Europa

Fechar a porta a migrantes contraria lições de Jesus, diz papa Francisco

Pontífice volta a pedir acolhimento de refugiados em visita à Hungria

papa Francisco voltou, neste domingo (30), a cobrar dos líderes europeus o acolhimento de imigrantes. Discursando para mais de 50 mil pessoas em Budapeste, na Hungria, ele disse que fechar as portas a estrangeiros contraria as lições de Jesus.

A fala tinha endereço: o país europeu é governado pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, defensor de políticas antimigração. Ainda em 2015, por exemplo, a Hungria iniciou a construção de uma cerca de aço na fronteira com a Sérvia para impedir a entrada de estrangeiros.

Em sua homilia, Francisco disse que se os húngaros quisessem seguir Jesus, deveriam evitar “as portas fechadas de nosso individualismo em meio a uma sociedade cada vez mais isolada”. “As portas fechadas de nossa indiferença para com os desfavorecidos e os que sofrem; as portas que fechamos aos estrangeiros ou diferentes de nós, aos migrantes ou aos pobres.”

A missa, ao ar livre, ocorreu ao redor da praça do Parlamento de Budapeste, símbolo da cidade. O premiê húngaro estava no local.

Para o pontífice, os migrantes que fogem da pobreza devem ser bem-vindos e integrados à Europa porque podem enriquecer culturalmente os países acolhedores e aumentar as populações cada vez menores do continente. Ele acredita que, embora os países tenham o direito de proteger suas fronteiras, os migrantes devem ser distribuídos por toda a União Europeia.

Orbán, por outro lado, diz ser um protetor dos valores cristãos; segundo ele, a entrada massiva de imigrantes desconfiguraria a cultura de seu país.

Na sexta-feira (28), o papa se encontrou com o premiê e defendeu a recuperação da “alma europeia” frente aos nacionalismos –uma crítica direta às políticas do conservador. Na ocasião, Francisco disse que Santo Estêvão, o fundador da Hungria cristã no século 11, escreveu sobre acolher estranhos.

Mas a mão que apedreja também afaga. Na sexta, o pontífice elogiou os valores cristãos defendidos pelo governo, como as “políticas efetivas para a natalidade”e denunciou os que defendem um “direito ao aborto sem sentido”. Ele também mencionou a “ideologia de gênero”, teoria citada por conservadores para desqualificar argumentos de movimentos pró-LGBTQIA+.

Ainda na missa deste domingo, o pontífice rezou pelos povos ucranianos e russos. “Incutir no coração dos povos e de seus líderes o desejo de construir a paz e dar às novas gerações um futuro de esperança, não de guerra, um futuro cheio de berços e não de túmulos, um mundo de irmãos e irmãs, não de muros”, afirmou.

A Hungria faz fronteira com a Ucrânia e, desde o início da invasão russa, o país recebeu mais de 35 mil refugiados ucranianos. O governo de Orbán, por outro lado, não envia armamento a Kiev e evita criticar o presidente russo, Vladimir Putin.