Mundial de 2008 da F1: Ação de Felipe Massa é acolhida e segue para julgamento: ‘A verdade prevalecerá’
Em 2008, Felipe Massa acabou perdendo o título da Fórmula 1 para o britânico Lewis Hamilton

Por O Globo: O Juiz Robert Jay da Suprema Corte do Reino Unido, em Londres, acolheu nesta quinta-feira (20) processo que o ex-piloto Felipe Massa move contra a Fórmula 1, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e Bernie Ecclestone, ex-chefe da categoria, em relação ao título da temporada de 2008.
Leia também: Felipe Massa conquista pole inédita na estreia da Stock Car em Cuiabá
Os réus tentaram impedir o avanço do processo antes mesmo de sua fase inicial, mas após examinar os argumento apresentados, a Corte Inglesa rejeitou tais tentativas de forma categórica nos pontos essenciais e concluiu que a tese de conspiração possui fundamento plausível e real perspectiva de sucesso. Com isso, o caso seguirá para julgamento completo.
“Esta é uma vitória extraordinária, um dia muito importante para mim, para a justiça e para todos os apaixonados pela Fórmula 1”, afirmou Massa, completando: “O Tribunal reconheceu a força do nosso caso e não deixou que os réus abafassem a verdade sobre 2008.
Segundo Massa, a Formula 1, Bernie Ecclestone e a FIA teriam deliberadamente atuado em conjunto para esconder o caráter intencional do acidente provocado por Nelson Piquet Jr. no Grande Prêmio de Cingapura de 2008. Caso a verdade houvesse sido investigada e enfrentada à época, o resultado da corrida teria sido anulado e Massa teria sido reconhecido como o legítimo campeão mundial de Fórmula 1 de 2008.
“O acidente proposital me tirou um título mundial e as autoridades da época preferiram encobrir os fatos em vez de defender a integridade do esporte. Eles fizeram de tudo para impedir o processo, mas a nossa luta é por justiça e hoje demos um passo decisivo. A verdade prevalecerá no julgamento. Vamos investigar tudo a fundo. Cada documento, cada comunicação, cada evidência que revele a conspiração entre os réus será apresentada”, comentou o ex-polito.
Massa ainda ressaltou que estaria “mais determinado e confiante do que nunca! Quando toda a verdade vier à tona, a justiça será feita. Por mim, pelos brasileiros, pelos tifosi, por todos os fãs do automobilismo, que merecem um esporte íntegro, e pelo próprio futuro da Fórmula 1”.
O escândalo ‘Singapuragate’
A ação de Felipe Massa, protocolada em 2024, é baseada no escândalo batizado como “Singapuragate” ou “Crashgate”, ocorrido no GP de Singapura de 2008, quando a Renault ordenou que Nelsinho Piquet batesse propositalmente durante a corrida para provocar a entrada de um safety car e beneficiar Fernando Alonso, que venceu a prova.
À época na Ferrari, Massa liderava a corrida no momento do acidente, mas teve um problema no pit stop — a mangueira de abastecimento ficou presa no carro — e terminou apenas em 13º. O brasileiro perdeu o título da temporada para Lewis Hamilton por apenas um ponto. Caso o GP de Singapura tivesse sido anulado, Felipe Massa teria sido campeão.
Massa explica que o processo não é para retirar o título conquistado por Lewis Hamilton, mas para “corrigir uma injustiça”, dando margem para o reconhecimento de ambos como campeões de 2008.
— Minha luta não é contra Lewis, mas contra uma corrida que foi manipulada. Isso é sobre justiça. Em outros esportes, os resultados também foram revisados. Não é impossível que isso aconteça na Fórmula 1 — declarou.
O escândalo foi revelado apenas no ano seguinte, pelo jornalista Reginaldo Leme, durante uma transmissão ao vivo da TV Globo. Chefe da Renault, Flavio Briatore, e Pat Symonds, diretor de engenharia, chegaram a ser banidos da F1, mas acabaram revertendo a decisão na corte francesa. Briatore, inclusive, comanda atualmente a Alpine, antiga Renault. Nelsinho Piquet foi demitido da equipe no fim de 2008 e nunca mais competiu na categoria.
Entrevista de Ecclestone em 2023 fez Massa decidir entrar com ação
Massa chegou a avaliar pedir a anulação do GP de Singapura na época, mas acabou desistindo diante da impossibilidade de reverter a decisão, em razão do Código Internacional Esportivo, que determina que o resultado do campeonato não pode ser alterado após a cerimônia de premiação do órgão.
Uma entrevista de Ecclestone ao site alemão F1 Insider, em agosto de 2023, porém, fez o piloto brasileiro decidir levar o caso aos tribunais. Na ocasião, o ex-chefão da F1 revelou que já sabia do escândalo ainda em 2008, mas decidiu não expor a informação para não prejudicar a categoria e a FIA — e que considerava o brasileiro o legítimo campeão mundial.
— Max Mosley (presidente da FIA na época) e eu fomos informados durante a temporada de 2008 sobre o que havia acontecido na corrida de Singapura. Decidimos não fazer nada na ocasião. Queríamos proteger o esporte e salvá-lo de um grande escândalo. Havia uma regra na época de que a classificação do campeonato mundial era intocável após a cerimônia de premiação da FIA no fim do ano. Então, Hamilton recebeu o troféu do Campeonato Mundial e tudo estava encerrado — disse Ecclestone, em 2023.