ESTADOS UNIDOS

Pastor negro é eleito na Geórgia, e democratas ficam perto de controlar Senado nos EUA

Com a vitória de Raphael Warnock na madrugada desta quarta-feira (6) e a liderança estreita…

Com a vitória de Raphael Warnock na madrugada desta quarta-feira (6) e a liderança estreita de Jon Ossof na disputa pela outra vaga no Senado americano pelo estado da Geórgia, o Partido Democrata, do presidente eleito Joe Biden, ficou mais perto de controlar o Congresso nos Estados Unidos.

Com 98% das urnas apuradas, Warnock tinha 50,6% dos votos, superando a republicana Kelly Loeffler, com 49,4%. Diversos veículos de imprensa, como a agência de notícias Associated Press e o canal CNN, projetaram a vitória do democrata, ainda que Loeffler se recusasse a reconhecer a derrota.

Já o democrata Jon Ossoff aparecia com 50,19%, pouco à frente do republicano David Perdue, com 49,81%. A maioria dos votos que ainda falta ser contada vem de regiões democratas do estado, de modo que se espera que as vantagens de Warnock e Ossoff cresçam até o fim da apuração.

Warnock, um pastor batista, torna-se não apenas o primeiro senador negro da história da Geórgia, mas também o primeiro democrata afro-americano eleito para a Casa por um estado do Sul dos EUA. O único outro negro eleito por voto popular para o Senado na região é o republicano Tim Scott, que desde 2013 representa a Carolina do Sul.

A Geórgia tem ainda um peso simbólico nesse caso, já que é o estado de dois dos mais importantes nomes da luta contra a segregação racial na história americana: o reverendo Martin Luther King Jr. (1929-1968) e o ativista e deputado democrata John Lewis, morto no ano passado.

“Irei ao Senado para trabalhar pela Geórgia inteira, não importa em quem você votou nesta eleição”, disse Warnock em uma transmissão ao vivo nas redes sociais. “Hoje nós provamos que, com esperança, com trabalho e com o povo ao nosso lado, tudo é possível,”

Diante do mau desempenho de seus candidatos na Geórgia, Donald Trump voltou a fazer alegações infundadas sobre fraude na eleição, assim como fez após sua derrota nas eleições de 3 de novembro.
“Parece que eles estão organizando um ‘despejo de votos’ contra os candidatos republicanos.

Esperando para ver quantos votos vão precisar?”, escreveu o atual presidente americano em uma rede social.

Caso as vitórias dos dois democratas na Geórgia se confirmem, Biden terá maioria nas duas Casas do Legislativo, o que facilitará a vida do novo governo nos dois primeiros anos da gestão.

Os democratas mantiveram o controle da Câmara nas eleições de novembro e contam com a vitória dupla no estado para tomar o controle do Senado. Se Perdue superar Ossof, porém, a sigla vai controlar a Casa -o que significa que Biden será obrigado a negociar com a oposição para aprovar seus projetos.

A Casa tem 100 senadores (dois por estado), sendo que atualmente 50 são republicanos e, 48, democratas (incluindo dois independentes que votam com o partido). Em caso de empate, quem tem o voto de minerva é o vice-presidente do país (que também é o presidente do Senado) -ou seja, a partir de 20 de janeiro, a democrata Kamala Harris, companheira de chapa de Biden.

Com recorde de votos antecipados, não foram registrados tumultos nem esperas prolongadas para votar. O gerente do sistema de votação da Geórgia, Gabriel Sterling, disse em suas redes sociais que o tempo médio de espera em todo o estado era de apenas um minuto.

O número recorde de eleitores que votaram antes de terça (5), por correio ou presencialmente, ajudou a evitar aglomerações, refletindo uma tendência provocada pela Covid-19 e já observada em 3 de novembro.

Quase 3,1 milhões de pessoas votaram antes do dia da eleição, cerca de 40% de todos os eleitores registrados no estado, segundo dados do US Elections Project, da Universidade da Flórida.

Os democratas foram encorajados por candidatos a optar pela votação antecipada -em novembro, muitos republicanos, estimulados por Trump, preferiram o voto presencial, com base em falsas acusações de fraude nas cédulas enviadas pelo correio.

Ossoff, Loeffler e Warnock fizeram aparições públicas nesta terça, enquanto Perdue permaneceu em isolamento após um membro de sua equipe de campanha contrair Covid-19 na última semana.

Em Atlanta, durante uma conversa com jornalistas, Ossoff disse que a população da Geórgia quer justiça para todos, alívio econômico e ajuda no combate à pandemia. “Esse é o tipo de mudança que os eleitores vêm exigindo”, disse Ossoff. Já Warnock disse a apoiadores em Atlanta que a vitória estava “ao alcance”.

À Fox News Perdue, por sua vez, afirmou que, “se não votarmos, vamos olhar para este dia e realmente lamentar o dia em que entregarmos as chaves do reino aos democratas”.

Após a eleição de novembro, a junta eleitoral da Geórgia promulgou uma regra exigindo que, para evitar atrasos, os condados comecem a processar as cédulas antecipadas uma semana antes do dia final do pleito.

As duas vagas ao Senado estão em jogo agora porque, na eleição de 3 de novembro, nenhum dos candidatos conseguiu superar os 50% dos votos no primeiro turno.​

Os valores investidos pelos dois partidos evidenciam a importância dessa disputa: US$ 404 milhões (R$ 2,13 bilhões) foram gastos na corrida entre Ossoff e Perdue, a disputa ao Senado mais cara da história dos EUA. Warnock e Loeffler ficaram com o segundo lugar: US$ 300 milhões (R$1,58 bilhão).
Biden foi o primeiro candidato democrata a vencer na Geórgia desde 1992. Ele derrotou Trump ao receber 2.473.633 votos, equivalentes a 49,5% do total. O republicano ficou com 2.461.854 (49,3%), marcando uma diferença de exatos 11.779 votos.

Nas últimas semanas, Trump fez publicações sobre o pleito na Geórgia, só que para denunciar supostas fraudes em massa que, segundo ele, roubaram sua vitória neste estado tradicionalmente republicano -ele não apresentou provas que sustentassem as acusações.

Os dois republicanos na disputa pelo Senado, inclusive, deram declarações em apoio às acusações falsas de fraudes eleitorais. Na terça, logo após o início da apuração, a campanha de Trump espalhou desinformação em mensagem de texto a apoiadores: “É verdade que as urnas eletrônicas ‘pararam de funcionar’ mais cedo na Geórgia hoje? Os democratas estão tentando ROUBAR esta eleição?”.