Dólar fecha em R$ 5,43 e Bolsa despenca 4% com apoio de Bolsonaro a Flávio em 2026
Com Flávio no jogo, mercado vê enfraquecimento de Tarcísio de Freitas como candidato capaz de vencer Lula nas eleições

(Folhapress) O dólar fechou em disparada de 2,33%, cotado a R$ 5,434 nesta sexta-feira (5), após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter escolhido o filho Flávio, senador do Rio de Janeiro pelo PL, como seu candidato presidencial nas eleições de 2026. A informação foi confirmada pelo senador nesta tarde.
O efeito da notícia no mercado, segundo Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos, ocorreu por causa da percepção de que a preferência de Bolsonaro por Flávio enfraquece uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome favorito da Faria Lima para a disputa.
“Sob a ótica do mercado, Tarcísio é o candidato mais forte para bater de frente com Lula (PT) na eleição. Se Flávio é o candidato de Bolsonaro, Tarcísio não tem o apoio do ex-presidente e será um nome que dividirá a direita. É o mercado precificando a chance de uma reeleição de Lula.”
Na máxima do dia, por volta das 16h, a moeda americana atingiu R$ 5,485 (+3,30%). É o valor mais alto de fechamento desde 16 de outubro, quando a divisa encerrou o dia em R$ 5,441; na semana, a divisa teve alta de 1,86%.
A Bolsa, por outro lado, caiu 4,30%, a 157.369 pontos, apagando os recordes recentes. Na semana, o índice registrou queda de 1,07%.
O índice iniciou o dia a 164.460 pontos, permanecendo neste patamar até por volta das 13h, quando passou a cair firmemente. Na mínima do dia, por volta das 17h30, a Bolsa chegou a 157.006, queda de 4,53%.
A queda coincide com o horário em que a notícia foi publicada, de que o ex-presidente Jair Bolsonaro pretendia indicar Flávio como seu candidato em 2026.
A escolha de Flávio na disputa presidencial foi confirmada por ele em postagem nas redes sociais. “É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”, escreveu.
A forte disparada da moeda americana, na visão de Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, também tem fundamentos na valorização acumulada do real e da Bolsa brasileira nos últimos dias.
“Essas altas consecutivas da Bolsa e do real criaram um ambiente um pouco mais sensível, no qual investidores vendem ativos com mais facilidade para evitar a volatilidade. É normal que, antes de conseguir digerir o noticiário político, o mercado entre em um fluxo vendedor mais forte.”
É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação.
— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) December 5, 2025
Eu não posso, e não vou, me conformar ao ver o nosso país caminhar por um tempo de… pic.twitter.com/vBvHS7M0hJ
Há, ainda, um movimento tradicional de distribuição de dividendos no mês de dezembro que também pesa no dólar, segundo analistas.
De acordo com Daniel Teles, da Valor Investimentos, ao longo de todo o mês há saída de dólares relacionada a essas distribuições. Isso pressiona a moeda porque parte dos recursos é enviada ao exterior.
“Essa transferência de recursos para fora —empresas distribuindo dividendos a seus sócios, que remetem parte ao exterior— costuma ser mais intensa em dezembro”, afirma.
Segundo João Daronco, analista da Suno Research, embora o efeito Flávio seja o principal fator do pregão, o impacto da tributação pode ganhar força nas próximas semanas.
Em oposição, o fluxo de capital estrangeiro tem impulsionado a Bolsa recentemente, com a participação desses investidores chegando a 58,9% em novembro deste ano, totalizando R$ 546 bilhões investidos.
Segundo Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, “há uma migração de capital saindo dos Estados Unidos com os cortes de juros que estão ocorrendo por lá e fluindo para as bolsas emergentes”
Ele vê movimento pela alta do Ibovespa continuar, apesar do forte recuo desta sexta. “Qualquer capital que entra faz a Bolsa subir muito rapidamente”, diz
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Antes disso, os investidores avaliavam o PCE, indicador americano favorito do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) para medir a trajetória da inflação nos EUA.
O relatório mostrou que os gastos dos consumidores tiveram leve alta em setembro, sugerindo uma perda de ímpeto na economia no final do terceiro trimestre.
O avanço foi de 0,3%, em linha com as estimativas de economistas ouvidos pela Reuters. O aumento dos gastos do consumidor, que respondem por mais de dois terços da atividade econômica, se soma à perda de ímpeto do mercado de trabalho e à alta no custo de vida dos norte-americanos.
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O relatório foi “benigno”, na visão de Zogbi, e “deixa as portas abertas para um corte na taxa de juros” do Fed na quarta-feira que vem (10).
Ele, no entanto, é datado de três meses atrás —o “shutdown” do governo norte-americano freou leituras a partir de agosto, e, com a retomada das atividades, as agências federais estão fazendo divulgações retroativas. Por isso, “pode pesar pouco na decisão da semana que vem”, diz Zogbi.
As apostas, segundo a ferramenta FedWatch, estão concentradas em uma nova redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica, com probabilidade de 87,2%. Os 12,8% restantes veem como mais provável uma manutenção do atual patamar de 3,75% e 4%.
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Os agentes se valem de uma série de dados de inflação e do mercado de trabalho para calibrar as apostas sobre os juros. Na quinta, por exemplo, o Departamento do Trabalho divulgou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego estaduais somaram 191 mil na semana encerrada em 29 de novembro, ante expectativa de 220 mil de economistas consultados pela Reuters.
É o nível mais baixo desde setembro de 2022, o que sugere que o desempenho do mercado de trabalho americano não está tão fraco. Na quarta, porém, um relatório de emprego da ADP referente a novembro mostrou que o setor privado teve a maior queda em mais de dois anos e meio durante o mês. Foram fechados 32 mil postos de trabalho em novembro, ante estimativa de economistas consultados de abertura de 10 mil postos de trabalho.
Para João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos, os números surpreenderam negativamente. “É uma queda bastante acentuada no número de empregos. O dado revela de que talvez haja um enfraquecimento um pouco maior do que o esperado nos EUA”, afirma.
Diante de dados mistos, a decisão do Fed promete ser dividida —ainda mais ao se considerar que outros relatórios importantes ainda não foram divulgados por causa do shutdown. O “payroll”, que avalia o estado do mercado de trabalho, está defasado e só será atualizado em 16 de dezembro, ou seja, após a reunião da autoridade norte-americana.
O Banco Central brasileiro também decide sobre a taxa Selic nos mesmos dias que o Fed, mas aqui os operadores estão em consenso: o mercado precifica quase 100% de probabilidade de manutenção dos juros em 15%.
O BC passou a defender juros contracionistas por “período bastante prolongado” em junho deste ano, quando fez sua última elevação da Selic.
No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real, e o inverso também vale.
Quando a taxa por lá cai —como ocorreu nas últimas reuniões do Fed— e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”.
Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.