Trump vai ser mesmo preso na terça-feira, como disse nas redes sociais? Entenda
Ex-presidente americano denunciou, no fim de semana, que sua prisão estava próxima, e pediu que seus apoiadores protestassem nas ruas

O ex-presidente americano Donald Trump anunciou, no sábado, que deve ser preso na próxima terça-feira, instando sua base a protestar nas ruas. A declaração coincide com indícios de que a Promotoria de Manhattan está perto de transformá-lo em réu pelo envolvimento no pagamento de suborno para a atriz pornô Stormy Daniels, antes das eleições de 2016, para que ela não revelasse um caso extraconjugal que manteve com o ex-presidente uma década antes.
Direto ao ponto: por que Trump disse que pode ser preso na terça?
- Especula-se que o grupo comandado pelo promotor distrital da cidade de Nova York, Alvin Bragg, vá apresentar acusações criminais contra o ex-presidente na próximas semanas, investigação que é apenas uma das que assobram Trump e seus planos de voltar à Casa Branca em 2024;
- a investigação comandada por Bragg, em curso há cinco anos, é centrada no pagamento de US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels, para que ela não contasse à imprensa sobre seu caso extraconjugal com Trump, que remonta a 2006;
- a decisão de apresentar ou não acusações contra o ex-presidente cabe apenas a Bragg, que montou um grande júri para investigar se havia provas suficientes para iniciar um processo. O cronograma dos procedimentos judiciais ou seus detalhes não estão claros e o promotor é o único que sabe se, ou quando, uma acusação será anunciada;
- na semana passada, os advogados de Trump disseram que o ex-presidente teve a chance de comparecer perante o grande júri, o que é considerado um sinal de que a investigação está perto de terminar.
Caso Stormy Daniels
A investigação realizada por Bragg diz respeito ao pagamento de US$ 130 mil à atriz Stormy Daniels, para que ela não contasse à imprensa sobre um caso extraconjugal que teve com Trump em 2006, ano em que o magnata se casou com sua atual mulher, a modelo eslovena Melania Trump.
O dinheiro foi dado à atriz na reta final da campanha presidencial de 2016 por Michael Cohen, ex-advogado de Trump, que mais tarde foi reembolsado quando o republicano já estava na Casa Branca.
Cohen, que há anos diz que foi o ex-chefe quem o mandou pagar Daniels para silenciá-la, também deu depoimento ao grande júri sobre o caso. Ela afirma ainda que também deu dinheiro para uma outra mulher pelo mesmo motivo.
Trump será mesmo acusado?
A Promotoria de Manhattan se recusou a comentar o assunto, mas nos últimos dias diversos veículos americanos indicaram que, apesar de as acusações contra Trump serem iminentes, seus advogados ainda não foram informados sobre a data em que elas serão emitidas ou de uma possível ordem de prisão. Ao menos uma outra testemunha ainda deve depor à Justiça.
Ao New York Times, uma fonte disse que mesmo que o grande júri — que na Justiça americana pode decidir se há elementos para a abertura formal de processos — decida transformar o ex-presidente em réu, a burocracia faz com que uma prisão nesta terça seja improvável.
Mas, se Trump for de fato acusado, seus advogados indicaram que a prisão do ex-presidente seguiria o procedimento padrão. Ou seja, ele viajaria de sua casa em Mar-a-Lago, na Flórida, para comparecer ao tribunal da cidade de Nova York. Como isso jamais aconteceu nos Estados Unidos, há preocupações de segurança envolvidas, e a maneira como sua ida ao tribunal se desenrolaria é incerta. Provavelmente haveria uma negociação prévia entre o escritório do promotor e a equipe de Trump.
O que Trump disse
Em sua rede social Truth Social, o ex-presidente citou pormenores do caso no último fim de semana, e pediu que seus apoiadores fossem às ruas para defendê-lo. A retórica usada por Trump não foi muito diferente da que ele usava ao repetir as falsas acusações de fraude após a eleição de 2020.
“O principal candidato republicano e ex-presidente dos Estados Unidos será preso na terça-feira da próxima semana. Proteste, recupere nossa nação!”, escreveu Trump, em letras maiúsculas.
Na mesma postagem, o ex-presidente citou supostos vazamentos no escritório de Bragg, acusando-o de “corrupto”, mas não deixou claro como concluiu que seria detido na terça.
Duas horas depois, um porta-voz emitiu um comunicado afirmando que Trump não escreveu a postagem com conhecimento prévio sobre a prisão, acrescentando que ele “está corretamente ressaltando sua inocência e o uso do nosso sistema de justiça como arma”.
Haverá protestos?
Até o momento, há pouca evidência de que os apelos por protestos serão respondidos pelos grupos extremistas que apoiaram Trump na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Na ocasião, republicanos insuflados pelo então presidente entraram na sede do Congresso para tentar impedir a sessão conjunta que certificaria a vitória do hoje presidente Joe Biden.
“Anteriormente, disse que se Trump fosse preso ou estivesse sob risco de prisão, 100 mil patriotas deveriam fechar todas as rotas para Mar-a-Lago”, escreveu no Telegram Ali Alexander, um dos organizadores dos comícios pró-Trump após a eleição de 2020. “Eu agora estou aposentado. Mas vou rezar por ele!”
Aliados republicanos mais fervorosos como os deputados Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, e Matt Gaetz, da Flórida, não ecoaram os pedidos por manifestações. O presidente da Câmara, Kevin McCarthy, também correligionário, pediu apenas investigações sobre “perseguições motivadas politicamente”.
Bragg, por sua vez, vem mantendo contato com a polícia de Nova York e a segurança do tribunal, de acordo com uma carta ao seu departamento que vazou para a imprensa no domingo. “Não toleramos tentativas de intimidar nosso escritório ou ameaçar o estado de direito em Nova York”, escreveu.
De volta às redes
O pronunciamento de Trump no Truth Social veio um dia após a primeira postagem de Trump no Facebook e no YouTube desde que a suspensão de sua conta foi revertida.
As plataformas haviam permitido, em fevereiro, que o ex-presidente voltasse às redes, meses após ter sido banido após a invasão do Capitólio.
Disputa pela Casa Branca
Trump referiu-se a si mesmo na publicação como “o principal candidato republicano”, mas ainda não oficializou sua pré-candidatura pelo partido. Uma acusação ou mesmo uma condenação criminal não impediria Trump de continuar sua campanha se ele assim o desejasse. Mas uma hipotética prisão de Trump certamente complicaria sua disputa pela nomeação republicana no ano que vem.
Segundo o monitoramento da firma Morning Consult, ele é o favorito dentro do partido, com 52% de intenção de voto entre os filiados do partido, contra 28% do governador da Flórida, Ron DeSantis. É um sinal positivo para o ex-presidente, apesar de o processo de escolha, contudo, não ser por votação direta, mas por primárias nos estados — cada unidade federativa tem um número de delegados, que os representam na convenção partidária que confirma a candidatura.