Kitara Ravache

George Santos se entrega à Justiça nos EUA após acusações criminais

Deputado filho de brasileiros é investigado por fraude, lavagem de dinheiro, desvio de verbas e mentir perante Congresso

O deputado republicano George Santos, filho de imigrantes brasileiros pego em uma série de mentiras, entregou-se à Justiça nesta quarta-feira (10), em Nova York, nos Estados Unidos. Ele é investigado pelo Departamento de Justiça e acusado de ter cometido 13 crimes.

Santos terá de responder a sete acusações de fraude, três de lavagem de dinheiro, uma de desvio de verbas públicas e duas sobre declarações falsas perante a Câmara dos Representantes. Se condenado, o republicano poderá pegar até 20 anos de prisão, segundo o jornal The New York Times.

Segundo a acusação, Santos induziu apoiadores a doar para uma empresa sob o falso pretexto de que o dinheiro seria usado para apoiar sua campanha. Em vez disso, diz, o republicano o usou para despesas pessoais, incluindo roupas de grife de luxo e para pagar seus cartões de crédito.

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As denúncias devem aumentar a pressão de seus correligionários e eleitores, que já pediram sua renúncia. Em março, o Comitê de Ética da Câmara abriu uma investigação contra o congressista. A comissão vai investigar eventuais atividades ilegais em sua campanha, possíveis violações de leis federais na atuação dele em uma empresa e a denúncia de assédio feita por um assessor que trabalhou em seu gabinete.

Apesar dos processos em curso, Santos deve continuar atuando no Congresso enquanto responde às acusações. “Nos EUA, você é inocente até que se prove o contrário”, disse nesta terça (9) o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, também republicano. À emissora CNN, ele afirmou que vai analisar as acusações antes de decidir se o correligionário deve ser afastado da Casa.

Uma audiência está prevista para as próximas horas, e Santos deve ser liberado na sequência. O republicano ainda não se manifestou sobre as acusações divulgadas nesta quinta, mas já disse em outras oportunidades que é inocente. Na véspera, o político afirmou à agência de notícias Associated Press que não havia sido notificado sobre as investigações na esfera criminal. “Isso é novidade para mim”, afirmou. “Você é o primeiro a me ligar sobre isso.”

Santos foi eleito deputado em novembro passado. A corrida chamou a atenção porque os dois principais candidatos eram abertamente gays —um deles Santos, o primeiro republicano da comunidade LGBTQIA+ a conquistar um assento na Câmara.

Após sua eleição, o New York Times mostrou que o deputado mentiu sobre diversos aspectos de sua vida para atrair eleitores —do currículo acadêmico e profissional às fontes de renda e origens familiares. Santos disse ter diplomas da Universidade de Nova York e do Baruch College, apesar de nenhuma das instituições ter registro de sua frequência, e alegou ter trabalhado no Goldman Sachs e no Citigroup, o que também não foi comprovado.

O republicano também admitiu não ser judeu. Ele costumava contar uma narrativa sobre avós que emigraram da Ucrânia para o Brasil fugindo do nazismo, mas ambos nasceram no Rio.

O político ainda não conseguiu explicar em detalhes a origem da doação de ao menos US$ 600 mil (R$ 3 milhões) que fez à própria campanha. Segundo ele, o dinheiro veio de uma firma que abriu na Flórida, onde a lei determina que titulares de empresas tenham domicílio no estado. Uma análise de dados da Dun & Bradstreet estima que, até julho do ano passado, a empresa de Santos teve receita de US$ 43,6 mil (R$ 218 mil).

Depois, as investigações apontaram para um esquema mais amplo de desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro. O procurador federal, Breon Peace, disse que as acusações desta quarta buscam responsabilizar Santos por várias “deturpações descaradas”. “Em conjunto, as alegações o acusam de agir em repetidas desonestidades para chegar aos salões do Congresso e enriquecer”, disse.

No Brasil, Santos foi indiciado em 2008 por estelionato, depois de ter furtado um talão de cheques que usou para fazer compras em Niterói (RJ) —os cheques de R$ 2.144 não tinham fundos. Em janeiro, a Justiça do Rio de Janeiro reabriu uma investigação contra ele. O advogado contratado pelo deputado para defendê-lo no processo foi condenado por participar de um grupo de extermínio ligado à antiga “máfia das vans” em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Afundado em suspeitas, Santos anunciou no mês passado sua candidatura à reeleição. Em nota, o republicano, por óbvio, não mencionou as controvérsias que marcam seu histórico e descreveu-se como um “lutador” que atua com independência no Congresso americano.

Santos é apoiador de Donald Trump e foi a Manhattan em abril, quando o ex-presidente se apresentou à Justiça e se tornou o primeiro ex-presidente dos EUA réu por uma acusação criminal.