacidade e pressão por desempenho. Esse ambiente, explicam os cientistas, frequentemente leva ao desenvolvimento de comportamentos de enfrentamento prejudiciais — como o abuso de substâncias — que podem encurtar a vida. Exemplos marcantes incluem Janis Joplin, Jim Morrison, Amy Winehous, Whitney Houston e Prince, todos mortos precocemente após episódios relacionados a drogas, doenças agravadas pelo estresse ou circunstâncias trágicas.
O levantamento mostrou ainda que artistas solo enfrentam risco maior de mortalidade do que integrantes de bandas, possivelmente por vivenciarem maior isolamento e responsabilidade individual. Entre os participantes analisados, cantores famosos viveram até os 75 anos, enquanto os menos conhecidos alcançaram, em média, 79.
Causas possíveis e mitos derrubados
Os autores ponderam que a relação entre fama e morte precoce pode não ser exclusivamente causal. Traços de personalidade, histórico familiar e experiências adversas na infância podem tanto impulsionar uma carreira artística quanto ampliar a vulnerabilidade a comportamentos de risco. Nesse sentido, a fama funcionaria como amplificadora de fragilidades pré-existentes.
A pesquisa também revisita um dos mitos mais difundidos da cultura pop: o chamado “Clube dos 27”. Um estudo independente da Universidade de Indiana analisou dados de 344 mil pessoas notáveis e concluiu que, embora músicos pop realmente morram mais jovens que outras celebridades, não há evidências de que a idade de 27 anos represente um risco específico. A popularidade desses casos, apontam os autores, deriva muito mais do fascínio público por narrativas trágicas do que de um padrão estatístico.
Os pesquisadores reforçam que estratégias de proteção podem ajudar artistas a reduzir os riscos: aproximar-se de vínculos íntimos, rever o estilo de vida e criar espaços de privacidade são algumas das recomendações citadas pelo Dr. Hepp. Exemplos de carreiras longevas, como Louis Armstrong, Tina Turner e Frankie Valli — que segue vivo na casa dos 90 — mostram que a trajetória pode, sim, escapar à estatística.
No mesmo campo de investigação sobre músicos, outro estudo recente, conduzido pela Universidade de Aarhus, na Finlândia, analisou a atividade cerebral de 18 músicos e 18 não músicos, usando exames de ressonância magnética funcional. A pesquisa mostrou que áreas frontais e temporais do hemisfério direito conseguem prever aptidão musical, com algoritmo desenvolvido pelos cientistas alcançando precisão de 77% na identificação do talento.
Via O Globo