Mais um ano que se encerra e mais um ano intenso nos cinemas. Teve para todos os gostos: musical, drama, filme de guerra, filme religioso.
Embora, para variar, muitos dos favoritos ao Oscar como Hacksaw Ridge e Moonlight ainda não tenham chegado no Brasil, outros filmes interessantíssimos como A Chegada e Animais Noturnos já deram as caras por aqui.
Como sempre, foi muito difícil deixar alguns títulos de fora, mas sem mais delongas, aqui estão nossos melhores filmes de 2016.

10. A Bruxa
Filme de estreia de Robert Eggers e filmado quase com o dinheiro de uma garapa com pastel, o filme de terror sobre uma família religiosa na América do Norte do século XVII foi uma lufada de ar fresco em um gênero saturado de mesmice. A Bruxa é um filme simples, mas tenso, muito bem filmado e esteticamente impressionante. Seu único pecado é não ter conseguido conquistar comercialmente as pessoas e por não explorar muitos ganchos que ele mesmo apresenta ao longo da história. Duas coisas ficam na memória desta produção: a atuação fantástica da novata Anya Taylor-Joy e os pesadelos com o bode Black Philip.

9. Aquarius
Um filme decente que poderia ter sido muito bom, talvez excelente, mas que possui um lado sentimental instigante que conseguem colocá-lo à frente em um ano rico em produções nacionais de qualidade como Boi Neon e Mãe Só Há Uma. Fraco e quase bobo em sua segunda metade quando tenta metaforizar uma luta de classes e interesses políticos, a verdadeira força de Aquarius está em sua hora inicial: uma narrativa 100% focada e conduzida pela personagem Clara em uma reflexão instigante sobre o tempo, o passado, a nostalgia e nossa resistência à mudança, uma proposta muito mais interessante do que a briguinha mal elaborada do seu terceiro ato.

8. Mogli – O Menino Lobo
A primeira surpresa desta lista: um remake que ninguém queria e ninguém pediu e que alcançou uma conquista rara que é ser melhor – e muito – do que o filme original. Jon Favreau merece todos os elogios por uma direção impecável e escolhas muito bem feitas na hora de recontar a saga de Mogli, Baguera e Balu contra o tigre Shere Khan. O filme é visualmente incrível e seu passo e desenvolvimento muito mais satisfatórios que a animação de 1967. Seu único erro, talvez, tenha sido botar o Christopher Walken para cantar. Nunca bote o Christopher Walken pra cantar.

7. Deadpool
Surpresa número dois. O que esperar de um filme com piadas de peido e violência explícita de baixo orçamento que levou 11 anos para sair do papel? Muito pouco. Talvez esse tenha sido o segredo desta comédia de ação que conseguiur ser divertida, inteligente e besta na mesma medida, sem se levar a sério. O maior mérito da produção estrelada por Ryan Reynolds é ter conseguido ser o melhor filme de sátira de super-heróis (outro gênero saturado) em um mar de filmes, séries e sátiras medíocres que conseguiu agradar tanto os fãs quanto quem nunca tinha ouvido falar no Mercenário Tagarela. O filme também ganha pontos por fazer piadas constantemente com os X-men.

6. Animais Noturnos
Segunda aventura de Tom Ford na cadeira de direção, o filme é belíssimo em vários aspectos: belamente dirigido e belamente atuado, especialmente. Em seu elenco brilhante, vale a pena destacar o sempre pouco apreciado Michael Shannon que lentamente vai cavanco seu caminho em direção ao Oscar com um desempenho melhor que o outro. Tudo isso serve para mascarar alguns deslizes no enredo principal que ganha pontos por seu formato fragmentado e metanarrativo, mas que deixa a audiência querendo se aprofundar mais em diversos pontos que não são explorados. Ele certamente é um triunfo em relação ao filme anterior de Ford, Direito de Amar (2009), que já era muito bom, e nos deixa curioso sobre os próximos trabalhos do cineasta.

5. Zootopia
Após amargar um longo inverno, a Disney parece que finalmente reaprendeu a fazer animações. Depois do sucesso esmagador de Frozen, Zootopia é outro filme que tinha cara de bomba, mas que consegue ser divertido, engraçado e criativo mesmo possuindo uma trama central meio esquecível. Seu comentário sobre racismo é superficial, mas anos de Pixar deixaram as pessoas mal-acostumadas: estamos falando de um filme infantil aqui, então nada vai ser muito escavado nem jogado na cara. De qualquer forma, é uma animação bem atuada e muito bonita e que merece uma chance de quem ainda não assistiu.

4. Rogue One – Uma História Star Wars
Como fã de carteirinha da série, preciso admitir que o filme veio parar tão alto por motivo de ser Star Wars e sempre me tocar emocionalmente e nostalgicamente, então se quiser ignorar, ignore. Mas de qualquer forma, acho que Rogue One merece reconhecimento pela árdua tarefa de fazer um filme da saga só que fora da saga, primeiro a se aventurar nessas águas nunca dantes navegadas, com uma missão bastante suicida de se conectar com 40 anos de filmes e mitologia sem deixar a peteca cair e ao mesmo tempo conseguir agradar fãs e novatos. Olhando por aí, parece complicado, né? Além disso, é um ótimo filme de ação e aventura que peca principalmente por seu excesso de fanservice – oi, Grande Moff Tarkin – e por ter sido mutilado na sala de edição, deixando as personalidades de Jyn Erso e seus amigos quase todo fora do corte final.

3. O Abraço da Serpente
Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano e primeiro Oscar da Colômbia, este filme devia ser assistido por todos aqueles que se consideram sulamericanos. Belíssimo e triste na mesma medida, através de uma releitura levemente ficcionalizada de uma história real, a trama reconta sobre a perseguição e o extermínio dos indios da Amazônia sem descanbar para o denuncialismo ou o melodrama. É um filme silencioso. Quieto e que queima lentamente e que em vários aspectos relembram uma versão nossa de O Coração das Trevas.

2. O Lagosta
Dirigido por Yorgos Lanthimos, O Lagosta é um filme de ficção científca e de humor negro que investe pesado em nonsense e no bizarro e que é divertidíssimo por isso. A trama gira ao redor de uma sociedade em que todas as pessoas são obrigadas a ter um par: se elas ficam solteiras, elas precisam passar um mês em um hotel em busca de outro por, senão são transformadas em um animal. David (Colin Farrell) perde a esposa após 12 anos de casamento e precisa passar pela seleção, já tendo em mente que, se tudo der errado, quer virar uma lagosta: elas têm sangue azul, vivem 100 anos e são sempre férteis. É o que de melhor o nonsense pode oferecer.

1. A Chegada
Este filme podia facilmente ser chamado de “Porque Humanas é Importante” especialmente por ir no caminho contrário de todos os filmes de contato já feitos. Em todos os filmes anteriores, sempre é estabelecido uma forma de comunicação, enquanto A Chegada explora o óbvio: se encontrássemos uma raça alienígena, eles provavelmente seriam incompreensíveis para os humanos em todas as formas. O filme traz uma reviravolta no mito ao centralizar a linguagem e a comunicação como estrutura fundamental da civilização e não a ciência pura e por fazer um filme cabeça sobre ETs no mesmo ano em que Independence Day voltou aos cinemas com mais explosões do que nunca.