INVESTIGAÇÃO

Diretor da PF confirma presença de autoridade com foro em caso Master 

Inquérito foi transferido à Corte depois que a PF apreendeu um documento citando o nome de um deputado federal

(O Globo) O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta segunda-feira que o encaminhamento da investigação do caso Master para o Supremo Tribunal Federal (STF) não gerou “prejuízos” às apurações que miram em supostas irregularidades cometidas pelo dono da instituição financeira, o banqueiro Daniel Vorcaro.

— Não houve nenhum prejuízo na investigação, porque foi um lado temporal curtíssimo e agora já devidamente autorizado pelo foro competente. As investigações prosseguem, análise de material aprendido e tudo aquilo que nós temos que fazer — disse Andrei, em conversa com jornalistas.

— De fato, temos tido uma cautela muito grande em todas as nossas investigações, até para evitar nulidades. A qualquer indício de investigado com prerrogativa de foro, suspendemos as investigações e enviamos ao foro competente. Neste caso, houve um achado que pode indicar a prerrogativa de foro. A partir de agora, todas as ações referentes a este caso precisam ser submetidas a esse foro, que é o Supremo — completou o diretor-geral da corporação.

Na última semana, o ministro do STF Dias Toffoli determinou que só ele poderia autorizar qualquer nova medida relacionada ao caso, como operações de busca e apreensão e quebra de sigilo de alvos da apuração, além de decretar sigilo máximo ao inquérito. O motivo alegado é que apareceu a citação a pelo menos um deputado federal em um documento apreendido pela PF.

Procurado pelo GLOBO, Bacelar explicou que atuou para constituir um fundo para construir um empreendimento imobiliário em Porto Seguro (BA), e que Vorcaro se interessou no negócio e o procurou. Segundo o deputado, no entanto, documentos chegaram a ser enviados ao banqueiro, mas não houve confirmação de negócio.

— Estive várias vezes com ele sobre esse assunto. Ele é meu amigo e falou que tinha interesse. Mas o negócio não se concretizou, porque ele disse que estava tentando salvar o banco e que essa era a prioridade no momento — afirmou.

Esse documento foi citado pela defesa de um diretor do Banco Master para deslocar a competência da investigação da Justiça Federal do Distrito Federal ao STF. Toffoli acatou ao pedido.

Investigações sobre emendas

O diretor-geral da PF também comentou nesta segunda-feira as operações envolvendo o suposto desvio de recursos de emendas parlamentares, que miram políticos com foro privilegiado.

— A atividade política não pode ser responsabilizada nem criminalizada, mas aqueles que desviarem vamos apresentar conclusões ao Poder Judiciário sem caça às bruxas, sem criminalização da política, mas com responsabilidade — disse Andrei.

Na última sexta-feira, a PF deflagrou uma operação chamada “Transparência” que apura supostas irregularidades na distribuição de emendas do chamado “Orçamento Secreto”. Uma ex-assessora do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi alvo de mandados de busca e apreensão. Lira não foi alvo desta ação.

O diretor-geral da corporação destacou que essas investigações são fruto de “denúncias” feitas pelos próprios parlamentares. Quatro deputados e um senador relataram à PF que houve direcionamento e execução suspeita dos repasses de emendas de relator.

Andrei afirmou que continua tendo um “diálogo aberto e franco” com as cúpulas do Congresso Nacional, mesmo após essas operações envolvendo as emendas.

— Eu não tenho nenhuma preocupação em relação ao diálogo que tenho com o mundo político, porque tenho a convicção e a certeza daquilo que nós estamos fazendo na Polícia Federal com correção — disse ele, complementando que considera “natural” o movimento de pressão recebido por parte de integrantes do Parlamento.

— Isso faz parte do jogo e quem não aguentar a pressão não vem ao jogo — disse Andrei.