Dez novidades da medicina previstas para 2026
Avanços de estudos na medicina e aprovações de novos medicamentos prometem ampliar alternativas contra doenças de alto impacto

(O Globo) De novos remédios para perda de peso a tratamentos para Alzheimer e vacinas, 2026 deve ser um ano com uma série de novidades no campo da medicina. Resultados de estudos aguardados há anos e aprovações de medicamentos inéditos devem ampliar o leque de alternativas disponíveis para doenças de grande impacto populacional, como obesidade, diabetes e até mesmo câncer.
A seguir, confira 10 dessas novidades, que ajudam a dar uma ideia do que esperar para o ano que se aproxima. O cenário revela avanços tecnológicos das últimas décadas que, a passos largos, têm trazido possibilidades de tratamento antes impensáveis.
1 – Pílulas para perda de peso
Na esteira do sucesso das injeções antiobesidade, em 2026 devem ser aprovadas as primeiras versões orais dos medicamentos, que prometem ampliar o acesso e facilitar o uso por aqueles que têm medo da agulha. Um dos mais aguardados é a orforgliprona, da Eli Lilly, mesma fabricante do Mounjaro.
No estudo, o comprimido uma vez ao dia levou a uma perda de até 12,4% do peso após 72 semanas. O laboratório já disse esperar que o medicamento seja aprovado pelas agências reguladoras no ano que vem. Paulo Miranda, ex-presidente e coordenador do Departamento Internacional da da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), explica o diferencial do remédio:
— Ela tem uma forma de produção diferente, é uma molécula pequena e mais fácil de fazer. E não exige jejum ou espera em relação a outros medicamentos. Por isso tem um potencial grande de alcançar mais pacientes. Para o ano que vem, também deveremos ter a liberação da semaglutida (princípio ativo do Wegovy e do Ozempic) oral para obesidade na dose de 25mg por dia, que vai ser outra boa opção para os que não querem usar injeções.
2 – Remédios ainda mais eficazes para obesidade
Novas opções injetáveis também devem chegar para se somar às terapias usadas hoje para perda de peso. Um deles é o CagriSema, da Novo Nordisk, mesma fabricante do Ozempic e do Wevovy. Ele une a semaglutida a uma molécula chamada cagrilintida, que atua de forma diferente. Os estudos mostraram uma redução de 22,7% do peso após 68 semanas, acima da observada com o Wegovy.
Também são esperados para o ano que vem mais resultados de fase 3 e uma possível aprovação de uso da retatrutida, uma nova molécula da Eli Lilly que promete elevar ainda mais a perda de peso. Isso porque ela simula a ação de três hormônios, a primeira medicação do tipo. Os testes indicaram uma redução de 28,7% em apenas 68 semanas, semelhante ao observado com a bariátrica.
3 – Genéricos do Ozempic
A patente da semaglutida está prevista para cair em março do ano que vem no Brasil. Farmacêuticas como Hypera Pharma, Biomm, Eurofarma, EMS e até mesmo a Fiocruz já anunciaram planos de lançar versões similares e genéricas no país. O que deve ampliar a concorrência e levar à redução dos preços, já que genéricos, por exemplo, precisam ser 35% mais baratos.
4 – Novas drogas para Alzheimer
Há a previsão de resultados de drogas inéditas para tratar o Alzheimer. Enquanto os anticorpos atuais mais avançados atuam eliminando as placas de beta-amiloide, uma proteína que se acumula no cérebro dos pacientes, Wyllians Borelli, coordenador de pesquisa do Centro da Memória do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conta que há medicações direcionadas à tau, uma segunda proteína ligada ao diagnóstico.
Duas delas estão avançadas nos testes e receberam a designação de “fast track” da agência reguladora americana, a Food and Drug Administration (FDA), neste ano. Se demonstrarem um benefício, podem ser aprovadas antes mesmo do fim dos testes devido à gravidade do diagnóstico e às alternativas limitadas.
— Temos expectativa de que teremos uma aprovação para drogas antitau. Sabemos que no processo fisiopatológico da doença ela é muito correlata com os sintomas, então esperamos que ao agir contra ela teremos um efeito maior na evolução da doença — diz Borelli.
Há ainda a previsão de dados sobre o remternetug, um novo anticorpo antiamiloide da Eli Lilly. No entanto, o neurologista afirma que a eficácia provavelmente será semelhante à do donanemabe, que já está disponível. Um benefício, porém, é que o remternetug está sendo avaliado de forma subcutânea, o que pode facilitar o uso e reduzir efeitos relacionados à infusão.
5 – Terapia com células-tronco para diabetes tipo 1
Em 2026, o laboratório Vertex planeja submeter às agências reguladoras o pedido de aprovação para o zimislecel, uma terapia inédita com células-tronco para diabetes tipo 1 que, com uma injeção única, levou alguns casos específicos da doença a não precisarem mais de insulina nos estudos.
6 – Vacina de RNA mensageiro para câncer
O laboratório alemão BioNTech e o americano Moderna, pioneiros nas vacinas de Covid-19 de RNA mensageiro (RNAm), já anunciaram planos de começar a submeter doses feitas com a tecnologia para uso no tratamento do câncer em 2026. A maior expectativa é em relação aos dados da fase 3 da vacina contra melanoma, tipo de câncer de pele mais letal, da Moderna. Nas etapas anteriores, a dose junto a um imunoterápico reduziu em 49% o risco de morte ou recorrência, e em 62% o de morte ou metástase.
— Existe uma expectativa grande em relação a essas vacinas. Elas têm sido testadas em formatos diferentes, desde doses mais personalizadas, em que você caracteriza as mutações do tumor e desenvolve uma específica para cada paciente, até estratégias mais amplas, como quando você usa a vacina direcionada a uma proteína que é frequentemente mutada naquele tipo de tumor — explica Vladmir Cordeiro de Lima, oncologista e pesquisador do Centro de Referência de Tumores Torácicos do A. C. Camargo Cancer Center.
7 – Novo tratamento para insônia
Em 2026, deve chegar ao mercado brasileiro um tratamento inédito contra a insônia: o medicamento lemborexante, vendido sob o nome comercial de Dayvigo pela farmacêutica japonesa Eisai. O remédio foi aprovado pela Anvisa neste ano e conta com um mecanismo de ação inédito para combater as noites em claro, que se acredita gerar menos quadros de dependência do que os benzodiazepínicos e as drogas Z.
A medicação foi eleita por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, como aquela com o melhor perfil de eficácia, aceitabilidade e tolerabilidade entre 36 alternativas avaliadas em um estudo publicado na revista científica The Lancet.
8 – Nova vacina contra dengue no PNI
O plano do Ministério da Saúde é que a nova vacina da dengue do Instituto Butantan comece a ser distribuída pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) em janeiro. Um diferencial é que a aplicação é a primeira no mundo em dose única. Além disso, graças a um acordo com uma farmacêutica chinesa, será possível produzir ao menos 40 milhões de vacinas já a partir do ano que vem.
Dessa forma, o Brasil poderá ampliar sua campanha de vacinação, inédita no mundo, mas que começou restrita a adolescentes de determinadas localidades devido à limitação produtiva do laboratório que fornece o imunizante atual.
9 – 1ª vacina brasileira contra a Covid
Também para o ano que vem, a vacina contra a Covid-19 SpiN-TEC, desenvolvida pelo CTVacinas/UFMG com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), deve entrar na última fase dos estudos clínicos. A expectativa do ministério é iniciar a submissão à Anvisa já em 2026 com um processo contínuo.
A UFMG firmou uma parceria com a farmacêutica brasileira Libbs para produzir o insumo do imunizante. Será a primeira vacina 100% desenvolvida no Brasil a avançar para essa etapa — não apenas contra a Covid, mas contra qualquer doença.
10 – Remédio para malária resistente
A primeira nova terapia contra a malária em décadas mostrou potencial contra versões da doença resistentes aos medicamentos atuais em estudos finais divulgados neste ano, levando 97,4% dos pacientes à cura. O remédio, desenvolvido pela farmacêutica suíça Novartis, é chamado de GanLum e pode ser liberado para uso em 2026.