A banda goiana Heaven’s Guardian é uma velha conhecida dos metaleiros da cidade. Agitando a cena desde 2004, o grupo passou por um pico de popularidade até mais ou menos 2009. Nesse período, ela tirava vantagem de um bum do Power Metal e do Metal melódico pelo país, com diversos fãs acompanhando o movimento de pioneiras do estilo, como Angra e os diversos projetos de André Matos.
Porém, da mesma forma que o Power Metal brazuca deu uma calada, a nossa própria grande banda melódica deu uma sumida. Ela tinha acabado? O que aconteceu? Reconhecida por seu profissionalismo, a Guardian abriu para o Megadeth em Goiânia em 2008 e está entre os poucos e bons grupos responsáveis por abrir o caminho para a agitada e rica cena roqueira que a cidade possui hoje.
De lá pra cá, a banda não acabou e se manteve na ativa, porém, com percalços, muitos fãs interpretaram o silêncio no rádio como um fim definitivo. “De 2006 pra cá aconteceu muita coisa. O vocalista original, o Carlos Zema, mudou pros EUA e a banda ficou parada muito tempo por causa disso. Ao longo dos anos alguns vocalistas fizeram shows conosco e alguns bateristas também passaram pela banda, mas resolvemos arriscar uma formação fixa”, conta Murilo Ramos, baixista da banda.
De cinco integrantes, o grupo agora possui sete, incluindo dois vocalistas: Olívia Bayer e Flávio Mendez (vocais), Ericsson Marin e Luiz Maurício (guitarras), Murilo Ramos (baixo), Arthur Albuquerque (bateria) e Everton Marin (teclado). “Tivemos a entrada do Everton, tecladista, irmão do guitarrista Ericsson. Ele sempre acompanhou a banda, ele se vestia do mascote, do símbolo da banda, o Guardião, e fazia a abertura de alguns shows nossos tocando teclado e agora faz parte da banda”, conta Ramos.
Em abril, eles lançaram o disco Signs, segundo da banda e primeiro desde D.O.L.L., de 2004. Com 10 faixas, o disco foi gravado do estúdio Mr. Som, em São Paulo, conduzido por Marcello Pompeu, da banda Korzus. “Ele é um ótimo produtor e amigo nosso com uma ótima proposta de trabalho pra gente. O Pompeu fez um trabalho muito competente e nós ficamos muito satisfeitos com o resultado. Agora estamos em planos de divulgação”, conta Ramos.
E não é pra menos. A banda agora investiu em um novo clipe e está fechando agenda de shows, correndo atrás do prejuízo: “Queremos fazer tudo isso porque ficamos muito tempo sumidos e muita gente pensa que a banda até acabou”, conta Ramos.
Ele também comentou sobre o maior diferencial da banda, que é ter um vocal masculino e um feminino: “A Olívia não era do meio metal, canta jazz, blues, MPB, muita coisa e tem carreira solo, faz muitos shows, faz tributos à Adele, à Amy Winehouse. Sempre foi uma ótima cantora. A gente gostou muito da voz dela, rolou uma proposta e ela topou. Da formação original, temos o Luís Maurício que tá desde o começo e o Ericsson”.
Nesse meio tempo, o baterista Arthur Albuquerque saiu da banda, mas Ramos garante que já estão em fase final da escolha do novo membro e que isto não vai afetar de forma alguma a agenda do grupo: “estamos fechando com um novo baterista, fizemos diversas audições e estamos na fase final já de escolher o novo baterista, muita gente boa se interessou e fez teste conosco”.
Se não são mais tão lembrados em Goiânia, o são no resto do mundo. Ramos revelou que no momento a banda está fechando shows no exterior: “Tivemos retorno principalmente da Alemanha e do Japão, locais com mais espaço para o estilo de metal que a gente toca, saímos em duas matérias na mesma edição da Roadcrew, o que foi muito legal. Estamos falando com vários produtores de eventos para tentar fechar essa agenda”.
Ao falar sobre o legado da banda, uma das pioneiras na cena goiana, hoje residência de todos os estilos de rock e também crescendo em outros gêneros, como o rap, Ramos disse se sentir honrado: “Com muita sinceridade, esse sentimento é inexplicável, é muito bom saber que muitas bandas que existem hoje, estão aí por causa do Heaven’s Guardian e de outras e nem conhecem a banda. Às vezes o cara até conhece as músicas da banda e não sabe que são da gente, nem que a banda é de Goiânia”.
Ele acredita que o rock cresceu em Goiânia graças à profissionalização das bandas que deixaram de levar desaforo pra casa: “A cena promoveu o aparecimento de muitas bandas, viram que Metal e rock não era apenas um gênero musical, mas um nicho de mercado, cheio de grandes profissionais sérios e músicos muito talentosos. às vezes a gente era criticado porque a gente era muito profissional, muito sérios e não aceitávamos ser explorados. Aí a gente tinha fama de estrela. Mas aí outras bandas surgiram e começaram a adotar a mesma postura profissional e começaram a lotar shows, gente chama gente, uma postura que ajudou a cena de Goiânia se transformar no que é hoje”.
Além disso, ele falou de um sentimento ainda mais estranho: o de ver os fãs crescerem na cena. “Eu lembro de ver muita gente em show, adolescente, com 14, 15 anos, e que cresceram para virar fotógrafos, designers, jornalistas e que passaram a trabalhar e a valorizar o meio cultural de Goiânia. Inclusive, divulgando o Metal”. E que venham muitos anos de metal.